por Ronaldo D'Arcadia
"Fico feliz de saber que está bem"
(Antes de tudo, este é talvez o melhor título de todos os tempos, não acha?) Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência é a terceira parte da trilogia existencial do diretor sueco Roy Anderson. O filme segue um ritmo semelhante de seus antecessores (Canções do Segundo Andar eVocês, os Vivos), e com uma incomparável narrativa, consegue explorar toda a complexidade da vida, suas tristezas e alegrias, medos e dependências.
O roteiro é dividido em diversos episódios erráticos, que em alguns casos são interligados, em outros apenas ocasionalmente se cruzam. Dois parceiros vendedores de artigos humorísticos (como máscaras e dentaduras de vampiros), rotineiramente tem sua relação explorada dentro destes episódios, mas não existem protagonistas na obra de Anderson, as coisas não funcionam dessa maneira.
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Capturadas quase sempre sem cortes, as pequenas estórias são basicamente cenas teatrais, coreografadas e encenadas como numa peça. Atores carregam seus rostos e mãos com uma pesada maquiagem branca, o que lhes dá um aspecto cadavérico. É um expressionismo moderno que, de maneira completamente peculiar, navega por humores lúdicos e dramas existenciais profundos, muitas vezes depressivos e sem esperança.
Esta transição de humor e drama acontece drasticamente, e da estranheza nasce a genialidade autoral e técnica do trabalho. Um Pombo Pousou... oferece principalmente liberdade para audiência, por ser completamente subjetivo. A fotografia fria, de enquadramento sempre centralizado, juntamente com uma cenografia detalhista, faz com que visualmente o trabalho agrade aos olhos, por mais estéreis que as locações pareçam.
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Em determinada cena, logo no início, um velho gordo abre uma garrafa de vinho, enche um copo... e bebe lentamente. Sua expressão corporal exagerada, estranhamente mórbida, gera desconforto, e isso é, de alguma forma descalibrada, uma situação bem engraçada. Logo em seguida ele leva a mão ao peito, se joga contra a parede e cai no chão desfalecido, vítima de um provável infarto. O realismo da morte é perturbador, deprimente, e segundos antes você estava rindo da mera existência do personagem.
Enfim, é impossível descrever com fidelidade a real sensação de assistir Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência. É preciso ver para crer. Como o próprio diretor divagou, do alto do galho, o pombo reflete sobre nossa existência, imaginando o que diabos estamos fazendo aqui embaixo, na terra dos homens. Basicamente, a ideia (e questão) principal do filme é essa. Recomendado.
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Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência/ A Pigeon Sat on a Branch Reflecting on Existence/ En duva satt på en gren och funderade på tillvaron: Suécia, Alemanha, Noruega, França/ 2014 / 101 min/ Direção: Roy Anderson/ Elenco: Holgar Andersson, Nils Westblom, Charlotta Larsson, Viktor Gyllenberg
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