14 Estações de Maria (Kreuzweg)
Kreuzweg, de Dietrich Brüggemann 
As instituições religiosas estão longe de entrar em falência, como ilustra a enorme representatividade de devotos em inúmeros países. Ainda assim, as denúncias de abusos não cessam, sendo crescente o número de vítimas que preferem expor publicamente o que sofreram ao invés de se silenciarem. Isso é patente em “Spotlight – Segredos Revelados”, que deve levar em 26 de fevereiro o Oscar de Melhor Filme.
Uma perspectiva diferente e mais intimista pode ser apreciada em “14 Estações de Maria”, o quinto longa-metragem do cineasta alemão Dietrich Brüggemann e o primeiro a receber lançamento no Brasil. Em sua história, temos catorze planos-sequências que ilustram a via crúcis imaginária de Maria (Lea van Acken) uma adolescente totalmente alienada quanto a sua função como ser humano devido a forte influência que o catolicismo exerce sobre a sua vida.
Além das distorções como aprendizado em um grupo de jovens da igreja, Maria ainda é constantemente penalizada por sua mãe (Franziska Weisz, assustadora), que se apropria da fé espiritual para assumir o papel de autoridade do lar – o patriarca, interpretado por Michael Kamp, não a desafia com qualquer palavra. Tendo um irmão caçula (Georg Wesch) que parou de falar, Maria interrompe a sua alimentação como um sacrifício cristão para que ele se cure milagrosamente.
Em registro seco, “14 Estações de Maria” não consola a sua protagonista nem mesmo nos contatos com duas pessoas que lhe proporcionam uma visão de mundo distinta, como Bernadette (Lucie Aron), intercambista que vive em seu lar, e Christian (Moritz Knapp), um colega de escola que se aproxima sem segundas intenções. São interações que tumultuam o seu raciocínio, cada vez mais inclinado às crenças.
Dietrich Brüggemann adota uma câmera fixa que encarcera uma Maria a cada capítulo mais frágil. Trata-se de um método sufocante e, acima de tudo, sutil para emitir um comentário mordaz sobre os perigos da repressão religiosa em indivíduos ainda em processo de construção da própria identidade. Acompanha um cotidiano nu e cru e, ao final, recorre à grua, que definitivamente não serve como licença poética para santificar Maria.