Autor da resenha: Hugo Magalhães
Stephen King, mestre do suspense moderno (o próprio não se admite como escritor de livros de terror por achar tal gênero ultrapassado e pífio, o que não justificaria seu grande acervo de livros já publicados e aprovados, muitos, pela crítica), o maior escritor de best sellers do mundo apresenta sua expressão bastante peculiar, embora de forma bem mais acentuada nesta obra.
King, em Jogo Perigoso, mostra seu incontestável domínio com as profundezas da consciência. Trata-se de um suspense psicológico dramático em que uma bela e jovem mulher encontra-se frente a uma mescla de desespero e impaciência (assim para o leitor), que somente acabará quando, seu passado já quase soterrado, vir à tona como único recurso para lhe salvar a vida: o eclipse de 1963.
Jessie Burlingame e seu marido, o advogado Gerald, adotam experiências sado masoquistas em seus relacionamentos sexuais em uma casa à beira de um lago, longe da cidade. E é a partir daí que várias emoções se revelam, o imprevisto acontece e então a obra começa. Sua consciência e sanidade são postas em prova a todo instante. Jessie vê-se acorrentada aos pilares da cama enquanto que lá fora o tempo se arrasta deixando-a em companhia da solidão e das curiosas vozes da consciência que mantêm um diálogo durante todo momento. São elas: Esposa Perfeita, a voz sensata, Ruth Neary, amiga com quem dividia o quarto quando na faculdade, muitas vezes irônica e ÓVNIs, vozes zombeteiras e sarcásticas.
A porta está entreaberta. Um cachorro vira-lata faz algumas visitas pelo dia e, por algumas noites, ela nota a presença de um vulto parado no canto escuro do quarto, aterrorizando-a e manipulando seus medos. Como se livrar das correntes atadas aos pilares da cama? Como? Não há chaves. Ninguém. Portanto, o desfecho é, sem dúvida, a parte mais impressionante da obra.
Interessante é a capacidade de King em transformar uma história aparentemente curta em uma com quase duzentas páginas, se não fosse por sua prolixidade que, às vezes, cansa o leitor. E é onde, infelizmente, o mestre peca. O desespero e a agonia sofrida pela personagem passa literalmente para o leitor, que já se encontra cansado e sufocado por tantas divagações no discurso do suspense. King sabe muito bem conduzir uma história até instantes em que não há mais o que se fazer além de chegar logo ao clímax, no entanto parece que se esqueceu do limite da paciência de seus fiéis leitores, que sucumbem definitivamente ao desleixo com a obra.
Uma mulher com as mãos inertes, atadas, sozinha numa casa à beira de um lago, a porta entreaberta, o tempo escoando afora e um vulto fantasmagórico parado no canto escuro do quarto. Todos os requintes para a gênese perfeita de suspense e terror, se não fosse pela embromação...
Nota: 6/10
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