por Ronaldo D'Arcadia
Podemos dizer, com certeza, que não existe nada mais honesto do que o cinema independente. De espírito imutável, o gênero é uma autêntica e artesanal forma de arte. Só que se hoje é possível gravar um filme todo com um celular, no século passado (mais exatamente em 1996) as coisas não eram tão fáceis. Os caras sofriam à beça.
E diante desta infindável demonstração de força de vontade, o sagaz documentarista Chris Smith aproveitou o sucesso da vertente – que lá pro meio dos anos 90 alcançava um ápice vertiginoso – para registrar os bastidores do curta-metragem de terror "Coven", realizado pelo maluco visionário Mark Borchardt.
Mark na época tinha trinta anos, adorava filmes como "O Massacre da Serra Elétrica" e "A Noite dos Mortos Vivos", e procurava no cinema a possibilidade de fazer algo digno de nota, ao invés de trabalhar em um cemitério de gavetas encerando o chão.
Ele beirava o alcoolismo, possuía uma relação conturbada com a ex-mulher (mãe de seus três filhos) e se afundava em uma pilha de dívidas altíssimas. Mas apesar disso tudo, a família parecia entender perfeitamente a gana do rapaz. Estava claro que ele não poderia fazer mais nada na vida a não ser seguir seu sonho. Aquilo não mudaria nunca.
Smith então acompanha passo a passo este calvário de Borchardt. As dificuldades financeiras, sua busca obstinada por melhorar (de forma capenga) a importante produção, as filmagens problemáticas, o time de atores insatisfeitos, a captação de patrocínio com o hilário e autêntico Tio Bill (Produtor Executivo de "Coven") – esta interação entre sobrinho e tio gera momentos genias, é o mais puro humor unido a dramaticidade da vida real. Realmente único. Tio Bill é um herói instantâneo.
Entre os amigos o destaque é Mike Schank, sujeito completamente lesado e excelente violinista que, além de ser o braço direito de Borchardt em todas as situações, colabora também na trilha sonora do longa.
No final, o documentário "American Movie" é algo sarcástico, mas acima de tudo é um retrato sobre as dificuldades de quem sonha ser alguém na vida através de seu talento, e que mesmo desacreditado, em meio a uma tempestade de impossibilidades, consegue seguir adiante. A fita explora todos os defeitos e qualidades de Borchardt sem nenhum tipo de filtro ou controle, exemplificado de forma aprofundada o verdadeiro espírito de uma obra independente. Algo sem igual.
PS: "American Movie" foi premiado com o Grand Jury Prize para documentários no Sundance Film Festival de 1999, foi eleito um dos "1,000 Greatest Movies Ever Made" pelo New York Times e nomeado pela International Documentary Association como um dos 20 melhores documentários de todos os tempos. Se ficou curioso, veja um trecho aqui ou assista o curta "Coven" clicando aqui.
PS: "American Movie" foi premiado com o Grand Jury Prize para documentários no Sundance Film Festival de 1999, foi eleito um dos "1,000 Greatest Movies Ever Made" pelo New York Times e nomeado pela International Documentary Association como um dos 20 melhores documentários de todos os tempos. Se ficou curioso, veja um trecho aqui ou assista o curta "Coven" clicando aqui.
American Movie: EUA/ 1999/ 107 min/ Direção: Chris Smith/ Elenco: Mark Borchardt, Monica Borchardt, Mike Schank, Bill Borchardt
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