Beira-Mar, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Vez ou outra nos deparamos com um filme que traz a todo o instante o desconforto de um argumento que seria melhor valorizado se adaptado para o formato de curta-metragem. É uma constatação que geralmente persegue os esforços de cineastas iniciantes, que recorrem a subterfúgios questionáveis para alcançar o sonho de ganhar as telas de cinema. É o limite que atinge justamente “Beira-Mar”, odebut de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon.
Martin (Matheus Almada) e Tomaz (Maurício José Barcellos) são dois jovens que se tornaram amigos ainda na infância. Martin realiza uma viagem com duração de um fim de semana para resolver um problema familiar. Para não ficar só em uma bela casa à beira da praia, ele convida Tomaz, que discretamente demonstra ter mudado em vista da última ocasião em que se viram.
Com apenas 83 minutos de duração, “Beira-Mar” contém dois atos preenchidos com casualidades que nada de importante decifram sobre o contexto em que os dois protagonistas estão inseridos. Claro que existe um progresso sobre a orientação sexual de Tomaz, mas ele emerge em sessões de embriaguez e prendas entre amigos que não ressoam dramaturgicamente.
Alguns espectadores podem notar a aproximação de “Beira-Mar” com duas obras estrangeiras. A primeira é o americano “Deixe a Luz Acesa”, em que o cineasta Ira Sachs encena episódios verídicos de sua privacidade.  É também o que faz a dupla Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, namorados que completaram recentemente sete anos de relacionamento. A segunda obra é o francês “Azul é a Cor Mais Quente”, em que a co-protagonista tem madeixas azuladas, bem como Tomaz após uma partida de Verdade ou Consequência. Felizes coincidências, nada mais.
Há, no entanto, um bom ato final reservado em “Beira-Mar”. É o momento para os sentimentos mais íntimos aflorarem e há nele uma riqueza de detalhes em uma troca precisa de olhares, de sorrisos nervosos, de gestos imprecisos. Tudo o que “Beira-Mar” precisava para ser um bom filme, algo que não se efetiva ao trocar a precisão por uma obviedade maçante que não passa de muletas para caminhar até um clímax envolvente e passional.