Ich seh ich seh, de Severin Fiala e Veronika Franz
Representante da Áustria ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na última edição da premiação americana, “Boa Noite, Mamãe” se aproveita dessa distinção para conseguir uma chance em nosso circuito. Trata-se de um raro exemplar de horror vindo da terra de Michael Haneke. O diretor de “Violência Gratuita” já flertou com o gênero, mas não de modo explícito quanto a dupla Severin Fiala e Veronika Franz, ambos até então mais afeitos a documentários e curtas-metragens.
O roteiro defende a máxima do “menos é mais”. Uma bela mansão situada entre uma floresta e um milharal é o único cenário da narrativa, desenvolvida a partir da perspectiva de dois irmãos gêmeos, Lukas (Lukas Schwarz) e Elias (Elias Schwarz). Interpretada pela excelente Susanne Wuest, a mãe deles é a terceira e última personagem de relevância para a evolução do terror.
Wuest é vista com faixas cobrindo a sua face desconstruída, dando ao seu papel maternal um tom de imposição, daquele que nos fazem temer por suas ações ao ser contrariada. As exigências de silêncio para que possa repousar e se recuperar ampliam o nível de curiosidade de Lukas e Elias, cada vez mais afoitos em explorar os cômodos e entornos da residência em que vivem com o propósito de elucidarem os mistérios sobre a própria mãe.
Com somente esses recursos em mãos, Severin Fiala e Veronika Franz têm liberdade de sobra para concentrar os seus talentos na ambientação. Em alguns momentos, parece que estamos diante de um thriller psicológico. Em outros, alguns elementos sobrenaturais se manifestam. Ainda assim, por mais que isso adie os palpites quanto à resolução do mistério, “Boa Noite, Mamãe” resulta previsível ao não trazer novas possibilidades a essa velha premissa sobre duplos.
Diante da ressalva, o filme consegue se redimir mantendo as virtudes da primeira metade ao passo que potencializa o “jogo” que encera na segunda, com um grau altíssimo de perversidade que corresponde fielmente às fantasias infantis de violência como uma moeda de troca para obter respostas, o que inclui super cola e lupa contra a luz solar como instrumentos de tortura. Eis um caso de um feito que vale muito mais pelo seu empenho gradativo em obter um clima desconfortável do que pela surpresa que ele carrega.
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