O gosto pela leitura evidentemente não é inato aos seres humanos. É construído ao longo de nosso desenvolvimento e é, sobretudo, fruto de estímulos, seja de uma herança cultural ou simplesmente de um incentivo externo. Nesse sentido, a série de livros paradidáticos Vaga-Lume, da editora Ática, exerceu e continua exercendo forte influência na vida de nós, hoje leitores, e daquelas crianças que de alguma forma estão criando um gostinho pelas palavras, uma vez que foi idealizada, em meados nos anos 70, excepcionalmente para ser desfrutada em ambiente escolar com o intuito de encorajar os jovens à busca pela leitura. E foi tão bem quista que superou o limite das salas de aula e passou a ser comercializada ao público vasto, ainda que seja categorizada como infanto-juvenil, e hoje dificilmente há alguém que nunca tenha tido ao menos um contato com alguma obra da coleção estampada por aquele simpático vaga-lume de boina e tênis.
Na série, há aqueles escritos únicos. Autores renomados, autores anônimos, familiarizados com a temática e proposta ou não, mas que se permitiram dedicar-se à coleção e escreveram obras exclusivas. Há até obras relançadas, como O Escaravelho do Diabo, clássico com um dos títulos mais conhecidos da série. A obra escrita por Lúcia Machado de Almeida foi originalmente publicada na revista “O Cruzeiro”, mas para ser relançada na série, a fim de ter um alcance do público infanto-juvenil, dispôs-se de uma adaptação em uma abordagem mais singela. E, agora, em 2016, ganhará corpo visual!
O livro – que diz respeito a uma série de assassinatos interseccionados pelo fato de todas as vítimas serem naturalmente ruivas e, antes de serem mortas, receberem uma caixinha com um besouro espetado – instigou a imaginação de várias gerações e será finalmente corporificado em uma adaptação cinematográfica que estreia no dia 14 de janeiro de 2016.
Sob os cuidados de Carlo Milani, diretor estreante do longa, e de toda a equipe de montagem e gravação, como Pedro Vargas na direção de fotografia, Valdir Lopes na direção de arte e Thiago Vilas Boas como assistente de direção, as peculiaridades foram intimamente pensadas para que as memórias de Lúcia Machado de Almeida fossem resgatadas e para que mantivessem os olhares instigantes do público. Para tanto, filmada na cidade quase que cinematográfica de Amparo, interior de São Paulo, a repaginada sofrerá pequenas adaptações necessárias no roteiro, mas também em algumas pontuações da história que, ao meu ver, podem prejudicar o enredo original.
No livro, Alberto, de vinte e poucos anos, estudante de Medicina, se vê na necessidade de descobrir o responsável pela trágica morte de seu irmão Hugo. Com ajuda do Inspetor Pimentel, ele busca o assassino que, aparentemente, é o mesmo pivô de inúmeros casos semelhantes que vem acontecendo na cidadezinha do interior de São Paulo. Todas as vítimas são ruivas naturais e tem suas mortes antecedidas por uma caixinha contendo um besouro fincado, cujo nome científico possui uma mensagem oculta. A paixão de Alberto pela medicina contribui para que estas sejam notadas ao longo da história e desencadeia sua necessidade de aproximar-se do sofrimento humano e, assim, aliviá-lo.
No entanto, na versão cinematográfica, além de a história não se passar nos anos 50 como no livro, o protagonista Alberto é um garoto de 13 anos. Interpretado por Thiago Rosseti, o personagem se constrói ao longo de seu convívio com Pimentel, na pele de Marcos Caruso, ao passo que este, diante de uma perda gradativa da memória, simbolicamente vai cedendo seu espaço ao garoto. O que sugere uma preocupação para com o desenvolver da história, visto a ausência do contato com a Medicina, ou espero que não.
Fora isso o diretor garantiu que o longa, realizado pela Globo Filmes em conjunto com a Dezenove Sons e Imagens, terá fidelidade ao enredo, mesmo que tenha aconselhado àqueles membros do elenco que não tiveram contato com a obra não a lerem antes das gravações. Assim, segundo ele, diante das alterações, seriam evitadas quaisquer interferências.
A adaptação homônima conta, ainda, com as interpretações de Selma Egrei, Jonas Bloch e Lourenço Mutarelli para que, enfim, nossa nostalgia possa ser materializada e a infância resgatada.
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