quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

LACRIMOSA – HOFFNUNG (2015)

lacrimosa_hoffnung_cover
A banda consegue seus melhores resultados quando consegue equilibrar os elementos sinfônicos com o instrumental metaleiro
Lucas Scaliza
Hoffnung, o novo disco da dupla Lacrimosa, tem uma belíssima abertura com “Mondfeuer”. Com 15 minutos de duração, é lenta e arrastadíssima. Leva oito minutos para que Tilo Wolff mostre seu vocal. A princípio, a música é uma orquestração gótica com ares épicos. Minutos depois, as guitarras assumem o protagonismo. A faixa tem ótimos arranjos de teclado, sempre emulando uma orquestra. O vocal não se desvia um milímetro da proposta original e se mantém grave, sem nenhum sobressalto, como se esgueirasse pelas sombras da composição. Diferente de “Kaleidoskop”, que logo depois já apresenta as guitarras e baterias mais diretas e aceleradas, assim como a voz de Anne Nurmi.
O alemão Tilo Wolff divide as composições e os vocais das músicas com a cantora e tecladista finlandesa Anne Nurmi. Embora hoje morem na Suíça, a banda Lacrimosa foi formada na Alemanha no início dos anos 90, em meio a uma ebulição de outras bandas sombrias que foram reunidas debaixo de um rótulo guarda-chuva conhecido como neue deustch todenkust (nova arte da morte além, em tradução livre). Com o passar do tempo o Lacrimosa foi sendo rotulado mais coerentemente como rock/metal gótico.
Lacrimosa-2015
O estilo da banda se sobrepõe a qualquer ideia ou conceito de seus álbuns. Utilizam elementos do rock e do metal europeu como base para todas as composições, mas o trunfo da dupla está na utilização de orquestrações. Embora baixo, guitarra e bateria desempenhem um papel importante no resultado final de cada gravação, as composições de Wolff e Nurmi são relativamente simples, deixando para os instrumentos clássicos de sopro e cordas a função de florear e embelezar cada faixa. Não por acaso, é uma reconhecida banda do metal sinfônico europeu.
Hoffnung é o 12º álbum de estúdio da dupla e toma pouquíssimos desvios do que a banda já vinha fazendo nos últimos anos. Portanto, pode esperar por boas músicas sim, mas nada surpreendente e nada que leve o Lacrimosa para um novo patamar de importância e atenção no mercado do heavy metal. Revolution (2012), o disco anterior, é muito mais muscular em termos de metal do que o atual trabalho.
“Unterwelt”, simples, direta e distorcida, é uma das músicas que menos se escoram na orquestração, preferindo se mostrar como um quase power metal. O mesmo se pode dizer de “Der Kelch Der Hoffnung”, uma faixa que desce fácil, fácil e não enrola. É como aqueles singlesdo Nightwish que usam sinfonias simples para criar música pop com roupagem metaleira. Bastante acessível é também “Thunder and Lightning”, faixa comandada pela voz da contralto Nurmi em que as orquestrações no refrão abafam completamente qualquer harmonia feita pela banda de rock.
O Lacrimosa brilha mais forte quando é mais barroco, como em “Die Unbekannt Farbe”. Wolff atinge impressionantes e cavernosas notas graves logo no início da canção. E como se fosse saindo da escuridão para um ambiente um pouco mais iluminado, mas ainda noturno, a faixa ganha corpo equilibrando muito bem as linhas sinfônicas com o instrumental roqueiro. Já “Tränen Der Liebe” depende quase que exclusivamente de um órgão para demonstrar sua gravidade. É expressiva, mas não chega a empolgar.
A teatralidade e obscuridade de “Der Freie Fall (Apeiron, Pt. 1)” e “Apeiron (Der Freie Fall, Pt. 2)” constituem os melhores momentos de Hoffnung. Densas e com funções bem divididas entre a banda de rock e os teclados, com mudanças rítmicas e melodias que vão se transformando para manter o ouvinte sempre interessado. São em faixas assim que a relativa simplicidade das composições se evidencia de modo mais positivo: sem precisar de compassos quebrados e alternados ou de virtuosismo na guitarra ou no violino, constroem músicas que funcionam muito bem dentro do estilo utilizando todos os elementos que fazem do Lacrimosa o que a banda é. “Apeiron (Pt. 2)” é mais contida que sua irmã “Der Freire Fall (Pt. 1)” e não aproveita tão bem seus nove minutos para propor tantas partes diferentes, mas mesmo assim é um encerramento digno do álbum.
Das 10 músicas do álbum, apenas uma é cantada em inglês. O alemão ainda é a língua da banda e, talvez, sua barreira para alcançar novos públicos, visto que a maior parte das bandas de metal europeias (sejam escandinavasitalianasalemãsfinlandesas ou até mesmo portuguesas) tendem a usar o inglês. Contudo, assim como o Rammstein, isso é um diferencial da dupla. A música que eles produzem hoje já não parece tão única como há 20 anos e, mesmo assim, é uma sonoridade de nicho. Esse nicho provavelmente admira o fato de poder ouvir músicas melodiosas e tristes em uma língua que não seja o inglês.
Não dá para dizer que Hoffnung atesta que a criatividade de Wolff e Nurmi estejam no ápice. Seria muita ingenuidade ou muita falta de referências afirmar algo assim (embora há quem afirme, já que há quem defenda a genialidade do lado alemão do duo). Eles parecem continuar a surfar na onda do rock gótico e fazem isso muito bem, sem se afastar muito da praia, em águas profundas, sim, mas livres de tubarões.
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