Creed, de Ryan Coogler
Imortalizado na tela por Sylvester Stallone, Rocky Balboa segue lembrado como um dos mais queridos heróis da ficção americana, fruto de sua primeira aparição em “Rocky: Um Lutador”, que traz a representação de um homem comum reajustando a sua vida privada ao mesmo tempo em que era desacreditado enquanto se preparava para uma luta de boxe contra o imbatível Apollo Creed (Carl Weathers). O que veio a seguir, excetuando “Rocky Balboa”, tratou de direcionar o personagem para abordagens menos nobres, mas nada que interferisse o afeto nutrido pelo imaginário coletivo.
Rocky é uma presença secundária em “Creed: Nascido para Lutar”, mas sem ela o diretor e roteirista Ryan Coogler (de “Fruitvale Station: A Última Parada”) estaria em apuros. Nascido na Oakland de 1986, Coogler viu em Rocky Balboa um modelo para se inspirar principalmente em sua determinação em fazer cinema, apresentando a Stallone um argumento que o convenceria a reprisar novamente o seu icônico personagem.
Na superfície, “Creed: Nascido para Lutar” é uma espécie de atualização da base de “Rocky: Um Lutador”. Filho de Apollo Creed, Adonis Johnson (Michael B. Jordan) é bem-sucedido em um emprego burocrático, mas tem uma fúria internalizada que o faz recorrer à mesma atividade da figura paterna que sempre renegou. Obstinado em herdar o título de maior lutador de Creed, Adonis vai ao encontro justamente daquele que foi o seu maior oponente, Rocky, hoje aposentado e gerenciando um restaurante dos subúrbios da Filadélfia.
Ao convencer Rocky de que ele seria o melhor treinador que encontraria, “Creed: Nascido para Lutar” passa a reprisar também todas aquelas baterias duríssimas de preparo físico tão notórias no filme de John G. Avildsen. Há também o espaço para um interesse amoroso, com Adonis logo se sentido atraído por Bianca (Tessa Thompson, ótima), uma jovem perdendo paulatinamente a audição que encontra na composição musical um conforto antes de chegar a um estado mais permanente.
Toda essa estrutura reconhecida não impede “Creed: Nascido para Lutar” de obter um resultado igualmente digno, mas é Sylvester Stallone o algo a mais que faz toda a diferença. Não é fácil abrir mão da vaidade para representar um Rocky Balboa no fim de sua carreira, contaminado por uma doença que faz todo o seu vigor se dissipar e os seus dias de vida diminuir. Uma vulnerabilidade com a qual o ator se entrega com uma humildade ímpar e que fará todos os marmanjões que o acompanham até aqui se emocionarem sem reservas.
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