sexta-feira, 11 de setembro de 2015

FILME: SEGREDOS DE SANGUE - STOKER



- Ele costumava dizer que as vezes a gente deve fazer uma coisa ruim para impedir que façamos uma coisa ainda pior.

O diretor Chan-wook Park ficou mundialmente famoso depois de lançar sua "trilogia da vingança". Em especial depois do capítulo do meio, Oldboy (que deve ser lançado em versão americanizada pelas mãos de Spike Lee). O que ele foi capaz de fazer, foi um filme que tinha um visual muito interessante, melodrama e muita violência. Em especial, um tipo de violência que não se vê em filmes rodados na terra do Tio Sam.
Em seu primeiro filme, não esperava que ele conseguisse manter tanto das qualidades que o levaram e ficar famoso internacionalmente. Logo na primeira metade do filme, o que sentimos é uma espécie de medo que apenas antecipa o que está por vir. O mundo de Park, tem cores dessaturadas, peles pálidas, movimentos de câmera lentos e uma atmosfera assustadora. É este o mundo da personagem India (Mia Wasikowska.
India é uma adolescente introspectiva e solitária que perde seu pai quando está fazendo seus 18 anos em um bizarro acidente de carro. Ela mora em uma casa enorme junto de sua mãe, Eve (Nicole Kidman), que não a toca. Nada pessoal, é apenas que India não gosta de ser tocada por ninguém. O humor da jovem vai ficando ainda pior com a chegada de seu tio, Charlie (Metthew Goode), que ela sequer sabia que existia.
Difícil imaginar que ela fosse muito melhor antes da morte de seu pai, já que quase ninguém no colégio sequer fala com ela. Ela é um tanto instável com mudanças de humor. Pode ter piorado pela morte do pai ou não, mas com certeza é a presença de seu tio que a deixa ainda mais instável. Em especial por: 1. tentar manter uma relação com ela, coisa que não gosta (provavelmente seu pai era o único que interagia com ela); e 2. começar a ter uma relação com sua mãe, o que a deixa enojada. Ele parece ler a mente da jovem em alguns momentos, mas não estamos diante de um filme sobrenatural. A verdade é muito mais assustadora.
Aos poucos, o diretor vai soltando importantes informações sobre os personagens e sobre a própria história. As vezes são revelações impressionantes, outras um tanto quanto decepcionantes. A aurea de mistério que se formou ao redor de India começa a se dissipar, e o filme começa a focar agora no personagem de Charlie, que começa a ser dissecado em uma história bizarra que envolve mortes e loucura.
Ainda que o filme possa caminhar de forma que pareça boba, há muito mais por trás de tudo isso. E somente faz com que o final seja muito bom apesar de um pouco irregular em seu desenvolvimento. Ele (o diretor) pode não ser um mestre do suspense, como Hitchcock, mas com certeza consegue segurar a tensão dando eventuais choques na plateia de tempo em tempo, choques quase cronometrados. Eu poderia falar agora toda a verdade sobre Charlie, e ainda assim não seria capaz de estragar a surpresa dos eventos da forma como vão decorrer.
Claro que em termos de violência, o diretor não pode manter o nível do que fez em seus filmes anteriores, mas a crueldade de seus personagens continua a mesma. Toda a maldade que se pode ver no mundo, continua lá. E em especial, a construção de um personagem interessante está lá. E essa personagem é India, que continua mantendo uma média de excelentes interpretações que marcam seus personagens. Apoiada por uma Kidman competente como sempre, mas em especial por um Goode que mostra que é um ator fantástico quando quer. Um elenco de peso que mantém o interesse do filme do início ao fim

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