segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Resenha Crítica | Lady Macbeth (2016)


Lady Macbeth, de William Oldroyd
Muitos podem deduzir que William Oldroyd, a partir do texto de Alice Birch, está criando a sua versão feminina da tragédia de William Shakespeare em “Lady Macbeth”. Mas tal releitura é um mérito do escritor russo Nikolai Leskov, que em 1865 publicou na revista Epokha “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk”, hoje podendo ser encontrada em versão de curto romance em edição da Editora 34.
A intenção de Leskov é respeitada no primeiro longa-metragem de ficção de Oldroyd. Muito mais do que acompanhar o processo de conversão de Katherine (interpretada por Florence Pugh) de uma jovem pura para uma adulta fria e calculista, há o diagnóstico de um ambiente hostil responsável por essa transição, encarando as mulheres como meras serviçais ou esposas objetificadas.
No caso de Katherine, o seu lado diabólico é despertado quando surgem as brechas para escapar de uma rotina silenciosa em que não é satisfeita sexualmente pelo marido que a comprou, Alexander (Paul Hilton), ou tem o espartilho severamente atado em seu corpo pela empregada Anna (Naomi Ackie, excelente).
Tais gatilhos são ativados principalmente pela relação que desenvolve não tão secretamente com Sebastian (Cosmo Jarvis), também um empregado pelo qual se apaixona perdidamente. É com ele que Katherine  desperta os seus instintos mais primitivos, aos poucos conspirando contra aqueles que a rodeiam para controlar sozinha os bens da propriedade de Alexander.
A melhor escolha de William Oldroyd é a de entregar um filme de época rústico, com uma câmera na mão que abole as glamourizações que estamos habituados em contemplar em adaptações desse segmento. Muito pode ser dito também sobre o uso econômico da música de Dan Jones para o som diegético exercer maior papel dramático, dos respiros instáveis ao ruído do assoalho.
O que mais surpreende, no entanto, é a convicção com a qual Florence Pugh vive uma personagem tão complexa. Com dois créditos na tevê e somente um no cinema, a inglesa sabe quais os limites respeitar para que Katherine não se corrompa ao nível de se limitar a uma mera vilã desprezível. E isso acontece porque a sua Katherine está em perfeita sintonia com a crueza de uma realidade que passa a retrucar na mesma moeda.
Data:
Filme:
Lady Macbeth
Avaliação:
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