The Witch, de Robert Eggers
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
“A Bruxa” tem provocado alvoroço desde a sua passagem pela última edição do Sundance Film Festival. Saindo desse festival de cinema independente com o prêmio de Melhor Direção, Robert Eggers vem sendo considerado uma grande promessa. As expectativas foram ampliadas com o material da produção sendo cuidadosamente divulgado e com o acúmulo de novas críticas positivas com as exibições no Festival de Toronto.
Tendo o brasileiro Rodrigo Teixeira como um dos produtores, “A Bruxa” assegurou exibições na 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo antes de seu lançamento comercial no Brasil e no mundo, programado para fevereiro de 2016. Foi um dos filmes mais disputados em toda a programação e a expectativa era de ver o terror mais assustador entre os mais recentes que vieram a público. A verdade é que o resultado não foi uma unanimidade, ainda que uma grande fatia tenha celebrado “A Bruxa” com o mesmo entusiasmo da imprensa internacional.
A competência técnica é inquestionável, assegurando a atmosfera de misticismo que cerca e amedronta Thomasin (Anya Taylor-Joy), a protagonista de “A Bruxa”, uma jovem que muda com a família para uma fazenda próxima a uma floresta obscura por desrespeitarem os preceitos de uma aldeia religiosa. Estamos na Nova Inglaterra do século XVII e o isolamento é o pior temor que Thomasin, os seus pais (Ralph Ineson e Kate Dickie) e irmãos (Harvey Scrimshaw, Lucas Dawson e Ellie Grainger) poderiam vivenciar.
Pior do que as plantações que não prosperam e o inverno rigoroso é o mal que parece enraizado no ambiente, que rapidamente causa o desaparecimento do caçula desta família, um recém-nascido capturado e morto por uma bruxa. Thomasin era a responsável pela sua guarda quando o bebê lhe foi tomado, mas, não tendo visto nada, deduz se tratar de um lobo. Mas eis que novos eventos se manifestam e todos os dedos são apontados para a inocente Thomasin.
Bruxaria, magia negra e possessão são alguns dos fenômenos principais da narrativa de “A Bruxa”, roteirizado a partir de lendas do mesmo período que recria. Era um contexto de uma sociedade movida por superstições e com verdadeiras caças às bruxas. Robert Eggers encontrou grande potencial no material, tendo respeitado inclusive o inglês agora antiquado das figuras representadas por Thomasin e sua família.
Mesmo fazendo bom uso de paisagens mortas, de uma música de Mark Korven que acentua o horror e de imagens que geram um desconforto antecipado (como o do impotente bode preto que aparentemente se comunica com os irmãos gêmeos interpretados por Dawson e Grainger), existe em “A Bruxa” a exploração não muito convincente dos credos como uma repressão, como uma impotência para confrontar os perigos que se materializam. É como se chegássemos ao final de “A Bruxa” sem acreditar integralmente no dilema entre prosseguir com as amarras da fé e a liberdade advinda do nefasto.
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