Magical Girl, de Carlos Vermut
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Com apenas 35 anos, o espanhol Carlos Vermut até então era reconhecido como ilustrador e autor premiado de graphic novels. Desde 2009, estudou uma mudança de carreira com a realização dos curtas “Michirones”, “Maquetas” e “Don Pepe Popi”, bem como o longa “Diamond Flash”. Se não obteve com eles grande visibilidade, Carlos Vermut consegue com “Magical Girl, A Garota de Fogo” provar o extremo domínio que possui da linguagem cinematográfica.
Neste thriller recheado de reações desconcertantes, quando não extremas, há tudo que dignifica um grande filme. Desde o princípio, Carlos Vermut estabelece uma relação de cumplicidade com o público ao confiar em sua inteligência. Portanto, em “Magical Girl, A Garota de Fogo”, nós vemos o que é preciso ser visto, enquanto as lacunas são preenchidas com a imaginação que esse quebra-cabeça propõe.
Temos aqui três protagonistas, cada um dominando um dos atos. Aparentemente desconexa, a primeira cena de “Magical Girl, A Garota de Fogo” traz a pequena Bárbara (Marina Andruix) pregando uma peça em seu professor, Damián (José Sacristán). Guarde este momento na memória, pois acompanhamos outro período em que ele será crucial para os minutos finais.
A seguir, acompanhamos o drama de Luis (Luis Bermejo), um professor desempregado de literatura obstinado em realizar os últimos desejos de Alicia (Lucía Pollán), sua filha de 12 anos com leucemia. Os livros vendidos em um sebo não são o suficiente para Luis arrecadar uma boa quantia e comprar o figurino de Yuriko, a protagonista do anime “Magic Girl” a qual Alicia é uma grande admiradora.
As necessidades de Luis se cruzam com a instabilidade de uma já madura Bárbara (Bárbara Lennie, extraordinária e assustadora), que passa os seus dias trancafiada no apartamento de seu marido rico e insensível Alfredo (Israel Elejalde). Uma relação sexual entre os dois dá vazão a uma interação movida por chantagens, depravações e um acerto de contas com um personagem que mudará o rumo de tudo.
Carlos Vermut adota a estrutura de fragmentos para o seu roteiro, sem que necessariamente intervenha na cronologia dos acontecimentos. Isso garante interesse a “Magical Girl, A Garota de Fogo”, que amplia o interesse pela antecipação de ações e que vai além das expectativas não somente com o clímax explosivo, como também com uma conclusão sarcástica que fecha de forma circular este que talvez seja o melhor filme exibido na 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
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