Bem como a maioria de nós, Arnaldo (Vladimir Brichta) é um sujeito sufocado por um cotidiano banal, não encontrando em suas tarefas padronizadas algum respiro para repensar o que o importuna e qual a melhor maneira de agir. Os seus incômodos vão desde um casamento no piloto automático com Aline (Ingrid Guimarães, numa personagem ainda mais antipática que a Nena de “Um Namorado Para Minha Mulher”) até o emprego burocrático no qual o único alívio é a amizade com Mascarenhas (Otávio Muller).
Ao usar o banheiro privativo do seu trabalho, Arnaldo ouve uma conversa sobre uma clínica secreta capaz de clonar pessoas. O intento do procedimento é fazer com que a cópia assuma as funções do original enquanto este recebe uma segunda chance para viver uma outra possibilidade. A única regra é que as duas versões jamais devem se cruzar: caso infrigida, a cópia deverá ser imediatamente eliminada e o original, reassumir o seu posto.
A princípio, Cláudia Jouvin, diretora de primeira viagem e roteirista com vasta experiência em produções televisivas e cinematográficas, parece fazer nada mais que um pastiche de comédia e ficção científica aos moldes de “O Homem do Futuro”. O teor fantástico da premissa se mostra sem qualquer complexidade e as coisas parecem rumar para um romance de pegada hipster com a entrada de Josie (Mariana Ximenes), uma jovem tresloucada que trabalha em um cemitério de animais com a sua “tia” Leila (Eliane Giardini), que é, na realidade, a ex-companheira de sua falecida mãe. Ledo engano.
O diferencial de “Um Homem Só” já começa pelo tratamento visual e cenográfico. Premiado no penúltimo Festival de Gramado, o diretor de fotografia argentino Adrian Teijido transforma uma cidade ensolarada como o Rio de Janeiro no ambiente mais lúgubre imaginável, algo que reverbera ainda mais com a direção de arte de Claudio Amaral Peixoto e Joana Mureb, conferindo no acúmulo de objetos nas residências de cada personagem um sentimento de apego por algo que já partiu, seja uma pessoa ou uma ambição de vida.
Há também outra virtude em “Um Homem Só” e ela deve ser creditada totalmente à Cláudia Jouvin. A diretora e roteirista carioca tem um domínio de seu material não comprovado somente com as surpresas que prega para a segunda metade do filme, como ao não abrir nenhuma concessão no ato final. É como se Jouvin sustentasse o discurso de que não há mágica capaz de camuflar a nebulosidade de nossas escolhas. Um ceticismo em forma de um risco que vai fazer muita gente sair de cabeça baixa do cinema, mas que fortalece a nossa singularidade como indivíduos que não podem ser duplicados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário