by ALEX GONÇALVES
Mommie Dearest, de Frank Perry
“Mamãezinha Querida” é o título de um dos projetos mais polêmicos a serem realizados nos anos 1980. Este filme, dirigido por Frank Perry e protagonizado por Faye Dunaway, é uma adaptação do livro autobiográfico de Christina Crawford, filha de Joan Crawford – considerada uma das maiores estrelas que Hollywood já produziu. Mas a Crawford de “Mamãezinha Querida”, tanto a do livro de Christina e a do filme de Frank Perry, não é aquela que batalhou desde a adolescência até firmar um contrato de anos com a Metro Goldwyn Mayer. A Joan Crawford daqui é uma mulher amarga e desprezível.
Nos créditos iniciais, vemos Faye Dunaway, que através de um belo trabalho de maquiagem consegue adquirir uma aparência extremamente similar a de Crowford, protagonizando uma longa sequência onde cuida de sua própria aparência e a da sua mansão de forma rígida. Já é um sinal de que será em questão de pouco tempo para vermos um “mostro” surgir. Enquanto não apresenta nenhuma atitude assustadoramente agressiva, Joan Crawford é uma mulher que é grata pelas maravilhas que a cercam, desde a fama e fortuna que lhe são recompensas do seu trabalho como atriz até os amores, sejam dos homens (o ponto de partida do filme já revela que Joan enfrentou dois divórcios, com Douglas Fairbanks Jr. e Franchot Tone) ou dos fãs.
O que falta a ela é uma única coisa que não pode ter: um filho. Embora o processo de adoção seja a princípio um obstáculo para ela, já que enfrentou divórcios e não poderá conciliar as tarefas maternais com as de seu trabalho, não demora para Crawford conseguir uma criança, ao qual batiza de Christina. Na infância, fase na qual é interpretada por Mara Hobel, já é vítima de maus-tratos.
A rigidez de Crawford é aplicada em castigos e até agressões. Alguns, como a punição por causa dos cabides de arame usados por Christina para pendurar no closet os caros vestidos que ganhou, são duros de acompanhar. Nem na fase adulta, quando Christina ganha os contornos da atriz Diana Scarwid, o perverso comportamento de Joan é amenizado, mesmo depois de sua filha adotiva passar por colégios internos e religiosos. Christopher, o segundo filho adotivo da atriz, também passa por poucas e boas.
Embora já se tenha passado 27 anos desde o tempo de produção de “Mamãezinha Querida”, a sua má reputação permanece até hoje. Ainda que não tenha sido um fracasso comercial, já que seu custo de produção foi recuperado no seu primeiro final de semana em exibição nas telas de cinema americano, a crítica não foi nada piedosa com o retrato negativo de Joan Crawford em “Mamãezinha Querida”.
Inclusive, esse foi o filme que iniciou o declínio que assombra até hoje na carreira de Faye Dunaway, antes prestigiada por filmes como “Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, “Chinatown” e “Rede de Intrigas”. A atriz foi dada como culpada pelo resultado final do filme, especialmente por se propor a dar vida a uma Joan Crawford conforme o retrato desenhado por Christine.
Acima de tudo, Frank Perry fez um ótimo filme e, mesmo que sejam ignoradas outras coisas, como o fato de Crawford ter adotado mais crianças, muitas coisas estão registradas, desde a sua reação ao ouvir o seu nome anunciado como a vencedora do Oscar por “Almas em Suplício” até a sua união com Alfred Steele, que tinha forte cargo dentro da Pepsi Cola. Ainda assim, o mistério sobre Joan ser uma mulher perversa ou bondosa persiste.
Vale lembrar que até a grande Bette Davis, que contracenou com Crawford em “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, defendeu a atriz dos relatos de Christina em seu livro, mesmo que Bette já tenha assumido que não gostava de Joan. No fim das contas, independente de qual conceito adotar sobre Crawford, “Mamãezinha Querida” traz algo que todos sabem e concordam: a imagem que a atriz sempre carregou de grande mito da história do cinema.
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