De nærmeste, de Anne Sewitsky
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Tema tabu, o cinema segue tratando o incesto com uma série de reservas, geralmente associando-o em uma resolução que justifica o comportamento desequilibrado de um personagem de má índole. O que mais incomoda, no entanto, é construir relações que buscam atenuar o peso de uma polêmica. O brasileiro “Do Começo ao Fim”, por exemplo, havia construído um relato de amor entre dois irmãos concebidos pela mesma mãe, mas em relação com homens diferentes.
Algo parecido acontece no norueguês “Homesick”, novo longa-metragem de Anne Sewitsky, conhecida no Brasil por “Happy Happy”. Charlotte (Ine Marie Wilmann) é uma professora de balé de 27 anos em um período de estados de espírito destoantes e extremos. No primeiro instante, a flagramos celebrando o casamento da melhor amiga Marte (Silje Storstein). Um pouco adiante, a vemos em conflito com a mãe (Anneke Von Der Lippe) e em contato com o pai, que definha em uma ala hospitalar.
Para tumultuar ainda mais as coisas, Henrik (Simon J. Berger) entra em sua vida, havendo entre eles uma sintonia imediata. A questão é que Henrik, que encontra residência em Oslo, não é somente um marido e um pai, como também o meio-irmão de Charlotte. Se já não bastasse a dificuldade da situação, Charlotte continua em um relacionamento sério com o irmão de Marte, interpretado por Oddgeir Thune.
Autora do roteiro em parceria com Ragnhild Tronvoll, Anne Sewitsky encara Henrik não como alguém com o mesmo sangue que Charlotte e sim como um “estrangeiro”, um sujeito que brota em sua vida sem aviso prévio. É como se “Homesick” desejasse que o incesto fosse encarado não como o tema central, mas como um elemento adicional em seu drama. O fato é que absolutamente nenhum conflito chega a ressoar, a trazer alguma relevância que nos arrebate, restando somente a atriz Ine Marie Wilmann algum crédito pelo esforço em conferir alguma empatia para um filme cercado de desdobramentos e personagens intragáveis.
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