Jean-Paul Charles Aymard Sartre
A história coloca três personagens em um inferno hipotético, onde são obrigados a conviverem sem elementos que possam refletir a própria imagem, a não ser os olhos dos habitantes do confuso ambiente.
A filosofia existencialista, defendida por Sartre, responsabiliza o indivíduo na escolha do caminho que melhor lhe agrada e orienta sobre a importância dos sentimentos na vida das pessoas.
O seu carrasco
“Aquele que me olha é sempre o meu carrasco.”
Ou seja, apesar do indivíduo desejar ser refletido na melhor forma, os olhos dos outros ignoram esta aspiração e o enxerga, em profundidade, com o rigor que efetivamente ele, o indivíduo, não gostaria.
Sendo assim, a importância dos outros para cada um de nós gera influências que podem se tornar um inferno, devido à incapacidade humana de compreender nossas fraquezas.
Cita Sartre: “o inferno são os outros” numa alusão à imagem, de cada um de nós, refletida nos olhos de quem nos observam.
O paraíso é possível
A afirmação sobre a vigilância e o julgamento constante aos quais somos submetidos, não elimina a possibilidade de um paraíso.
Nesse caso, cabe ao indivíduo a responsabilidade da escolha do caminho que mais lhe agrada.
Resumidamente: apesar de o inferno ser os outros é possível a conquista do paraíso.
Convivência intensa
Entre quatro paredes, sem janelas, sem pausas para a vida cotidiana e descanso da observação aos olhos dos outros personagens, os três protagonistas foram obrigados a conviverem em plena intensidade.
Cita um dos protagonistas referindo-se ao piscar dos olhos, como fuga ao julgamento dos outros, como se os seus olhos fechados impossibilitassem as críticas de quem o observa.
“A gente abria e fechava; isso se chamava piscar. Um pequeno clarão negro, um pano que cai e se levanta, e aí a interrupção. (…) Quatro mil repousos em uma hora. Quatro mil pequenas fugas”.
O jornalista
Entre as quatro paredes, Garcin, um jornalista pacifista, que pretendia ser herói, mantinha um disfarce e tentava esconder o seu crime.
Sua maior agonia era a possibilidade das duas companheiras, no inferno hipotético, descobrirem a sua fraqueza ou covardia que, naquela situação, não poderia ser alterada.
Mulherengo, péssimo marido, insensível aos sentimentos da esposa, precisava dos olhos de Inês, outra protagonista, para se desculpar.
A funcionária
Inês, uma funcionária dos correios, com atitudes hostis, cujo ódio e a crueldade lhe nutrem, é a única entre os protagonistas que admite a culpa.
Reconhece estar no inferno e mostra o seu caráter, admitindo a situação que se encontram.
Adere ao fato e tenta tirar proveito dele.
Tinha uma reflexão interior profunda e consciência clara do papel a ocupar.
A burguesa
A burguesa Estelle cujo casamento foi realizado com um homem mais velho, por interesse financeiro, esconde o seu crime e tenta convencer Garcin e Inês que havia um engano em mantê-la no inferno.
Fútil, superficial e desorientada, necessitava dos olhos do jornalista, Garcin, para manter-se desejada vez que os valores superficiais a impediam de enxergar na forma mais adequada e consciente.
O inferno
Independente da intensidade, todos os protagonistas se olhavam e essa visão não passava do inferno de cada um. Cada um sabia os motivos de estar ali, conduto, tentavam esconder dos outros os fatos que os levaram à situação, para serem vistos como pessoas boas, exceto Inês, que não tinha esperança de mudança.
Enquanto Estelle e Garcin tentaram esconder os seus crimes, Inês expõe o por ela praticado e chama a atenção dos demais condenados, igualmente a ela, a permanecerem de forma irreversível, no lugar onde um é o espelho do outro. Tenta fazer com que Estelle enxergue Garcin através da avaliação dos seus olhos, como alternativa, já que ela o avaliava de forma superficial.
A história segue com Inês tentando conquistar Estelle, que por sua vez procura se relacionar com Garcin, e, sabedores de que a consciência é liberdade condenada a existir, sem possibilidade de fuga Garcin se antecipa ao fechamento das cortinas e diz:
“Pois bem, continuemos…”
Jean-Paul Charles Aymard Sartre
Filósofo, escritor e crítico francês, conhecido representante do existencialismo.
Era um militante e apoiou causas políticas de esquerda.
Recusou a receber o Prêmio Nobel de Literatura de 1964.
Dizia que no caso humano a existência precede a essência, pois o homem primeiro existe depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por isso sem ter uma essência posterior à existência.
Escreveu Os Dados Estão Lançados, Os Caminhos da Liberdade, O Sequestro de Veneza, As Palavras, A Náusea, e O Muro.
Referência bibliográfica
Sartre, Jean-Paul, 1905 – 1980
Entre quatro paredes / Jean-Paul Sartre; tradução de Alcione Araújo e Pedro Hussak. – 4ª ed.. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
Tradução de: Huis clos
INBN 978-85-200-0559-0
1. teatro francês (Literatura). I. Araújo, Alcione. II Hussak, Pedro. III. Título.
(R)
Entre quatro paredes / Jean-Paul Sartre; tradução de Alcione Araújo e Pedro Hussak. – 4ª ed.. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
Tradução de: Huis clos
INBN 978-85-200-0559-0
1. teatro francês (Literatura). I. Araújo, Alcione. II Hussak, Pedro. III. Título.
(R)
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