por Ronaldo D'Arcadia
Quando Tim Burton adpatou a história do homem morcego para os cinemas em 1989, optou pelo tom teatral, o exagero das cores e atos. Um retrato pitoresco (e bem sucedido, podemos dizer) que tentava apenas fazer uma HQ se transformar em cinema. Ao explorar o personagem mítico, criado por Bob Kane há (impressionantes) 73 anos atrás, Burton não tentou ir muito além da máscara - dar profundidade cinematográfica a um homem que se fantasia de morcego para combater o crime, naquele época, soava simplesmente como uma piada. Mas foi exatamente na impossibilidade da seriedade que Christopher Nolan viu a chance de algo maior.
Sem dúvida, o grande mérito da trilogia "Batman/ Nolan" é conseguir se desvincilhar do background original do tema - os quadrinhos - caminhando então de forma independente e natural - é claro que os três longas são um apanhado inventivo do que há de melhor nas HQs do herói, tendo presente até mesmo a emblemática cena em que Bane subjuga Batman (o arremessando contra o joelho) neste último "O Cavaleiro das Trevas Ressurge". No entanto, é interessante perceber que Nolan fez de Bruce Wayne um homem real como nunca, que visita seu alter ego heroico apenas em três momentos específicos de sua vida. Enquanto as motivações dos vilões nestes filmes foram "loucura/ anarquia/ vingança", para Wayne o mote foi sempre o ressurgimento. Esses episódios isolados lhe renderam cicatrizes profundas, incuráveis na verdade, que tornaram sua armadura um simbolo de pesar e afastamento.
E é neste ponto em que Nolan acerta com maestria, tornando Batman, acima de tudo, crível para o cinema. Ao mesmo tempo em que se inspira nas HQs, ele meio que as esquece, deixando de lado infindáveis arcos distintos, para se focar na mortalidade de Bruce Wayne, criando um universo próprio onde tudo é semelhante, mas infinitamente diferente. Não estou falando da personalidade ou mesmo formas de linguagem de Wayne/Batman - seria um erro se distanciar destes elementos -, mas sim da humanização geral da história, dos parâmetros realistas empregados. Ao limitar as aparições do vigilante neste plano tão único, sua trajetória se torna ainda mais significativa e emblemática para diversas gerações (dentro e fora do filme). E o mesmo é feito com todos os outros personagens.
Sem dúvida, o grande mérito da trilogia "Batman/ Nolan" é conseguir se desvincilhar do background original do tema - os quadrinhos - caminhando então de forma independente e natural - é claro que os três longas são um apanhado inventivo do que há de melhor nas HQs do herói, tendo presente até mesmo a emblemática cena em que Bane subjuga Batman (o arremessando contra o joelho) neste último "O Cavaleiro das Trevas Ressurge". No entanto, é interessante perceber que Nolan fez de Bruce Wayne um homem real como nunca, que visita seu alter ego heroico apenas em três momentos específicos de sua vida. Enquanto as motivações dos vilões nestes filmes foram "loucura/ anarquia/ vingança", para Wayne o mote foi sempre o ressurgimento. Esses episódios isolados lhe renderam cicatrizes profundas, incuráveis na verdade, que tornaram sua armadura um simbolo de pesar e afastamento.
E é neste ponto em que Nolan acerta com maestria, tornando Batman, acima de tudo, crível para o cinema. Ao mesmo tempo em que se inspira nas HQs, ele meio que as esquece, deixando de lado infindáveis arcos distintos, para se focar na mortalidade de Bruce Wayne, criando um universo próprio onde tudo é semelhante, mas infinitamente diferente. Não estou falando da personalidade ou mesmo formas de linguagem de Wayne/Batman - seria um erro se distanciar destes elementos -, mas sim da humanização geral da história, dos parâmetros realistas empregados. Ao limitar as aparições do vigilante neste plano tão único, sua trajetória se torna ainda mais significativa e emblemática para diversas gerações (dentro e fora do filme). E o mesmo é feito com todos os outros personagens.
Mas é certo dizer que "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" não é o melhor da franquia, só que também não é o pior. O mais evidente problema deste terceiro longa é o condensamento do roteiro. Cenas e sequências que seriam claramente mais extensas, tiveram de ser enxugadas ao limite, deixando apenas o sumo do texto, mantendo a essência, mas perdendo certa espontaneidade. Isso acaba sendo irônico diante dos 165 minutos de duração, mas fica óbvio que faltou tempo para Nolan contar seu desfecho de maneira impecável.
Mesmo assim, correndo contra a o relógio e conduzindo frenéticamente diversos núcleos (com rostos antigos e novos), Nolan entrega uma obra incrível, que tem como pontos fundamentais a excelente direção (que encontra seu ápice nos momentos de ação), uma roteirização inteligente junto ao irmão Jonathan Nolan, e personagens dignamente adaptados por interpretações marcantes.
Talvez Bane pudesse ter recebido mais atenção antes do fim. Com ele, Tom Hardy consegue criar algo que ninguém esperava, elaborando um discurso que o faz parecer uma espécie de Yoda as avessas: massivo, maligno e enigmático. Anne Hathaway também surpreende como Selina, desfazendo-se de qualquer imagem vulnerável de seu passado como atriz, dando vida a uma Mulher Gato de classe, belíssima e contundente. E neste núcleo de atores temos, obviamente, Christian Bale (visceral como de costume), Gary Oldman, Joseph Gordon-Levitt (experiente ator em ascensão meteórica), Morgan Freeman, Michael Caine (emocionando bastante) e Marion Cotillard (que me pareceu contida, não alcançado a melhor voz para sua Miranda).
O diretor, assim como em "A Origem", faz da irretocável trilha sonora (definitiva para o Batman das telonas) sua melhor amiga, a usando de forma indiscriminada para elevar a tensão. A confluência final de "Ressurge" lembra, quase que simetricamente, o desfecho de "A Origem": contagens regressivas com todos os peões na mesa, uma corrida frenética rumo a um inexorável destino - eficiência em ritmo acelerado. Vale destacar também a atenção da produção aos detalhes, a fotografia fria e convidativa, a edição que acaba por operar milagres na redução das cenas, a equipe de dublês, os figurinos reinventados, artefatos e veículos que são resultado de mentes extremamente criativas.
Talvez Bane pudesse ter recebido mais atenção antes do fim. Com ele, Tom Hardy consegue criar algo que ninguém esperava, elaborando um discurso que o faz parecer uma espécie de Yoda as avessas: massivo, maligno e enigmático. Anne Hathaway também surpreende como Selina, desfazendo-se de qualquer imagem vulnerável de seu passado como atriz, dando vida a uma Mulher Gato de classe, belíssima e contundente. E neste núcleo de atores temos, obviamente, Christian Bale (visceral como de costume), Gary Oldman, Joseph Gordon-Levitt (experiente ator em ascensão meteórica), Morgan Freeman, Michael Caine (emocionando bastante) e Marion Cotillard (que me pareceu contida, não alcançado a melhor voz para sua Miranda).
O diretor, assim como em "A Origem", faz da irretocável trilha sonora (definitiva para o Batman das telonas) sua melhor amiga, a usando de forma indiscriminada para elevar a tensão. A confluência final de "Ressurge" lembra, quase que simetricamente, o desfecho de "A Origem": contagens regressivas com todos os peões na mesa, uma corrida frenética rumo a um inexorável destino - eficiência em ritmo acelerado. Vale destacar também a atenção da produção aos detalhes, a fotografia fria e convidativa, a edição que acaba por operar milagres na redução das cenas, a equipe de dublês, os figurinos reinventados, artefatos e veículos que são resultado de mentes extremamente criativas.
E no final, cercado por tragédias (nos últimos dois filmes), Christopher Nolan finaliza dignamente sua aplaudida trilogia, uma das melhores do cinema. Apesar do que foi dito, em Hollywood sempre existe espaço para mais um, e isso não precisa ser um problema (como alguns pessimistas poderiam afirmar). Mas da forma como terminou - com uma emoção real, carregada de simbolismos nobres - parece seguro dizer que melhor não tem como ficar... ou tem? Só sei que este não foi o final do Cavaleiro das Trevas nos cinemas.
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