1001 Gram, de Bent Hamer
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
O cinema de Bent Hamer faz valer a reputação da Noruega como aquele que talvez seja o país mais pacífico que existe. Em “1001 Gramas”, o diretor e roteirista volta a se mover com aquela leveza que testemunhamos previamente em títulos como “Caro Sr. Horten”, bem como o sentimento de que a melhor coisa a se fazer diante de adversidades é se abrir para as possibilidades que a vida nos abre com muita simplicidade.
A premissa de “1001 Gramas” é bem inusitada ao acompanhar a “rotina” de cientistas que participam de seminários que reúnem representantes de diversos países para discutir qual é o peso real de um quilo. O ponto de encontro é em Paris e a protagonista é Marie (Ane Dahl Torp), norueguesa que segue um roteiro profissional e pessoal insípido e que só reencontra a vivacidade nas visitas à fazenda de seu pai, Ernst (Stein Winge).
A viagem proporciona à Marie alguns desequilíbrios que a fazem rumar para uma mudança interior. O primeiro é motivado por um acidente que pode descalibrar o protótipo do quilo oficial da Noruega que carrega em uma mala de viagem. O segundo é o modo como ela se comporta diante da disponibilidade do francês Pi (Laurent Stocker) em lhe servir como uma companhia realmente agradável. Por fim, há a decisão de como seguir em frente diante do vazio deixado por uma perda insubstituível.
Mais do que a presença apática de Ane Dahl Torp, “1001 Gramas” é comprometido pela obviedade das metáforas geradas a partir de uma profissão nada usual de se ver registrada na ficção. Meia hora se passa e já somos entupidos com questionamentos como “qual é o peso da alma?” e quais sentimentos devem ser adicionados ou removidos de uma balança. Talvez faça falta a Bent Hamer a amargura de um Charles Bukowski, autor que lhe possibilitou “Factotum – Sem Destino”, aquele que é de longe o seu melhor filme.