Amor em Sampa
Amor em Sampa, de Carlos Alberto Riccelli e Kim Riccelli
Com as carreiras consolidadas na televisão, Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi passaram a rever as prioridades artísticas ao realizar juntos “Stress, Orgasms, and Salvation”, produção americana de 2005 inédita no Brasil. Desde então, têm se dedicado ao cinema, com Riccelli geralmente assumindo a direção enquanto Bruna se encarrega do roteiro e assume o papel principal.
Respectivamente com 69 e 63 anos, Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi são um casal perfeito, ainda preservando o charme e uma sintonia muito especial nos trabalhos em conjunto. No entanto, o quarto longa-metragem do casal, “Amor em Sampa”, é uma evidência de que uma regressão está ocorrendo, obtendo resultados estranhos para uma parceria que se consolidou tão bem com “O Signo da Cidade”.
Se “Onde Está a Felicidade?” já foi um desapontamento ao sequer responder satisfatoriamente a questão que levanta em seu próprio título, “Amor em Sampa” pretende ser uma declaração de amor à Terra da Garoa sem ir além de seus cartões-postais óbvios. Digamos que a homenagem é tão coerente com a nossa realidade quanto a gafe protagonizada por Mariana Lima, que canta as suas dores na estação Alto do Ipiranga à 1h51 da madrugada, horário em que a Linha Verde já está fechada para os passageiros.
Pode-se dizer que “Amor em Sampa” é uma resposta mais descompromissada a “O Signo da Cidade”, abafando o drama para privilegiar a comédia e o musical. Como o taxista Cosmo, Carlos Alberto Riccelli é não apenas o pivô de uma história coral, mas também o melhor que ela tem a oferecer. A franqueza de sua interpretação compensa a incoerência de seu papel, um homem que tem como maior prazer visualizar as maravilhas de São Paulo e ouvir as suas histórias anônimas a partir dos passageiros que conduz.
O restante é representado por estereótipos. Como Aniz (Bruna Lombardi) a mulher bem-sucedida desiludida com o amor mesmo quando ele lhe dá uma nova chance nas formas de Lucas (Eduardo Moscovis). Há também Mauro (Rodrigo Lombardi), publicitário que insiste em promover em tempos de crise campanhas que extraem o melhor das pessoas e dos cenários que transitam, apaixonando-se no meio do processo por Tutti, a personagem de Mariana Lima. Marcello Airoldi e Tiago Abravanel são o casal que ainda não assumiu a relação para os colegas de trabalho.
Temos mais personagens secundários importantes para o curso da história. Mabel e Carol (Letícia Colin e Bianca Müller) são as melhores amigas que entram em colapso ao darem bola para Matheus (Kim Riccelli, filho de Carlos e Bruna e codiretor do filme), um diretor de teatro mulherengo. Completam o painel Lara (Miá Mello), a namorada de Cosmo que está mais interessada em um bom partido para levar uma vida de privilégios, e Ceição (Michele Mara, a única cantora profissional do elenco), uma empregada com uma voz poderosa.
Resolvendo todos os núcleos do modo mais simplório possível, “Amor em Sampa” é também uma prova de que ainda não descobrimos a fórmula para elaborar bons números musicais, com letras que não inserem qualquer camada nos personagens e uma ausência de coreografias e exploração de espaços que só ampliam a apatia. Restou o amor por São Paulo, que termina enclausurado em agências publicitárias e apartamentos no último andar de hotéis de luxo

fonte: http://cineresenhas.com.br/2016/02/24/resenha-critica-amor-em-sampa-2016/