Black Mass, de Scott Cooper
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Está certo que um episódio de 2011 essencial para o histórico de James Joseph “Whitey” Bulger Jr. possa servir de justificativa, mas ainda assim impressiona que o cinema ainda não tenha criado uma ficção dedicada em narrar a vida desse irlandês que já foi um dos criminosos mais procurados pelo FBI. Pois chegou o momento e ninguém menos que Johnny Depp é escalado para incorporar essa violenta figura real.
Dado como o ator mais camaleônico em Hollywood, Johnny Depp enfadou o público justamente por essa distinção. De uma hora para a outra, o sucesso da franquia “Piratas do Caribe” acomodou o ator na opção de viver personagens carregados na caracterização e nos trejeitos, dando a sensação de que víamos o ator vivendo o mesmo papel com pequenas variações. Em “Aliança do Crime”, o mesmo processo de construção trabalha em favor de Deep, especialmente por Whitey ser, acima de tudo, uma criatura palpável.
Whitney cresceu com o também irlandês John Connolly (Joel Edgerton) nas ruas de Boston. No entanto, o destino fez com que traçassem caminhos distintos, com Whitney convertendo-se em padrinho da máfia irlandesa e John buscando uma ascensão no FBI. São sujeitos que vão se reencontrar, cada um com um interesse particular. John não é ingênuo e conhece muito bem os trabalhos escusos de Whitney e ainda assim o transforma em informante para desbancar a criminalidade da cidade. Isso só traz vantagens para Whitney, que, na surdina, faz os seus negócios de extorsão e tráfico de drogas prosperarem rapidamente.
“Aliança do Crime” é somente o terceiro longa-metragem dirigido por Scott Cooper, que possuía um currículo inexpressivo como ator antes de seu debut em “Coração Louco”. É o seu melhor filme por trás das câmeras, embora o sentimento seja de que esse americano de 45 anos ainda não chegou lá.
A execução da violência nua e crua é um instinto que habita a natureza de Whitney, que eliminava “dedos-duros”, inimigos e devedores com uma frieza que aterroriza. Em “Aliança do Crime” essa característica é parcialmente abafada ao priorizar mais a versão de Whitney como informante do que como criminoso. Como consequência, uma teia com personagens coadjuvantes é tecida, garantindo que grandes atores se sobressaiam, como Julianne Nicholson vivendo a esposa de John Connolly e Corey Stoll como a figura ética que dará novos contornos à trama. No entanto, é incômodo ver Whitey assumindo uma função secundária de sua própria história.
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