Regressão (Regression)
Regression, de Alejandro Amenábar
Não é preciso consultar declarações ou entrevistas do diretor chileno Alejandro Amenábar para saber de sua descrença em qualquer religião ou poder divino. A sua obra, que inclui “Os Outros”, “Mar Adentro” e “Alexandria”, já deixa esse dado particular bem explícito, ainda mais por Amenábar ser um exemplo notável de autor. Ainda assim, converter essa curiosidade em fio condutor de uma carreira artística não é uma escolha saudável e “Regressão” vem não somente para expor uma fase de crise criativa, como também para arranhar a reputação de uma filmografia até então impecável.
Tenta-se explicar sem cair nos desagradáveis spoilers: estamos aqui no campo da história baseada em fatos, que questiona o divino e o profano em meio a uma investigação criminal. A autoridade é Bruce Kenner (Ethan Hawke), um detetive incumbido de prender John Gray (David Dencik), acusado de estuprar a própria filha, Angela (Emma Watson, ruim).
Devido a calamidade da situação, Angela demora a se pronunciar, mas encontra em Bruce alguém confiável para compartilhar os detalhes obscuros de sua denúncia. Mais do que a sordidez de sua família, Angela afirma existir um ritual satânico formato por uma série de anônimos que habitam a cidade, acrescentando inclusive o sacrifício de recém-nascidos.
Mais do que estampar o cartaz em um ponto de ônibus, os integrantes da banda “Behemoth” parecem fazer figuração em “Regressão” em imagens perturbadoras (risíveis?) que tomam a imaginação dos personagens. É o único elemento aterrador preparado por Alejandro Amenábar, mais preocupado com o modo como o seu protagonista cético passa a usar um crucifixo e uma bíblia como amuletos contra  os fenômenos que o assolam.
Com um final que poderá surpreender os desavisados, “Regressão” até resultaria em um interessante estudo sobre como a nossa imaginação é capaz de nos pregar peças quando nos vemos absorvidos por questões que parecem desafiar a nossa racionalidade. É a intenção de Alejandro Amenábar provocar esse efeito, mas o tratamento que confere a tudo é tão infantil que é inevitável não questionar o propósito desse seu novo manifesto.