O filme do diretor Nils Malmros, que, segundo o próprio é autobiográfico, é um drama forte e simples. Fala da história de um diretor de cinema popular que chega em casa numa noite e encontra seus sogros aflitos na sua casa. Em poucos segundos ele descobre, por meio deles, que sua esposa matou sua pequena filha num surto psicótico. Esta é a trama de Tristeza e Alegria. Podemos já ter cansado de ver histórias como essa ou um pouco parecidos. No entanto, o que chama a atenção neste filme é como o próprio diretor Nils vai conduzindo a história. O assunto é delicado? É. Mas, com uma delicadeza impressionante, você é colocado num thriller. E falo aqui no thriller não ao estilo norte-americano de ser. Mas bem ao estilo europeu (é, ficou clichê, eu sei). A busca pelo personagem, e agora você sabe que foi do diretor também, em tentar entender o motivo da mulher ter feito aquilo começa desde a primeira cena. Com ferramentas de vai e volta no tempo e tomadas focando os detalhes de cada recinto, de cada cena, Nils vai ajudando para que o espectador monte sua colcha de retalhos. Afinal, na história da vida, e ainda mais assim em casos de homicídio doloso (?) parental, somos todos costureiros. O filme conta com vários auges. A começar pelos atores principais: Jakob Cedergren (Johannes), Helle Fagralid (Signe) e Ida Dwinger (Else). Os três são fundamentais para o desenrolar da história e da sua análise. Os três estão muito bem em seus papéis. A química é perfeita e transcende a telona. Até arrisco em dizer que seus filmes valerão a ida ao cinema apenas por sua presença no roteiro. Qualquer longa que seja. Outro auge é o diretor colocar no longa-biográfico uma cena dele mesmo se enxergando, enxergando o desenrolar das coisas: a cena que o personagem de Johannes vai ao psiquiatra que irá inocentar ou acusar sua mulher no tribunal. Em tese, esta cena poderia ser desnecessária e limada do filme. Mas para ilustrar e captar aquele espectador desavisado ou que se perdeu no caminho da perícia analítica intelectual, a cena mostra o caminho das pedras. A fotografia e a trilha sonora também não podem ser esquecidas. Principalmente esta última, que te faz sentir determinado sentimento a cada passo do filme. O mais impressionante de tudo é que Nils consegue transpor a barreira do horror, do choque, e você não sai do cinema com energia pesada ou pesaroso. O filme é uma porrada, mas foi tão bem conduzido, montado, editado, que você sai tranquilo, calmo. É a mesma forma que Bryan Fuller conduziu em “Hannibal”, na história do canibal mais famoso do mundo. Não importa se o assunto é espinhoso ou não, basta conduzir e abordá-lo com suavidade, sem exageros. Aliás, esta nova maneira de se fazer filmes tem ganhado o meu respeito a cada vez mais. Parabéns, Nils! Boa diversão!
Todos os direitos reservados por Blah Cultural 2014. Este texto está protegido contra cópias. Se deseja obter nossa matéria, entre em contato com nossa redação através do email: redacao@blahcultural.com ou contato@blahcultural.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário