terça-feira, 8 de dezembro de 2015

GAME OF THRONES 5ª TEMPORADA – A TRILHA SONORA

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Trilha de Game Of Thrones supera a de muitos filmes ao misturar referências culturais para criar a música de um mundo novo
A série Game Of Thrones vai chegando a sua 6ª temporada podendo se gabar de ter uma caprichada trilha sonora original. Em muitos casos, melhor do que a trilha de muitos filmes de ação e épicos recentes. A criatividade do compositor Ramin Djawabi (alemão de origem iraquiana) resultou em uma trilha exuberante para a 5ª temporada do seriado que acompanhou muito bem as cenas para as quais cada faixa foi criada e que ainda carregam a força e a emoção original quando apreciadas sozinhas.
A temporada apresentou momentos de tensão (como a batalha de Hardhome e o ataque dos Filhos da Harpia), de deslumbramento (como o primeiro voo de Daenerys em Drogon), de voyeurismo (a caminhada da vergonha de Cersei Lannister por Porto Real) e claro que houve cenas de crueldade (como a morte de Shireen). E para cada um desses momentos icônicos, uma faixa especial foi preparada e lançada no álbum da trilha da série.
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Enquanto mundo fantástico criado por George R. R. Martin para os livros Crônicas de Gelo e Fogoe transportado para as telas pelo produtores David Benioff e D. B. Weiss, é muito fácil prever que a trilha sonora faria uma utilização pesada da música clássica e sinfônica (o que faz mesmo). Mas Djawabi conseguiu contornar a música medieval, abrindo mão dessa referência mais óbvia, para abraçar uma mistura de temas épicos com regionalidades imaginadas especificamente para a série, que é rodada em diferentes países, possui um elenco multicultural e a própria trama ocorre em lugares culturalmente diversos. Dessa forma, o compositor vem conseguindo, temporada após temporada, criar um repertório de músicas interessantes e de estilos diversos (elegias, melancólicas, marchas militares, tribais, sinfonias triunfantes, trilha de ação) que não raro apresentam ideias superiores às utilizadas no cinema.
O que faz das músicas de Game Of Thrones algo notável é a mistura de referências culturais que Djawabi usa para criar os sons de um mundo imaginário que ganha vida nas telas e, dos figurinos ao dialeto e costumes, representam uma nova cultura que só existe ali, na produção audiovisual das Crônicas. Ao criar a música de um novo país, o compositor tenta não usar apenas elementos de uma determinada região do planeta. Ele mistura as referências, como instrumentos do Oriente Médio, percussão europeia ou do sul da África, criando uma nova mistura nova. Depois que ele encontra as misturas corretas, mantém aqueles sons sempre que precisar criar uma nova trilha para aquela região do mundo. “Assim Dorne e Braavos sempre terão sons específicos”, diz Djawadi.
Ele também tenta interpretar o que os personagens significam. A família Bolton possui um tema musical específico, mas Ramsay Bolton é tão escroto que o compositor precisou criar uma música específica para as cenas que são só dele. A faixa de Bolton é mais abstrata, com notas deslizantes que nunca se mantém numa mesma altura, confundindo a harmonia geral da peça. “Acho que isso te deixa desconfortável de verdade”, diz Djawadi.
A trilha da 5ª temporada possui 18 canções. Falaremos sobre elas de acordo com os episódios e cenas em que aparecem. Se ainda não viu a temporada, encontrará spoilers.
Episódio 1: Wars To Come
O primeiro episódio da temporada possui uma das músicas mais bonitas da trilha. “Kneel For No Man” é tocada quando Mance Rayder é queimado vivo pelas tropas de Stannis Baratheon e da Patrulha da Noite, até que Jon Snow atira uma flecha em seu coração. Coerentemente, a faixa traz uma referência a “Warrior of Light”, a música tema de Stannis e Melisandre. Lenta e grave, vai ganhando volume aos poucos, conforme novos instrumentos vão dando corpo à música, desenvolvendo seu tema até transformá-lo em algo forte e poderoso.
“Atonement” é uma variação menos folk e mais lamentosa do conhecido tema “The Rains of Castamere”. Ela toca enquanto Cersei e Jamie discutem ao lado do caixão de Tywin. Uma peça sinfônica bastante séria, mas fluida, com seções bastante limpas de cordas e sopros.
Episódio 2: The House Of Black and White
A faixa “House of Black and White” acompanha Arya em Braavos ao longo da temporada e de sua estadia na Casa do Preto e Branco. Como já notaram, a primeira parte da música é uma variação do comecinho de “Winter Is Coming”, apresentada na primeira temporada de Game of Thrones. Assim como a Casa do Preto e Branco é escura, dura e misteriosa, essa música mantém o clipe de mistério em cada nota de sua partitura. De sua metade para o final, a faixa se transforma e torna-se menos arrastada, com um arpejo repetitivo em 5/4 enquanto sons mais etéreos complementam o restante dos arranjos. A citação de “Winter Is Coming”, na metade da faixa, é o único momento em que “House of Black and White” perde os lastros com algo mais misterioso e de natureza dúbia.
As músicas temas de Arya e Jaqen H’ghar também serviram de ponto de partida para essa música com o objetivo de pontuar muito bem a cena em que Arya entra pela primeira vez no Salão das Faces.
“Jaws of the Viper” toca quando Jamie e Cersei recebem o pingente de Myrcella, filha dos irmãos, nas mandíbulas de uma serpente. Ao longo de seu primeiro minuto, um violino sola tristemente. De repente, a faixa ganha contornos mais ameaçadores, a percussão imitando um chocalho de cascavel e instrumentos de corda e percussão do Oriente Médio começam a temperar a faixa com os ritmos de Dorne.
“Blood of the Dragon” é executada no encerramento do episódio. Apesar da importância dada a ela, é uma variação de “Breaker of Chains”, da quarta temporada, e “Finale”, da primeira. É uma composição que coloca muita ênfase em seu ritmo. Não só a percussão, mas os violinos também contribuem para a marcação do pulsante compasso em 3/4. Se de “Breaker of Chains” essa faixa traz a melodia, de “Finale” ela empresta o tema em Dó Menor que abre a música de abertura da série.
Episódio 3: High Sparrow
“Kill The Boy”, tocada quando Jon Snow executa Janos Slynt, é uma variação mais acelerada de “Pay The Iron Price”, da segunda temporada, e o tema da Patrulha da Noite. Embora a música apareça no terceiro episódio, seu título também nomeia o quinto episódio e vem de uma frase de meister Aemon para Snow: “Mate o garoto e deixe o homem nascer”. A faixa mantém a percussão expressando força, os violinos ditam o ritmo e dão a sensação ameaçadora sempre repetindo a mesma frase, mas variando o acorde, enquanto os sopros aumentam a pressão e a intensidade da música.
A cena da decapitação de Janos Slynt deixou o público em dúvida se Snow realmente iria cometer o ato, assim como Daenerys quando ordena a morte de Mossador na mesma temporada, mesmo sob protesto de seus aconselhadores. Em ambos os casos, a incerteza que pairava no ar, sentimento ressaltado pela trilha, foi proposital. Ramin Djawabi não queria que a música desse qualquer indicação de qual seria a decisão dos personagens.
“High Sparrow” torna-se a música tema do Alto Septão, sendo ouvida sempre que há uma cena com o personagem e seus asseclas religiosos. Mais convencional, usa percussão trovejante aliada a corais graves para criar uma canção pesada. A mixagem enaltece uma espécie de violino que surge quando a bateria e o coro arrefecem, fazendo a melodia lúgubre e cortante pular de um falante para o outro, criando uma sensação de estranhamento.
Episódio 4: Sons of the Harpy
Como o nome indica, “Sons of the Harpy” é a música executada durante a batalha entre a guarda de Daenerys e os insurgentes Filhos da Harpia em Mereen. Este tema faz citação e varia a música tema de Daenery, “Mhysa”, da terceira temporada. A voz que permeia essa música soa como chicotadas. Faixa com elementos interessantes: algumas melodias que poderíamos associar ao Oriente, enquanto a percussão é africana e a sinfonia resgata a aridez do local em que se passa a cena. O coral responsável pelas vozes é o mesmo que entoa o cântico religioso de “High Sparrow”.
Episódio 5: Kill The Boy
Nenhuma música nova.
Episódio 6: Unbowed, Unbent, Unbroken
“Before The Old Gods” é uma variação do tema de casamento “I Am Hers, She Is Mine”, da segunda temporada, mas em outro contexto, mais ao Norte de Westeros, e mais sombrio também. A música toca durante o casamento de Sansa com Ramsay Bolton. A primeira versão tem mais cores e mais luz. Se o casamento de Sansa não tem nada de romântico, cômodo ou feliz, a trilha de “Before The Old Gods” faz questão de ressaltar a frieza do momento e tira de cena qualquer luz de esperança. Não é uma comemoração, soa mais como um funeral.
Episódio 7: The Gift
“I Dreamt I Was Old”, com uma versão tristonha da música tema da Patrulha da Noite, é o lamento pela morte de Meistre Aemon. O nome da composição é também a sua última fala na série, antes de falecer.
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Episódio 8: Hardhome
“Hardhome Part 1” e “Hardhome Part 2”, duas das melhores canções da temporada, acompanham o intenso embate entre o povo livre que estão além da Muralha e os Caminhantes Brancos e seu exército de zumbis. O episódio é de tirar o fôlego e ambas as faixas cumprem muito bem a função de apresentar uma trilha de ação e guerra pesada, com percussão forte e clima de tensão incessante. Ainda que possuam alguns trechos mais abstratos entre uma seção e outra, o que combina com a natureza sobrenatural da ameaça, as duas “Hardhome” são bastante duras e usam citações de outras músicas já apresentadas em temporadas passadas, como “Let’s Kill Some Crows” e variações do tema de abertura. O final da segunda parte de “Hardhome” é enervante.
Djawabi diz que foi particularmente difícil criar as trilhas para essas cenas de batalha. Ele queria combinar o caos do momento sem precisar mudar a sensação musical cada vez que a cena mudava. “Tive que esboçar os 15 minutos inteiros antes de começar a finalizar, pois tinha que ver onde iria chegar com isso”, diz. Ele resolveu a situação criando uma trilha que aparece quando há confronto e que desparece ou quando a cena se volta para outros acontecimentos que não são batalhas diretas. Quando os Caminhantes Brancos são avistados por Jon Snow no alto da montanha, é quando “Hardhome Part 1” ganha seu primeiro lampejo mais sinistro. O silêncio predomina quando Snow enfrenta sozinho o Caminhante Branco.
Episódio 9: The Dance of Dragons
“Jaws of the Viper” volta a aparecer quando Ellaria firma uma aliança com Doran, governante de Dorne, já indicando o perigo oculto por trás dos atos e palavras de Ellaria.
Apesar do nome, “Forgive Me” não é a mesma música que está na trilha da 4ª temporada. Essa é tocada quando Shireen é levada a pira e Melisandre a sacrifica com fogo. Assim como o estupro de Sansa, é uma das cenas mais revoltantes da temporada. Embora seja uma música elegíaca, assume contornos mais gentis de sua metade para a frente. Assim como “Atonement”, são músicas que vem carregadas de sentimento para acompanhar o drama que vemos na tela, mas diferente do que muitos filmes fazem, Ramin Djawadi raramente recorre a melodias exacerbadamente dramáticas ou melodramáticas. Há certa austeridade que ajuda a manter o caráter sério de Game Of Thrones.
“As emoções são tão fortes, eu não tenho que forçar a barra com a trilha, não preciso forçar nenhuma emoção no espectador”, diz o compositor sobre “Forgive Me”. “Acho que isso é algo queGame Of Thrones faz muito bem, o que torna meu trabalho muito mais fácil.”
“Sons of the Harpy” reaparece quando os insurgentes de Mereen atacam Daenerys e sua comitiva durante o torneio de lutas.
“Dance of Dragons” é executada quando Drogon aterrissa na arena de combate, encara os Filhos da Harpia e alça voo resgatando Daenerys, que pela primeira vez voa no lombo do dragão. A música tem uma combinação de dois temas já vistos antes relacionados à Mãe dos Dragões, como “Dracarys” e “Breaker of Chains”. A princípio o ritmo é tribal em 5/4, marcando o perigo em cena com curtas frases de violino, cello e viola. Da metade para a frente, o tema que se evidencia é mais sereno e melífluo, pontuando o voo de Daenerys. A música se encaixa perfeitamente na cena, ganhando um triunfal terceiro ato com sinfonia completa.
“Blood of the Dragons” para os créditos de encerramento novamente.
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Episódio 10: Mother’s Mercy
“Goodbye Brother”, tema da Casa Stark, toca quando Jon Snow cai de joelhos após ser traído e esfaqueado. É uma música originalmente da primeira temporada. “Breaker of Chains”, da quarta, retorna para acompanhar a cena de Daenerys com Drogon nas montanhas. “Oathkeeper”, também da quarta, ressurge quando Brienne sentencia um combalido Stannis à morte.
“The Wars To Come” acompanha a tentativa de fuga de Sansa e a preparação de Stannis para o exército dos Bolton em Winterfell. É uma música que funciona como uma combinação do tema dos Stark, em uma versão mais melancólica, e o tema “Warrior of Light”, que acompanha Stannis. É uma faixa que vai se tornando cada vez mais militar, conforme sua percussão assume a cadência rítmica de marcha de tropas.
“Forgive Me”, que pontuou a cruel morte de uma criança no episódio anterior, reaparece para pontuar a derrota, o erro e a vergonha de Melisandre quando ela retorna a Castelo Negro.
“Jaws of the Viper” aparece uma última vez na temporada para pontuar a cena em que Myrcella começa a sangrar após dizer a Jamie que está contente por ele ser seu pai. Em seguida, Ellaria também sangra, mas bebe o antídoto.
“Mother’s Mercy” acompanha outra das iconônicas cenas da série, quando Cersei Lannister tem o cabelo raspado e faz a Caminhada da Vergonha por Porto Real. Ondas sonoras graves se impõem ao fundo da faixa do começo ao fim. As melodias são lentas e esparsas. Quase não se nota essa trilha estéril na chocante cena clímax do episódio final da temporada. Mais uma vez, Djawadi soube usar a música a favor do drama visual e não criou um tema que necessite exacerbar sentimentos que estão claros com a condução narrativa e contexto da cena. Ao não florear o que não precisa de mais explicação, a trilha respeita a inteligência do espectador.
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