Addie luta pela sobrevivência
ADDIE LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA
Miguel Carqueija
Resenha do filme “Moon paper” (Lua de papel) – EUA, 1973. Produção e direção: Peter Bogdanovith. Roteiro de Alvin Sargent, com base no livro “Addie Pray” de Joe David Brown. Com Tatum O’Neal (Addie Loggins), Ryan O’Neal (Moses Pray), Madeline Kahn (Trixie Delight) e John Hillerman.
“Eu quero os meus duzentos dólares!”
(Addie Loggins)
Poucos filmes têm o condão de divertir tanto e prender a atenção como este “Moon paper”, realmente artístico e fora do comum. Bogdanovith era, na época, uma nova sensação do cinema, havia trabalhado com Roger Corman e merecidamente era reconhecido como um grande talento. Em verdadeiro achado, filmou esta história sentimental (não chega a ser comédia, tem muito de drama) em preto-e-branco, o que em muito contribuiu para a qualidade da obra. A fotografia, afinal, tem muito a ver com o clima de uma película. E o caráter sombrio e desanimador da época da Recessão norte-americana (iniciada em 1929) é acentuado pela imagem em preto-e-branco.
Uma menina de 9 anos (Tatum O’Neal, estrando no cinema de maneira genial), Addie Loggins, perde a mãe, morta num atropelamento. Poucas pessoas estão no funeral em Kansas quando chega ao cemitério, intespestivamente e com seu carro barulhento, o vigarista Moses Pray (Ryan O’Neal, na vida real pai de Tatum). Tendo declarado ser um am igo da falecida, ele é convencido a levar a menina para outro estado (Missouri) e entregá-la à tia Billie que aparentemente nem a conhece. Addie vai emburrada mas quando descobre que Moses (que na verdade é seu pai e não quer assumi-la) ganhou 200 dólares de “indenização” pelo atropelamento de sua mãe, ameaça denunciá-lo e a partir daí ele é obrigado a aceitá-la como cúmplice de seus golpes que incluem a venda de Bíblias para viúvas recentes (verificáveis pelos obituários) como suposta entrega de encomendas feitas pelos falecidos maridos pouco antes de morrerem.
Que Moses é o pai de Addie é sugerido até pelo título do livro que inspirou a produção: “Addie Pray”, ou seja o sobrenome de Moses.
A partir dai tudo o que acontece é imprevisível nesta singular comédia, onde não falta o duelo cerebral de Addie contra Trixie, a sirigaita que entra na vida de Moses e ameaça levá-lo à ruína como sói acontecer com homens que se apaixonam pela pessoa errada.
Tatum O’Neal ganhou o Oscar de atriz coadjuvante mas o próprio produtor e diretor reconhece nos comentários do DVD que Addie é a figura principal da fita. Addie domina do princípio ao fim e já aparece em close logo na primeira cena. Ela é uma pestinha, mas uma pestinha super-inteligente e, percebe-se logo, muito mais inteligente que Moses, embora este seja um vigarista bastante esperto.
Moses já comprara um carro novo com quase 90 dos 200 dólares. Tivera outras despesas. Mas quando a menina, numa cena antológica, começa a cobrar em voz alta, numa lanchonete, os duzentos dólares, Moses percebe que não se livrará dela facilmente. Em pouco tempo a garota, percebendo a mecânica dos golpes, trata de aperfeiçoá-los transformando-se numa pequena vigarista. Isto não parece nada edificante, mas o que subjaz no enredo é algo mais profundo. É a estranha relação entre pai e filha, é a inteligência e coragem de uma guria prematuramente tornada órfã de mãe, que, ao que parece, era uma prostituta. Addie pegara o hábito de fumar apesar da pouco idade (nos comentários se esclarece que os cigarros eram de verdura), sabe que as crianças vêm da relação entre homem e mulher e que Moses pode ser seu pai embora ele faça questão de negar; ela não é facilmente enganada. Com o tempo laços verdadeiros vão se forjando, gerados pela convivência e pelas aventuras em comum.
Bogdanovith conseguiu um resultado ímpar, realizando um filme encantador e amparado principalmente no carisma da personagem Addie, genialmente representada pela estreante Tatum O’ Neal.
Rio de Janeiro,
ADDIE LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA
Miguel Carqueija
Resenha do filme “Moon paper” (Lua de papel) – EUA, 1973. Produção e direção: Peter Bogdanovith. Roteiro de Alvin Sargent, com base no livro “Addie Pray” de Joe David Brown. Com Tatum O’Neal (Addie Loggins), Ryan O’Neal (Moses Pray), Madeline Kahn (Trixie Delight) e John Hillerman.
“Eu quero os meus duzentos dólares!”
(Addie Loggins)
Poucos filmes têm o condão de divertir tanto e prender a atenção como este “Moon paper”, realmente artístico e fora do comum. Bogdanovith era, na época, uma nova sensação do cinema, havia trabalhado com Roger Corman e merecidamente era reconhecido como um grande talento. Em verdadeiro achado, filmou esta história sentimental (não chega a ser comédia, tem muito de drama) em preto-e-branco, o que em muito contribuiu para a qualidade da obra. A fotografia, afinal, tem muito a ver com o clima de uma película. E o caráter sombrio e desanimador da época da Recessão norte-americana (iniciada em 1929) é acentuado pela imagem em preto-e-branco.
Uma menina de 9 anos (Tatum O’Neal, estrando no cinema de maneira genial), Addie Loggins, perde a mãe, morta num atropelamento. Poucas pessoas estão no funeral em Kansas quando chega ao cemitério, intespestivamente e com seu carro barulhento, o vigarista Moses Pray (Ryan O’Neal, na vida real pai de Tatum). Tendo declarado ser um am igo da falecida, ele é convencido a levar a menina para outro estado (Missouri) e entregá-la à tia Billie que aparentemente nem a conhece. Addie vai emburrada mas quando descobre que Moses (que na verdade é seu pai e não quer assumi-la) ganhou 200 dólares de “indenização” pelo atropelamento de sua mãe, ameaça denunciá-lo e a partir daí ele é obrigado a aceitá-la como cúmplice de seus golpes que incluem a venda de Bíblias para viúvas recentes (verificáveis pelos obituários) como suposta entrega de encomendas feitas pelos falecidos maridos pouco antes de morrerem.
Que Moses é o pai de Addie é sugerido até pelo título do livro que inspirou a produção: “Addie Pray”, ou seja o sobrenome de Moses.
A partir dai tudo o que acontece é imprevisível nesta singular comédia, onde não falta o duelo cerebral de Addie contra Trixie, a sirigaita que entra na vida de Moses e ameaça levá-lo à ruína como sói acontecer com homens que se apaixonam pela pessoa errada.
Tatum O’Neal ganhou o Oscar de atriz coadjuvante mas o próprio produtor e diretor reconhece nos comentários do DVD que Addie é a figura principal da fita. Addie domina do princípio ao fim e já aparece em close logo na primeira cena. Ela é uma pestinha, mas uma pestinha super-inteligente e, percebe-se logo, muito mais inteligente que Moses, embora este seja um vigarista bastante esperto.
Moses já comprara um carro novo com quase 90 dos 200 dólares. Tivera outras despesas. Mas quando a menina, numa cena antológica, começa a cobrar em voz alta, numa lanchonete, os duzentos dólares, Moses percebe que não se livrará dela facilmente. Em pouco tempo a garota, percebendo a mecânica dos golpes, trata de aperfeiçoá-los transformando-se numa pequena vigarista. Isto não parece nada edificante, mas o que subjaz no enredo é algo mais profundo. É a estranha relação entre pai e filha, é a inteligência e coragem de uma guria prematuramente tornada órfã de mãe, que, ao que parece, era uma prostituta. Addie pegara o hábito de fumar apesar da pouco idade (nos comentários se esclarece que os cigarros eram de verdura), sabe que as crianças vêm da relação entre homem e mulher e que Moses pode ser seu pai embora ele faça questão de negar; ela não é facilmente enganada. Com o tempo laços verdadeiros vão se forjando, gerados pela convivência e pelas aventuras em comum.
Bogdanovith conseguiu um resultado ímpar, realizando um filme encantador e amparado principalmente no carisma da personagem Addie, genialmente representada pela estreante Tatum O’ Neal.
Rio de Janeiro,
Miguel Carqueija
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