quarta-feira, 1 de junho de 2016

A Felicidade Não Se Compra – 1946 (Resenha)

Como é possível um filme de 1946 ser absurdamente atual em 2016? Como é possível um filme sem nenhuma complexidade técnica passar uma mensagem extremamente mais forte e cativante do que filmes que custam milhões de dólares? Como é possível que um filme desses tenha sido assistido por uma GIGANTE minoria da população mundial? As perguntas não terminam mais…
– Estranho como a vida de um homem toca tantas outras.
– Se alguém não existe, deixa um buraco horrível.
Frank Capra, diretor do longa, já havia feito sucesso com filmes anteriores como A Mulher Faz o Homem (1939)Aconteceu Naquela Noite (1934) – vencedor de 5 Oscars – e Esse Mundo é um Hospício (1944). Porém, sem deixar a peteca cair, em 1949 o diretor consegue trazer mais uma obra de arte para as telas, se não a maior de todas: It’s a Wonderful Life ou, no título brasileiro que acertou, A Felicidade Não Se Compra.
Protagonizado por James Stewart (o “mascote” de Alfred Hitchcock que atuou em Janela Indiscreta e Um Corpo Que Cai, além de outros grandes filmes) vivendo o sonhador George Bailey, a história é extremamente envolvente, do início ao fim. Além, é claro, de contar com a belíssima Donna Reed (A Um Passo da Eternidade) que interpretou a simpática Mary Hatch.
George Bailey é o nosso herói, sim, na clássica concepção da “lenda do herói” ele está alí, representando uma espécie de “conto de natal” diferente do comum, onde vemos um personagem entrando em completo desespero e pedindo ao seu anjo da guarda para que nunca tivesse nascido.
Calma, vamos voltar ao início do filme, quando Bailey é, ainda, um pequeno menino com grandes sonhos, o mais evidente, conseguir seu primeiro milhão de dólares. Desde cedo, percebemos a força de vontade do garoto que trabalha fielmente com Mr. Gower (H.B. Warner) na loja de doces e, com o passar dos anos, não vê a hora de deixar a pequena cidade onde mora para crescer na vida.
Infelizmente, para George Bailey, o destino não deixou que isso acontecesse. Seu pai, homem comum e dono de um banco incomum (que empresta dinheiro e não cobra juros) falece logo antes de seu filho trilhar o caminho rumo a vida adulta, deixando para George toda a responsabilidade da empresa. Ao lado de seu tio Billy, ele aceita deixar de lado os seus sonhos para manter o legado de seu pai na cidade e, com todo o esforço possível, consegue deixar o banco estável por um tempo.
Mesmo que não fosse o seu desejo ficar nessa cidade, é aqui que o protagonista faz sua vida. Casa com Mary Hatch, sua amiga de infância, cria seus filhos e faz grandes amizades. Mas, com o passar do tempo, a empresa começa a se desestabilizar e todos os problemas vêm à tona. Para piorar, Mr. Potter (Lionel Barrymore) – o homem mais rico e poderoso da região – faz de tudo para que isso aconteça.
É aqui que George começa a enlouquecer, na noite de natal ele está tendo o pior dia de sua vida. Como vai dar conta da sua família sem o emprego? Como vai ser se ele for preso? Por que ele aceitou trocar sua vida de sucesso por uma vida medíocre naquela cidade com a esperança de que tudo isso pudesse acontecer? Por que ele foi tão estúpido?
Sem pensar muito, George resolve se matar e vai até a ponte mais próxima. É a partir daqui que o filme de Capra começa a fazer todo o sentido e percebemos que estamos assistindo a um dos melhores longas já realizados. Nosso protagonista encontra Clarence (Henry Travers), um anjo de segunda classe que aparece para salvá-lo. E qual jeito melhor de salvar alguém à beira do suicídio do que mostrando como o mundo seria sem ele? O que teria acontecido com Mr. Gower? Com sua mãe? Com sua mulher? Com todas as pessoas que ele ajudou durante toda a sua vida?
O roteiro do filme é brilhante, uma vez que joga cenas – a princípio desnecessárias, como o afogamento do irmão de George ainda criança, ou quando Mr. Gower troca os remédios de uma menina por veneno, acidentalmente – para, no final, trazer tudo isso novamente de uma forma magistral.
A fotografia em preto e branco é bela, digna de montar um quadro com qualquer frame do filme, assim como a trilha sonora de Dimitri Tiomkin, que parece ter sido feita para escutar no natal, enquanto reunimos a família para a tão esperada ceia. Ta aí: por que não fazer desse filme um ritual para todos os natais?
Como eu já disse, o impacto emocional da obra é algo surpreendente, algo que todos devem sentir. O mais incrível é pensar que A Felicidade Não Se Compra nunca envelheceu nesses seus mais de 70 anos, pelo contrário, ele está ainda melhor e mais atual.
Se você ainda não assistiu, é a sua vez. Tenho certeza que quando acabar, vai pensar “por que eu não assisti isso antes?”.
9.1ÓTIMO

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