sexta-feira, 22 de julho de 2016

Tangerine, de Sean Baker

Tangerine
Ainda que faça cinema há 16 anos, o jovem cineasta Sean Baker precisou contar com a sorte para consolidar o seu nome em uma indústria independente em que talentos são devorados por novas promessas. O seu grande momento chegou em 2012 com a comédia dramática “Uma Estranha Amizade”, registro pouco usual sobre a relação entre uma garota de 21 anos (Dree Hemingway) e uma idosa (Besedka Johnson). Agora, alça voos mais altos com “Tangerine”, uma obra oportuna em tempos que se discute tanto a questão de gênero.
Poderia carregar somente o feito de ser o primeiro longa-metragem produzido integralmente com iPhone, mas Baker, também um excelente roteirista, está interessado aqui em exibir a face periférica de Los Angeles. Há ainda mais uma subversão: ajustar a sua narrativa para se passar na véspera de Natal, quebrando todos os paradigmas exaustivos sobre a tradição familiar em um feriado religioso.
“Tangerine” começa com o reencontro das melhores amigas transgênero Sin-Dee (Kitana Kiki Rodriguez) e Alexandra (Mya Taylor) quando a primeira sai da prisão. Na realidade, Sin-Dee acobertou o seu namorado Chester (James Ransone), que atua como cafetão e traficante. Ela está desesperado para revê-lo até Alexandra revelar o relacionamento que ele estaria tendo com Dinah (Mickey O’Hagan). Assim, começa a batida de perna pela cidade para localizar a amante e, posteriormente, ter o acerto de contas com Chester.
Na equação, há também o taxista Razmik (Karren Karagulian). Armênio, ele vive as pressões familiares e religiosas em manter um lar, algo que sempre camufla os seus verdadeiros desejos, geralmente extravasados com programas durante o expediente de trabalho. É um dos clientes mais fiéis de Sin-Dee, de quem sai à procura assim que notificado sobre a liberdade dela.
A princípio, há muitas informações textuais e visuais no submundo de “Tangerine” (segundo o diretor, o título do filme faz alusão à coloração do pôr do sol em LA), dificultando o entendimento do histórico que as personagens carregam até o prólogo e para onde elas pretendem se mover a partir deste ponto de partida. Passada a fase de introduções, todos passam a agir como tipos certeiros em uma comédia que pretende extrair graça a partir do embaraço, como o envolvimento da polícia quando um cliente se nega a pagar por uma relação sexual  ou a remoção de Dinah do prostíbulo em que trabalha.
Porém, é no uso de um sentimentalismo moderado de contextos barras-pesadas que faz “Tangerine” ter um coração que pulsa. As estratégias de Sean Baker são evidentes, apropriando-se da comédia para trazer acessibilidade ao público ao mesmo tempo em que planeja um movimento em que tudo deverá ruir e talvez se reerguer. Encontra a beleza de seres marginalizados e os respeita ao permitir um respiro que os façam reavaliar os espaços que ocupam e a companhia para enfrentar o dia seguinte.

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