Room, de Lenny Abrahamson 
No início de “O Quarto de Jack”, temos uma jovem (Brie Larson) e o seu filho Jack (Jacob Tremblay) confinados em um quarto sem janelas e com uma porta somente destravada com o dígito correto de seu segredo. Somente uma claraboia permite a passagem de luz e todos os cômodos de uma residência, como a cozinha e o banheiro, estão compactados neste ambiente com aproximadamente cinco metros quadrados.
A sutileza em como esse minúsculo cenário é explorado, bem como os personagens que ele habitam, já sugere o que é preciso saber sem que isso precise ser claramente verbalizado. Há aqui uma mulher vítima de um sequestro sem solução, suportando há sete anos um cativeiro com um filho que acaba de completar cinco. O único contato com o mundo exterior é uma televisão que perturba a imaginação de Jack, bem como o Velho Nick (Sean Bridgers), o responsável pelo cárcere.
Cineasta irlandês, Lenny Abrahamson parece ter se renovado em “O Quarto de Jack” em comparação ao mediano “Frank”. Principalmente ao confiar em Emma Donoghue para adaptar o seu próprio romance, “Quarto”, publicado no Brasil pela editora Verus. Toda a descrição necessária à literatura é suprimida para atender a uma linguagem que prima por estratégias para enriquecer personagens e os recursos visuais que o contexto permite.
Dito isso, Abrahamson consegue criar em “O Quarto de Jack” dois momentos que se correspondem a partir de divergências. Um universo de possibilidades foi criado na convivência solitária no “quarto” enquanto o “mundo lá fora” sufoca, gera grandes proporções a explosões emocionais que surgem com o trauma e a dificuldade de readaptação.
É preciso um elenco exemplar para dar conta desse turbilhão de contradições. É o que se vê em William H. Macy como um avô que se nega a reconhecer o seu neto, em Joan Allen em preservar a gentileza que de algum modo condenou a sua filha e em Brie Larson, quase tão intensa quanto em “Temporário 12”, ao comprovar que o papel de mãe é um pilar que precisa sustentar mesmo diante de sua ruína.
Ainda assim, é o pequeno Jacob Tremblay quem realmente move “O Quarto de Jack”. A sua vulnerabilidade, a princípio preservada com o colo materno, os óculos escuros e as máscaras, aos poucos dá lugar para aquela curiosidade de quem está assimilando novos códigos e as novas figuras que o rondarão. É na inocência de Jack que esta versão ficcional de tantas histórias reais consegue reascender aquela luz de esperança tão necessária após uma tragédia pessoal tão difícil de desvincular.