quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Cosmópolis (Cosmopolis)

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É muito interessante, e satisfatório também, verDavid Cronenberg caminhando novamente pelos becos sombrios de sua criatividade. Depois de obras lineares, como "Senhores do Crime" e "Um Método Perigoso" - muito bem recebidas pela crítica -, o canadense faz de "Cosmópolis" o seu desbravador retorno ao bizarro, usando sexo, violência e transmutação como alicerces fundamentais. Elementos tradicionais em sua carreira. 

"Cosmópolis" é uma espécie de noir surrealista que se resume em um apanhado de cenas aparentemente desordenadas, no geral muito bem executadas e interpretadas. O polêmico ator Robert Pattinson, protagonista da fita, consegue conduzir tudo de maneira eficiente, algo que, inevitavelmente, acaba sendo uma grata surpresa.

A história pode parecer uma incógnita. Ela intencionalmente passeia pela tela de forma pouco clara. O autor posiciona a audiência em meio a conversas sem um contexto prévio, sendo que podemos absorver apenas sentimentos, mas não significados concretos. O que fica evidente é a mecânica personalidade do protagonista, seu constante medo da morte, e a busca da violência como válvula de escape, que faz da realidade algo tangível.   

O diretor nos apresenta então um futuro distópico, em que o homem de negócios, Eric Parker, controla sua fortuna de dentro de uma limousine (onde 70% da fita se passa). Enfrentando certa angústia existencial, o jovem milionário quer "cortar o cabelo" do outro lado da cidade, fato que ironicamente acarreta diversos problemas para sua segurança, ainda mais com uma eminente visita do presidente americano à cidade, e também com o funeral de um famoso rapper acontecendo (o comboio de limousines faz das ruas um local intransitável). 


O roteiro escrito por Cronenberg é uma adaptação do livro homônimo de Don DeLillo, e se fundamenta nestes extensos diálogos que oferecem analogias sobre alguns problemas de nossa sociedade moderna. Em certo momento, personagens especulam como seria hilário se a moeda forte do planeta fossem ratos mortos. Países pereceriam devido a falta dos bichos grotescos. 

Outra relevante epifania apresentada em meio a um protesto contra o futuro é que o presente já não existe mais. O argumento nos leva a crer que nossa visão apenas aponta para como estaremos amanhã, se teremos dinheiro, se não vamos passar por dificuldades, pois a roda capitalista sempre atropela os "mais fracos". Por outro lado, com nossas câmeras e celulares, registramos tudo de maneira obsessiva, não pensando em apreciar o momento, apenas se importando em guardá-los como lembrança, como um passado belo e distante. Ou seja, ninguém dá a mínima para o presente. Ele já era. 

Estes raciocínios "filosofais" se revelam de forma envolvente. Algo inesperado, questionador e obviamente diferente. 



Atuações de peso elevam o status do longa, como Juliette Binoche se expondo em uma cena de sexo voraz, ou Samantha Morton guiando Parker por pensamentos inquisidores, Paul Giamatti surgi como o resultado do desnivelamento, assim como Mathieu Amalric, um artista midiático da revolta. Pequenas participações que engrandeçam o resultado final.

Em resumo: "Cosmópolis" pode ser descrito como algo "nada óbvio". Na verdade ele é um exercício em todos os sentidos, que coloca em teste a direção de Cronenberg, sua roteirização frente à um cenário acomodado, e desafia o público com sua trama, que, mesmo sem dizer muita coisa, é cheia de significados.  





Cosmópolis/ CosmopolisCanadá, França, Portugal, Italia/ 2012/ 109 min/ Direção: David Cronenberg/ Elenco: Robert Pattinson, Sarah Gadon, Paul Giamatti, Juliette Binoche, Samantha Morton, Mathieu Amalric, Jay Baruchel, Patricia McKenzie

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