Don’t Breathe, de Fede Alvarez
O cineasta uruguaio Fede Alvarez chamou a atenção de Hollywood ao lançar no YouTube o curta-metragem “Ataque de Pânico”. Feito pela bagatela de 300 dólares e com um clima de cinema catástrofe de primeira, a realização de apenas cinco minutos seduziu especialmente Sam Raimi, cuja produtora Ghost House Pictures é popular por assegurar o sucesso de filmes de terror feitos dentro de orçamentos enxutos.
Ainda que o seu remake para “A Morte do Demônio” comprove um talento natural para os aspectos visuais de um filme, Fede Alvarez parecia preso aos limites de uma premissa sem a ressonância da versão original de Raimi. Felizmente, essa posição ingrata não se repete em “O Homem nas Trevas”, no qual Alvarez consegue exercer um domínio mais pleno a partir de um argumento original desenvolvida em parceria com Rodo Sayagues.
Já se nota o frescor com a escolha de não facilitar as coisas para o espectador quando “O Homem nas Trevas” revela em seu prólogo a índole questionável dos personagens, sendo três jovens que vivem de roubar o que ainda há de riqueza em uma Detroit arruinada. Busca-se ao menos aliviar a barra de Rocky (Jane Levy), que estaria acumulando dinheiro para ter um recomeço com a sua pequena irmã Diddy (Emma Bercovici) em outra cidade.
A realização desse sonho se torna ainda mais possível quando ela e os seus parceiros no crime Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto) recebem a pista de que há um cego (Stephen Lang, um ator de forte presença aproveitada em seu esplendor) com 300 mil dólares em seu cofre, valor preservado desde o momento em que foi indenizado pela morte de sua filha única em um acidente de carro. Ao invadirem a residência do sujeito, o trio tem uma surpresa: a fortuna escondida seria de aproximadamente um milhão de dólares.
Claro que as coisas não serão fáceis. Ex-soldado ferido com os estilhaços de uma granada, o proprietário da residência nada tem de vítima. Trata-se de um psicopata que imagina com a situação um cenário perfeito para transformar em campo de batalha, iniciando uma caça impiedosa a partir de sua audição apurada e do benefício de conhecer a anatomia do local em seus mínimos detalhes.
A novidade de “O Homem nas Trevas” vai além da inversão do papel de vítima em algoz. Fede Alvarez tem em mãos o modelo do thriller de isolamento, buscando compreender todas as possibilidades de fazer o seu filme se desdobrar concentrando a ação em um único ambiente. A consequência é uma tensão gradativa capaz de nos lançar em um jogo em que experimentamos as mesmas sensações de perigo que ameaçam especialmente Rocky, papel que recebe dimensões graças a capacidade de Jane Levy em concentrar os seus medos em olhares de extrema vulnerabilidade.
O melhor de tudo é “O Homem das Trevas” não tem um ritmo trôpego ou desdobramentos pouco críveis dentro do contexto que estabelece, algo comum em filmes similares. Vem a ser especialmente louvável a parceria com o diretor de fotografia de Pedro Luque, que já havia provado em “A Casa” a execução exemplar da tarefa de sufocar a luz com a escuridão, preservando por vezes em “O Homem nas Trevas” uma atmosfera correspondente a penumbra permanente em que o vilão vive.
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