The Legend of Tarzan, de David Yates
A tecnologia evoluiu a um ponto tão inesperado que hoje o cinema realiza o sonho de transformar em realidade uma fantasia então capaz de ganhar vida somente em animação. Mais do que a atualização de valores (ou a ênfase naqueles que resistem ao tempo), muitos contos de fadas e aventuras são revistos para assegurar um êxito comercial a partir de uma história já testada e aprovada e ainda presente no imaginário coletivo.
A diferença é que hoje temos os protagonistas defendidos por intérpretes de carne e osso enquanto criaturas com anatomias não humanas podem são recriadas com a computação gráfica, às vezes tendo como base a captura de performance. É verdade que Tarzan, um personagem concebido pelo escritor Edgar Rice Burroughs, deve a a Elmo Lincoln a primeira encarnação em um filme, mas é a sua versão animada de 1999 pelas mãos da Disney que encontramos o herói selvagem definitivo.
A dupla de roteiristas formada por Adam Cozad e Craig Brewer tem boas intenções com “A Lenda de Tarzan”, algo comprovado em uma escolha que assegura o interesse pelo filme de David Yates ao menos em seu primeiro ato. Mais coerente com o papel do que o esperado, o sueco Alexander Skarsgård dá vida a um Tarzan já adaptado para conviver em sociedade, agora abraçando o nome John Clayton e sendo um bom marido para Jane (Margot Robbie). Portanto, temos uma espécie de sequência para a premissa que já conhecemos de cor e salteado, garantindo a espera de surpresas com o ponto de partida inédito.
Bom, isso até o conflito central estar inteiramente disposto sobre os nossos olhos. Tarzan/ John Clayton é informado por George Washington Williams (Samuel L. Jackson) que o seu verdadeiro lar, o Congo, se transformou em um campo de escravos comandado pelo ganancioso Leon Rom (Christoph Waltz, ainda com sérias dificuldades de se desvincular do papel de vilão unidimensional). Tarzan/John regressa com Jane e não dá outra: ela acaba sendo sequestrada por Leon e a “nova” história chega ao seu limite focando somente o resgate da mocinha pelo seu amado e em conflitos nada complexos, como o do protagonista com Mbonga (Djimon Hounsou), chefe de uma tribo com contas a acertar.
Para aplacar o desperdício, existe uma interação entre Tarzan/John com George com o claro propósito de se transformar no alívio cômico de um ressurgimento ao cinema que se julga sério. De resto, há apenas o desespero de David Yates em continuar extraindo algum suco do bagaço que tem em mãos, um hábito que herdou dos tempos em que precisou repartir em dois o derradeiro episódio de “Harry Potter”.
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