Não faz muito tempo, Lemmy Kilmister precisou cancelar uma turnê. O médico disse que estava na hora de ele parar de viver a vida heavy metal que levava. Ele disse que ia pensar. Este ano, no Brasil, durante o festival Monsters of Rock, Lemmy não pôde se apresentar por motivos de saúde. Sofreu distúrbio gástrico e desidratação. Agora ele usa um desfribilador no peito para manter o batimento cardíaco regular. E este ano, no Glastonbury, a banda terminou de tocar “Ace of Spades” e iniciou “Overkill”, mas ele continuou cantando a primeira. Foi um lapso, ele justificou depois. Estaria este distinto dinossauro do rock com seus dias contados? Ou pelo menos com a carreira perto do fim, obrigado a se aposentar compulsoriamente?
Pelo jeito, Lemmy Kilmister está em um carro com motor envenenado dirigindo por uma planície. Ele sabe que lá na frente há um precipício, mas ele não se importa. Assim como sua banda é famosa por tocar alto, sempre alto, ele pisa fundo no acelerador. Se é assim, que assim seja, ele pensa. Vai ser rock’n’roll até o fim, não vai arrefecer e nem mudar seu estilo de vida.
Pelo menos, é isso que parece que Lemmy está fazendo ao ouvirmos Bad Magic, o novo disco do Motörhead. Está empolgante e bad ass como sempre, divertido e forte. A voz de Lemmy, rouca, é a única coisa que nos lembra a idade do vocalista. De resto, nenhuma das faixas do álbum deixa entrever problemas de saúde ou preocupações com o fim – seja da vida ou da carreira.
Em dezembro, um dia antes do Natal, ele vai completar 70 anos. Embora o Motörhead comemore 40 anos de existência em 2015, a carreira musical de Lemmy chega aos 50, se contarmos o lançamento do primeiro LP de sete polegadas de sua primeira banda, The Rockin’ Vickers. Bad Magic é o 22º álbum da banda que é conhecida principalmente pelo clássico “Ace of Spades”, mas que tem muito mais o que mostrar. O novo álbum, aliás, não reinventa o heavy metal, não traz flertes com o eletrônico, não muda nada no som de uma banda que não é conhecida exatamente por ser inovadora. Mas mesmo assim, o que o Motörhead entrega são 13 ótimas músicas, 13 razões para ouvir o trabalho do começo ao fim repetidas vezes, 13 poderosos lembretes de que Lemmy está vivendo agora sua melhor fase na música.
Se você já conhece o Motörhead, já sabe o que vai encontrar em Bad Magic. Se não conhece, saiba que não falta energia, distorção e vigor na banda. O baixo Rickenbacker de Lemmy continua fazendo as bases competentes de sempre. O guitarrista Phil Wizzö Campbell mais uma vez destila power chords cheios de grave, riffs bem diretos e um bom senso absurdo para solar. O sueco Mikey Dee, na bateria, é um monstro do ritmo e nunca baixa a guarda, fazendo você até querer dançar.
Por isso, nem é preciso descrever as músicas neste texto. Vamos apenas dizer que um senhorcool como Lemmy faz músicas tão empolgantes quanto o Foo Fighters, sem firulas e com a força de um Black Sabbath. Os temas também são aqueles velhos conhecidos do rock setentista e oitentista, já anunciados nos nomes das faixas: “Victory or Die”, “Thunder & Lightining”, “The Devil”, “Evil Eye”, “Teach Them How to Bleed”, “Tell Me Who to Kill”, “Choking on your Screm” e a ótima “When the Sky Comes Looking For You”.
A surpresa do Motörhead fica por conta do cover para “Symphathy for the Devil”, dos Rolling Stones. Mickey Dee recria a percussão tribal e Wizzö coloca mais distorção na guitarra. A voz de Lemmy cai muito bem à faixa e, apesar de soar mais agressiva do que a original, ainda é muito fiel a ela.
O que o Motörhead mantém firme é, sobretudo, sua pegada. As músicas soam como rock clássico, mas anabolizadas por captadores mais musculosos, pedais ruidosos e uma pose de rockstar motoqueiro que dão todo o ar metaleiro da banda. Não é a toa que o grupo era para ser o equivalente inglês, lá em 1975, dos MC5, a clássica banda de Detroit que também era pesada, distorcida e cheia de riffs poderosos. Bad Magic é só mais um capítulo disso. Lemmy é um sobrevivente dos excessos do rock, da mesma estirpe que Ozzy Osbourne e Keith Richards. E assim como esses dois, Lemmy diz que só a morte vai pará-lo e que não largará a música “contanto que possa andar do fundo à frente do palco sem uma bengala. Ou mesmo se eu tiver que usar bengala”, ele diz ao Guardian.
Diferente daquilo que o nome possa induzir, "A Separação", do diretor Asghar Farhadi, fala mais sobre o distanciamento e falta de diálogo de um povo do que o rompimento de duas pessoas em particular. Tendo como pano de fundo o processo conturbado de alienação entre Simin (Leila Hatami) e Nader (Peyman Moadi), a contundente obra explora os costumes aparentemente absurdos dos iranianos, norteados principalmente pela religião, que se mistura de forma perigosa com as leis do país.
Dois universos em conflito nos são apresentados: primeiramente conhecemos a família de Nader, de classe alta, ávida por conhecimento, educação e praticante de atitudes igualitárias na questão "homens e mulheres". Seus problemas são simbolicamente representados pela saúde debilitada do pai de Nader, que sofre de Alzheimer, fato que acarreta a separação do casal mediante a decisão de Simin deixar o Irã com a filha Termeh (Sarina Fahardi). Nader escolhe ficar para cuidar do pai.
Já do outro lado temos a empregada Razieh (Sareh Bayat), mulher extremamente temente a deus. Seu marido Hodjat (Shahab Hosseini) segue a mesma linha extremista, exemplificando para o público os efeitos de tal devoção exacerbada, caracterizada por uma violência carregada de ignorância, sentimentos de culpa e eterna posição de vítima das situações.
Estas duas vertentes de famílias iranianas são expostas de maneira bem definida, sendo que, inicialmente, ambas parecem distintas - com suas qualidades e defeitos bem claros -, mas isso se transforma com o decorrer da trama, que nivela ações cabais quando tudo colide de forma abrupta.
O roteiro de Farhadi fala de ressonâncias, descarrilhamentos, e como eles se movimentam de forma perigosa, afetando na maioria das vezes quem parece estar fora de alcance. A falta de comunicação é a própria lei do Irã, uma mentira velada, incrustada, que ganha força na brutalidade e manipulação, naquele que é vítima máxima perante deus. A mentira para o homem se mostra lei, já diante do senhor, maldição. Não existe mais tolerância entre aqueles que se amavam, apenas um orgulho corrosivo que se agarra em uma honra duvidosa. As ilusões de inocência afetam principalmente as crianças, as verdadeiras vítimas em potencial de toda a encenação dos surreais tribunais, onde "altos e baixos" novamente se tornam iguais, pares, sem separação, mas tão distantes.
No final, "A Separação" usa o fim de um relacionamento, primeiramente para aproximar qualquer etnia até sua trama, e depois, para explorar as dificuldades, qualidades e principalmente defeitos do povo iraniano. De forma sufocante, o diretor visita o momento em que a vida, plena e satisfatória, muda diante dos olhos e nada pode ser feito. O sentimento de impotência e descontrole toma conta dos personagens. Olhando de fora, o público pode até fazer seu veredicto, apontar as inconsistências de um, defender a postura de outro, ou entender o sofrimento, relevar as ofensas.
Mas não existem culpados ou inocentes nesta separação do povo iraniano. Todos, ironicamente, são vítimas da situação. Farhadi a todo momento mostra que a reconciliação é possível, na verdade é muito próxima, pois ainda existe amor. Mas ele, o amor, encontra suas barreiras no orgulho esmagador de ambas as partes, na desconfiança. É aí, de forma simbólica, diante desta relação disfuncional, que o diretor traça o paralelo com a história de seu próprio país, enfatizando principalmente a angústia e questionamento dos filhos ao redor, os que mais sofrem e a única esperança de um futuro menos caótico para o Irã.
Toda a história do Facebook propõe uma bela ficção, ainda mais quando contada pelas mãos mais que competentes de David Fincher, aclamado diretor de clássicos modernos como “Clube da Luta” e “O Curioso Caso de Benjamin Button”. Sendo primeiramente visto como um projeto inusitado, o filme é hipnotizante do começo ao fim, e traça passo a passo a velada guerra daqueles que um dia foram parceiros de negócios, e também amigos. Mark Zuckerberg, criador do Facebook, mais novo bilionário da história e potencialmente um Bill Gates desta geração, é esmiuçado com um olhar clínico, que por vezes vangloria sua inteligência e sagacidade, assim como expõe todos seus defeitos claramente perceptíveis. Conclusivo e preciso como uma máquina, o jovem prodígio agia como uma, controlando seus sentimentos, seus amigos e trabalhos de forma assustadoramente fria e calculista. Em um mundo que se rendeu a era digital, Zuckerberg era rei e o Facebook seu reinado, um reinado que de tão importante se tornou maior do que ele ou qualquer outro que atravessasse seu caminho.
Roteirizado de forma auspiciosa por Aaron Sorkin (Jogos do Poder), a história apresenta fatos contundentes desta disputa judicial acirrada. Hora vemos Zuckerberg encarando Divya Narendra e os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, pretensos criadores de uma idéia que poderia ter se transformado no Facebook. Já no outro corner temos Eduardo Saverin, brasileiro tido como co-fundador do site e também único amigo de Zuckerberg na época, que o trairia posteriormente. Alicerçada pelo livro de Ben Mezrich “The Accidental Billionaires: The Founding of Facebook, a Tale of Sex, Money, and Betrayal” (livro que teve Saverin como principal fonte), a história contada parece tirada dos autos do caso, em cenas simplesmente eletrizantes onde o nível intelectual de Zuckerberg se destaca, sendo muitas vezes inteligentemente evasivo e também cruelmente verdadeiro.
Em meio a isso, de forma atemporal, a história se desenrola conforme vai sendo citada neste julgamento de gente grande (grande conta bancaria). Está tudo lá: a chacota com Harvard e sua respeitável rede que foi abaixo depois do compartilhado Facemash, a evolução ensandecida do novo thefacebook, a ira dos traídos, a idolatria por Sean Parker, sujeito que simplesmente ensinou a internet a compartilhar seus downloads através de sua Napster, e claro, o início de tudo, o homérico fora de Zuckerberg, que o deixou bêbado e potencialmente criativo (ou seria vingativo?). Tudo devidamente registrado em seu blog, no qual escrevia simultaneamente enquanto programava tudo e todos ao mesmo tempo.
Com um nível de amadurecimento além das expectativas (já muito boas), a destreza do diretor David Fincher se revela em cada cena. A precisão dos movimentos de sua câmera, o respeito e atenção com que aborda seus personagens e locais - como a apresentação dos títulos iniciais que revela Harvard de forma gradualmente bela-, e com cenas de impacto sem igual- como a disputa de remo que parece ser filmada por um Kubrick moderno. Com montagem simétrica e fotografia excelente (de Jeff Cronenweth que fez “Clube da Luta”), o filme funciona em todas as camadas. Ponto forte fundamental é a trilha sonora de Trent Reznor (da banda Nine Inch Nails) e Atticus Ross. Sendo uma mistura homogênea, ela é clássica e sutil quando aborda cenas de contemplação, e pulsante, eletrônica e orgânica quando quer instigar suas sequências perfeitamente amarradas. Seguindo a mesma linha de todas suas obras, Fincher consegue tirar tudo de seus atores, neste caso, jovens em ascensão. Jesse Eisenberg já mostrou que gosta de flertar com o humor em filmes como “Zumbilândia” e “Férias Frustradas de Verão” (péssimos nomes, se me permitem comentar), mas foi como Zuckerberg que ele realmente provou ser um ator digno de nota. Não fugindo muito de seu estereotipo, Eisenberg emprega de forma madura e assustadoramente competente o tom robótico de seu personagem, e no mínimo merece respeito por despejar toneladas de frases absurdamente complicadas sem ao menos piscar, proeza que se torna difícil até para os mais experientes rappers da atualidade. Mesmo que aprisionado a esta chatice latente, o ator consegue sutilmente fazer com que as emoções desse Zuckerberg de Fincher sejam exploradas, o tornando humano, e assim demonstrando como somos privilegiados por termos relações mais enfáticas do que o garoto bilionário. Sua camuflada fraqueza faz dele o anti-herói atormentado que ganha o público.
Ainda no mesmo nível, Andrew Garfield apresenta muita naturalidade em cena como o brasileiro Eduardo Saverin. Muito mais passional, seu personagem é o coração mais humano entre todos, fazendo de seu carisma a vergonha da traição de Zuckerberg. Justin Timberlake também chama a atenção com seu Sean Parker, nerd figurão que traz um histórico de polêmicas para a fundação do Facebook. Seu raciocínio acelerado e simpatia vão de encontro com sua falsidade congênita. Temos ainda Armie Hammer ao dobro como os honrados cavalheiros de Harvard, os irmãos Winklevoss, Rooney Mara como o amor perdido Erica Albright e Rashida Jones como a advogada assistente Marylin Delpy, que mostra para Zuckerberg que nem tudo está perdido para ele no assunto “relacionamentos”. Como disse no início, querendo ou não, tudo é ficção. Talvez a invenção do Facebook não tenha sido esse drama todo, mas inegavelmente o filme de David Fincher, através de um simbolismo ampliado e utilizando de códigos variados, consegue alcançar um resultado que pode ser considerado algo bem próximo da realidade. Com um roteiro dinâmico e perfeitamente talhado, com diálogos inteligentes, por vezes psicologicamente arrasadores, a obra se torna mais uma pérola na coleção do diretor. Filme para se ver várias vezes.
A Rede Social/ The Social Network: Estados Unidos/ 2010/ 120 min/ Direção: David Fincher/ Elenco: Jesse Eisenberg, Rooney Mara, Andrew Garfield, Rashida Jones, Justin Timberlake, Armie Hammer
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
“A Bruxa” tem provocado alvoroço desde a sua passagem pela última edição do Sundance Film Festival. Saindo desse festival de cinema independente com o prêmio de Melhor Direção, Robert Eggers vem sendo considerado uma grande promessa. As expectativas foram ampliadas com o material da produção sendo cuidadosamente divulgado e com o acúmulo de novas críticas positivas com as exibições no Festival de Toronto.
Tendo o brasileiro Rodrigo Teixeira como um dos produtores, “A Bruxa” assegurou exibições na 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo antes de seu lançamento comercial no Brasil e no mundo, programado para fevereiro de 2016. Foi um dos filmes mais disputados em toda a programação e a expectativa era de ver o terror mais assustador entre os mais recentes que vieram a público. A verdade é que o resultado não foi uma unanimidade, ainda que uma grande fatia tenha celebrado “A Bruxa” com o mesmo entusiasmo da imprensa internacional.
A competência técnica é inquestionável, assegurando a atmosfera de misticismo que cerca e amedronta Thomasin (Anya Taylor-Joy), a protagonista de “A Bruxa”, uma jovem que muda com a família para uma fazenda próxima a uma floresta obscura por desrespeitarem os preceitos de uma aldeia religiosa. Estamos na Nova Inglaterra do século XVII e o isolamento é o pior temor que Thomasin, os seus pais (Ralph Ineson e Kate Dickie) e irmãos (Harvey Scrimshaw, Lucas Dawson e Ellie Grainger) poderiam vivenciar.
Pior do que as plantações que não prosperam e o inverno rigoroso é o mal que parece enraizado no ambiente, que rapidamente causa o desaparecimento do caçula desta família, um recém-nascido capturado e morto por uma bruxa. Thomasin era a responsável pela sua guarda quando o bebê lhe foi tomado, mas, não tendo visto nada, deduz se tratar de um lobo. Mas eis que novos eventos se manifestam e todos os dedos são apontados para a inocente Thomasin.
Bruxaria, magia negra e possessão são alguns dos fenômenos principais da narrativa de “A Bruxa”, roteirizado a partir de lendas do mesmo período que recria. Era um contexto de uma sociedade movida por superstições e com verdadeiras caças às bruxas. Robert Eggers encontrou grande potencial no material, tendo respeitado inclusive o inglês agora antiquado das figuras representadas por Thomasin e sua família.
Mesmo fazendo bom uso de paisagens mortas, de uma música de Mark Korven que acentua o horror e de imagens que geram um desconforto antecipado (como o do impotente bode preto que aparentemente se comunica com os irmãos gêmeos interpretados por Dawson e Grainger), existe em “A Bruxa” a exploração não muito convincente dos credos como uma repressão, como uma impotência para confrontar os perigos que se materializam. É como se chegássemos ao final de “A Bruxa” sem acreditar integralmente no dilema entre prosseguir com as amarras da fé e a liberdade advinda do nefasto.
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Com apenas 35 anos, o espanhol Carlos Vermut até então era reconhecido como ilustrador e autor premiado de graphic novels. Desde 2009, estudou uma mudança de carreira com a realização dos curtas “Michirones”, “Maquetas” e “Don Pepe Popi”, bem como o longa “Diamond Flash”. Se não obteve com eles grande visibilidade, Carlos Vermut consegue com “Magical Girl, A Garota de Fogo” provar o extremo domínio que possui da linguagem cinematográfica.
Neste thriller recheado de reações desconcertantes, quando não extremas, há tudo que dignifica um grande filme. Desde o princípio, Carlos Vermut estabelece uma relação de cumplicidade com o público ao confiar em sua inteligência. Portanto, em “Magical Girl, A Garota de Fogo”, nós vemos o que é preciso ser visto, enquanto as lacunas são preenchidas com a imaginação que esse quebra-cabeça propõe.
Temos aqui três protagonistas, cada um dominando um dos atos. Aparentemente desconexa, a primeira cena de “Magical Girl, A Garota de Fogo” traz a pequena Bárbara (Marina Andruix) pregando uma peça em seu professor, Damián (José Sacristán). Guarde este momento na memória, pois acompanhamos outro período em que ele será crucial para os minutos finais.
A seguir, acompanhamos o drama de Luis (Luis Bermejo), um professor desempregado de literatura obstinado em realizar os últimos desejos de Alicia (Lucía Pollán), sua filha de 12 anos com leucemia. Os livros vendidos em um sebo não são o suficiente para Luis arrecadar uma boa quantia e comprar o figurino de Yuriko, a protagonista do anime “Magic Girl” a qual Alicia é uma grande admiradora.
As necessidades de Luis se cruzam com a instabilidade de uma já madura Bárbara (Bárbara Lennie, extraordinária e assustadora), que passa os seus dias trancafiada no apartamento de seu marido rico e insensível Alfredo (Israel Elejalde). Uma relação sexual entre os dois dá vazão a uma interação movida por chantagens, depravações e um acerto de contas com um personagem que mudará o rumo de tudo.
Carlos Vermut adota a estrutura de fragmentos para o seu roteiro, sem que necessariamente intervenha na cronologia dos acontecimentos. Isso garante interesse a “Magical Girl, A Garota de Fogo”, que amplia o interesse pela antecipação de ações e que vai além das expectativas não somente com o clímax explosivo, como também com uma conclusão sarcástica que fecha de forma circular este que talvez seja o melhor filme exibido na 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Moby-Dick is the story of a captain driven mad in his pursuit of a whale. But, as Ron Howard's In the Heart of the Sea reveals, the events that inspired Herman Melville were even more terrifying
Two thousand miles from the nearest land, the crew of the Essex watched in horror as the enormous bull whale headed for their mother ship. Marooned in small, open boats the 20 men stood, powerless, as the creature struck their vessel at full speed.
Wood splintered, the whole structure of the ship shook. Then, after swimming off to leeward, the whale gathered its strength and came thundering towards the Essex again, even faster than before. As the crew floundered in the middle of the Pacific they knew their lives were in danger. None, though, was prepared for the appalling choices they were going to have to make in the days and weeks that followed.
The story of the Essex and the lengths to which its crew went in order to survive is part of maritime lore and the subject of the new film In the Heart of the Sea, dramatising the real-life voyage that inspired Herman Melville to write his novel Moby-Dick. Starring Chris Hemsworth, best known for playing Thor in the Avengers movies, In the Heart of the Sea, directed by Ron Howard, attempts to be both an action-packed drama and a disturbing portrayal of the human response to extreme hunger.
In the early 19th century, whaling was probably the most unpleasant, dangerous and least rewarded of all occupations. A whaler’s life was mired in blood and blubber, stalled by immense periods of boredom and often abruptly curtailed by violent death. Signing on for a whaling voyage could mean up to five years away from home, and a journey to the other end of the Earth, in order to do battle with the great leviathan of the seas – the sperm whale.
Ever since 1712, when they had first set out from Nantucket, Yankee whalers had supplied the Western world with whale oil. The streets of London, New York, Berlin and Paris were lit by it; the mills and machinery of the Industrial Revolution ran on the same stuff. Whaleships were the equivalent of modern oil tankers, earning millions of dollars for the new republic and exporting its influence around the world.
It was this heroic, filthy, abusive and highly lucrative (for its shipowners) business that Melville recorded in Moby-Dick. Published in 1851,his bookwas wildly digressive; 135 chapters filled with everything he knew about whales and whaling – a result of his own whaling voyages in the 1840s.
But much more than that, Moby-Dick became a kind of modern American myth, woven around the legendary battle between man and whale, incarnate in the figure of Captain Ahab. The monomaniacal commander of the Pequod goes in search of the fantastical White Whale which had “dismasted” him, biting off his leg. Now Ahab scours the South Seas, seeking revenge on the gigantic creature. To land-bound readers of Moby-Dick, it must have seemed a far-fetched, if thrilling, tale. Could a whale really attack and sink a great ship, as Moby Dick does in the final, apocalyptic chapters of Melville’s book? The astonishing answer was yes. And not only that, the gruesome details of the true story exceeded any fictional account.
Even now, the story depicted in In the Heart of The Sea seems unbelievable. But for a first-hand account of those events, we can turn to the words of the men who lived through them – and survived to tell the tale.
On August 12 1819, the Essex, an 87ft, 238-ton whaleship, set sail from Nantucket. The captain was George Pollard, a man whose subsequent experiences were destined to haunt him as much as his fictional counterpart Ahab, while his first mate, Owen Chase, became the role model for Ahab’s first mate, Starbuck (although better known now for the global chain of coffee shops named after him).
By November 1820, the Essex had reached the Pacific equator, 2,000 miles from the South American coast. The voyage had been uneventful – until now. That morning, November 20, the weather was fine and clear. A pod of whales was sighted by the lookout. The men set to with gusto – whales meant dollars, after all. The slender, fast, clinker-built whaleboats, built to ride high in the water, were lowered from the sides of the ship, and the hunters set off in pursuit of their prey.
The sperm whale is no mean adversary. It is the largest predator that ever lived, and although modern sperm whales grow to only 65ft, Melville and his fellow whalers recorded whales 80 or even 100ft long. (Scientists think intensive hunting in the 19th century reduced the number of very large bull sperm whales, thereby affecting the overall size of the population, genetically. Hunting has also reduced the world population from 1.6 million to fewer than 360,000.)
Armed with a lower jaw studded with 42 teeth, it’s a formidable opponent if driven to defend itself. Its tail, as broad as a house, could dash a flimsy whaleboat to smithereens, and often did. The sperm whale is also the only cetacean that can swallow a human being, and, again, has done so, albeit by accident, in the melee of a hunt. (It’s not a nice way to go: its gastric juices are so acidic that sailors cut out of whales have been bleached white by the process.)
Yet this mammal is also highly social, sentient and communicative – it posseses the largest brain in nature. And despite its size and power, it is extraordinarily placid, timid, even. I’ve made a special study of the whale, in the writing of my books, Leviathan and The Sea Inside, and can attest to its overwhelmingly pacific nature. But then, I’ve never come at one with a harpoon.
The crew of the Essex set upon the pod. Owen Chase, at the prow of the whaleboat, threw his weapon into a whale. “Feeling the harpoon in him, he threw himself, in agony, over towards the boat and, giving a severe blow with his tail, struck the boat,” Chase wrote in an account published in 1821. Realising that if he didn’t act quickly, the whale might drag them down, Chase took an axe and cut the line.
At the same time, Captain Pollard was in his whaleboat, attempting to harpoon another large whale. But then, to his amazement, Chase saw, much closer in, “a very large spermaceti whale about 85ft in length” heading directly at their mother ship, “as if fired with revenge” for the sufferings of its fellow whales.
Chase watched, horrified, as the whale “came down upon us at full speed, and struck the ship with his head, just forward of the fore-chains; he gave us such an appalling and tremendous jar, as nearly threw us all on our faces. The ship brought up as suddenly and violently as if she had struck a rock, and trembled for a few seconds like a leaf.”
Even the whale appeared to have been dazed by the blow. It lay motionless, briefly, before making off to leeward. But then it “started off with great velocity”, Chase reported, “coming down apparently with twice his ordinary speed, and with tenfold fury and vengeance in his aspect”. Its jaws were snapping together, and the surf flew as it thrashed the water with its tail.
I’ve seen sperm whales snap their jaws this way – it’s usually a sign of stress. I’ve also been warned off from getting too close by the thundering slap of their muscular tails, usually because they were protecting a young calf. Indeed, contemporary whale scientist Prof Hal Whitehead has speculated that the whale that attacked the Essex was defending its own young – it was a characteristic, cruel tactic of whalers to harpoon calves, in order to bring the more valuable adults within range. Having said this, there are few incidents of sperm whales attacking ships; one of the only other recorded incidents was the one on the whaleship Ann Alexander in 1851, 31 years after the attack on the Essex.
Whatever the motive of this seeming monster, it rammed the ship with its head for a second time. This sickening blow was fatal for the vessel – with the sea gushing in its side, it was clear that the Essex was sinking. Pollard, who had now returned to his stricken vessel, cried, “My God, Mr Chase, what is the matter?” “We have been stove by a whale,” came the answer.
Hurriedly, the crew, all 20 of them, took to the three remaining whaleboats. As the Essex sank, they rescued what they could: 6lb of hard bread; three casks of water; a musket, powder, tools; “and a few turtles”. Chase also managed to salvage his sea chest – and with it, precious paper and pencil with which he would record their ordeal.
They also saved navigational materials – but it was in using these that Pollard and Chase made their great mistake. They found that the nearest inhabited islands were the Marquesas, to the west. But they feared that their natives were cannibals, and so decided to try the longer route, eastwards, to Chile. It was a terrible irony, given what happened next.
Having fashioned sails, they set off in three boats. They were at the mercy of currents and winds; often they drifted, lost on the infinite sea. Chase calculated that their food would last 60 days – but the bread got soaked and, once dried, its saltiness merely increased the men’s thirst. At night the boats would drift apart in the darkness, desperately signalling to each other with lanterns. Suddenly, on December 20, a month after they had been wrecked, they sighted land, “a blessed vision like a basking paradise before our longing eyes”, as Chase put it.
But Henderson Island was no tropical paradise. It contained little fresh water and they had soon killed all the birds they found, so on December 26 they decided to try to reach South America – now 3,000 miles distant. Three men decided to stay on the island and take their chances there.
Their fellow sailors were soon far out at sea. Burnt by the blazing sun during the day, at night sharks swam about the boat, snapping as if to “devour the very wood”. With only three days’ food left, extreme hunger was depriving the men of their “speech and reason”, wrote Chase. They reconciled themselves to the inevitable. “The black man, Richard Paterson, was perfectly ready to die.” He did so of his own accord: six of the Essex’s crew were African-American, and none would survive.
But as Paterson’s body was committed to the deep, Chase realised that they couldn’t afford to jettison such a source of sustenance again. As the next man, Isaac Cole, succumbed to madness and death – dying “in the most horrible and frightful convulsions I have ever witnessed” – the decision was made to eat him. Cole’s body was dismembered, the flesh cut from his bones. They sliced open his trunk and took out his heart.
“We now commenced to satisfy the immediate cravings of nature from the heart, which we eagerly devoured, and then ate sparingly of a few pieces of the flesh,” Chase wrote. The rest they cut into strips and hung up to dry for future consumption. They even roasted their victim’s organs on a fire made on a stone at the bottom of the boat. Chase and the remaining crew had been reduced to savages, ironically more than any Pacific islander they had sought to avoid.
Their boat had become a charnel house: “We knew not then to whose lot it would fall next, either to die or be shot, and eaten like the poor wretch we had just dispatched.” With morbid practicality, Chase worked out a gruesome formula: three men could live for seven days off one human corpse.
By now, the three boats had become separated. One drifted off and was never heard of again. In Captain Pollard’s boat three men died; all were eaten; all were black. After this, the white men began drawing lots and Pollard was forced to watch as his own young nephew, Owen Coffin, drew the black dot. Bowing to his fate, Coffin lay down his head on the gunwale, was shot, and consumed.
Cannibalism had saved the Essex’s survivors. But at a price. On February 18, after almost three months at sea, Chase’s boat sighted a sail – a London brig, the Indian. Their rescuers were shocked at what they found, said Chase: “Our cadaverous countenances...with the ragged remains of clothes stuck about our sun-burnt bodies, must have produced an appearance affecting and revolting in the highest degree.”
Five days later, Pollard and the only other survivor in his boat, Charles Ramsdale, were rescued by the Nantucket whaleship the Dauphin. It was claimed they were, “found sucking the bones of their dead mess mates, which they were loath to part with”. They too were taken back to Valparaiso, from where a ship was sent to rescue the three men from Henderson Island. They’d managed to survive on the scant water they’d found, fish, and a few birds.
Just eight of the Essex’s crew had survived. All went back to sea but, amazingly, Pollard was shipwrecked a second time and never took command of another ship, “for all will say I am an unlucky man”. Instead, he became a nightwatchman in Nantucket, wandering the island, haunted by his ordeal.
When a writer asked him about his experiences, Pollard replied, “I can tell you no more – my head is on fire at the recollection.” (A more macabre story also went around: that when asked if he’d known Owen Coffin, Pollard would answer, “Know him? Why, I et [sic] him!”)
Chase too was a guilt-ridden man. His ghostwritten account was published in an attempt to capitalise on the story – or, perhaps, to set aright the more sensationalist versions. Later, Thomas Nickerson, the 14-year-old cabin boy, produced his own account, claiming they had not eaten Cole. Perhaps he sought to erase the memory by denial.
Chase could not forget, however. As he aged, he stored supplies of food in his attic, as if he believed he might once more face starvation – and that terrible dilemma. Plagued by headaches, he would cry, “Oh my head, my head”, and by the time he died in 1869 he had been declared insane.
Today the island of Nantucket is a quiet, reserved place. The whalers have long since left its cobbled streets, though the mansions that the shipowners built from their bloody profits still stand. Their blank, silent windows look out to sea, testament to the extraordinary horrors that those men of the Essex suffered, out on the infinite deep.
É possível ressuscitar o detetive Hercule Poirot com toda a sua astúcia? O que dizer de reviver Drácula sem a pena sinistra de Bram Stoker? Criar um personagem de sucesso nos livros é um feito para poucos. Há alguns tão atraentes que nos sentimos miseráveis quando o último livro de uma série acaba, no caso de o autor original já não estar mais entre nós. Mas você sabia que há vários casos de livros famosos que ganharam sequências criadas por autores alternativos?
Por mais estranho que pareça, a história está recheada de continuações para livros inesquecíveis, seja porque a obra caiu em domínio público ou os herdeiros dos direitos autorizaram uma retomada. Em alguns casos, as continuações são bem aceitas pela crítica e continuam a conquistar gerações de leitores. Em outros, são jogadas na sarjeta do esquecimento.
A seguir, selecionamos 10 sequências que nasceram de um sucesso, mas escritas pelas mãos de segundos autores. Confira aí e diga qual você achou mais estranha.
1- A Casa de Seda – Anthony Horowitz
O britânico Anthony Horowitz é um apaixonado confesso por Sherlock Holmes. Tem várias inserções na literatura policial e juvenil, além de onze episódios da série de TV Agatha Christie’s Poirot e também um romance para a franquia James Bond. Em A Casa da Seda (Zahar, 2012), Horowitz faz as vezes de Arthur Conan Doyle numa trama que se passa em Londres, em novembro de 1890. O livro foi o primeiro a ser oficialmente reconhecido pelo Conan Doyle Estate, que administra o legado do autor. Horowitz disse que levou longos três segundos para aceitar o convite da organização! Assim, “A casa da seda” foi lançado em homenagem aos 81 anos da morte de Conan Doyle.
2 – Morte em Pemberley – P. D. James
Imagine uma das principais escritoras policiais sequenciando uma das maiores autoras clássicas inglesas. Pensou em P. D. James e Jane Austen? Acertou. A baronesa do crime retoma a atmosfera de Orgulho e Preconceito, avança um pouco no tempo, e nos oferece um enredo daqueles! Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy se casaram, tiveram dois filhos e têm tudo para viverem felizes para sempre em sua propriedade rural. Até que assassinam o cunhado de Elizabeth… Morte em Pemberley (Cia das Letras, 2013) traz a aristocracia, seu glamour e suas intrigas. Nossos amáveis personagens não estão apenas envolvidos em gravatas e echarpes, mas cobertos também por um manto de mistério.
3 – Scarlett – Rhett Butler
“Francamente querida, eu não dou a mínima”. Será que Rhett Butler repetiria a clássica frase de E o Vento Levou… para Alexandra Ripley? Afinal, a romancista norte-americana escreveu a primeira sequência oficial do relato épico da Guerra de Secessão, originalmente criada em 1936 por Margaret Mitchell. O livro é a continuação da saga, mostrando como a vida seguiu para a temperamental Scarlett O’hara, Rhett Butler e Ashley Wilkes. Apesar de ter agradado o público – o livro vendeu 6 milhões de cópias -, a história foi rejeitada pela crítica. Scarlett saiu em 1991 pela Editora Record.
4 – A Garota na Teia de Aranha – David Lagercrantz
Fenômeno editorial da última década, a série Millennium vendeu cerca de 100 milhões de exemplares no mundo desde o primeiro volume, Os Homens que Não Amavam as Mulheres. O sueco Stieg Larsson, jornalista e ativista pelos direitos humanos, utilizava o tempo livre para criar as histórias com a alucinante Lisbeth Salander, expondo violências sofridas pelas mulheres e uma heroína disposta a lutar por elas. Larsson morreu antes da publicação do primeiro livro e sem imaginar o tamanho do sucesso que conquistaria. Em 2015, seus herdeiros autorizaram uma continuação para a até então trilogia, liberando o volume 4 com A Garota Na Teia de Aranha (Cia das Letras, 2015). A sequência foi escrita pelo também jornalista sueco David Lagercrantz, e causou polêmica principalmente por não ter tido o aval da viúva Eva Gabrielsson. Um dos lançamentos mais populares do ano – foram vendidos duzentos mil exemplares só na primeira semana nos Estados Unidos -, o livro deve ser adaptado para o cinema pela Sony Pictures.
5 – Drácula – O morto-vivo – Drace Stoker e Ian Holt
Veja o sobrenome! Sim, Dacre Stoker é sobrinho-bisneto de Bram Stoker, o irlandês que publicou Drácula em 1897. Para dar sequência ao clássico gótico, Dacre pesquisou documentos e anotações não aproveitadas pelo bisavó, encontradas no Museu Rosenbach (Filadélfia). Também usou o título que Bram originalmente pensou para o clássico. Ambientada em 1912, a trama tem até uma aparição do “pai” do vampiro. Publicado em 2010 pela Ediouro, o livro vem com ilustrações de Ian Holt.
6 – James Bond, a série
O espião James Bond é uma criação do escritor e jornalista britânico Ian Fleming. O agente secreto mais famoso do mundo ganhou vida em 1953, com Cassino Royale, e todo ano Fleming escrevia uma nova história do personagem. Foi assim até 1966, quando o autor morreu de ataque cardíaco. Desde então, vários autores escreveram sequências para a franquia, como Kingsley Amis, John Edmund Gardner, Raymond Benson, Sebastian Falks, Jeffery Deaver e William Boyd. O cinema foi o terreno onde Bond mais brilhou e, após todas as tramas originais serem adaptadas, a série passou a produzir filmes com roteiristas que procuraram manter o estilo de Fleming. Parece que deu certo.
7 – Os Crimes do Monograma – Sophie Hannah
Recolocar o detetive Hercule Poirot em cena e agradar aos milhões de fãs de Agatha Christie são tarefas que deveriam compor os doze trabalhos de Hércules! A inglesa Sophie Hannah aceitou o desafio em Os Crimes do Monograma, lançado em 2014 pela Nova Fronteira. Ao contrário do que se possa imaginar, o detetive não reaparece em tempos modernos mas sim em 1929, investigando crimes misteriosos no coração de Londres. Ao seu lado está o policial Edward Catchpool, o equivalente ao Capitão Hastings, o parceiro original. A sequência foi autorizada pelos herdeiros de Agatha mas dividiu opiniões entre os fãs, que não viam uma nova história com o detetive desde a morte da escritora, em 1976.
8 – A Volta do Poderoso Chefão – Mark Winegardner
Quem não conhece os Corleone, essa família simpática, repleta de gente que não aceita quando as coisas contrariam seus interesses? Mario Puzo fez história ao trazer à tona mafiosos que não apenas matam e se livram dos corpos de seus desafetos. Eles se casam, têm filhos, são religiosos! É difícil não se apaixonar por personagens tão sanguíneos e sanguinários, que nos foram apresentados nos anos setenta e chegaram às telonas nas décadas seguintes. Muitos fãs esperavam que Puzo retomasse a história, mas ele não mostrou interesse. Antes de morrer em 1999, ele autorizou Mark Winegardner a fazer a sequência, que saiu em 2005 pela Editora Record.
9 – 60 Anos Depois – Do Outro Lado do Campo de Centeio – Fredrik Colting
Em qualquer lista de livros obrigatórios do século 20, encontraremos O Apanhador no Campo de Centeio, um clássico de J.D.Salinger que ajudou a inventar a adolescência norte-americana. Criou fama pelo protagonista, o personalíssimo Holden Caulfield, e por levar o escritor ao seu completo isolamento. Salinger virou um bicho do mato, e isso alimentou uma série de lendas em torno dele. O fato é que, nesta sequência, Fredrik Colting junta criador e criatura num mesmo enredo. Imagine o sempre jovial e rebelde Holden na pele de um velhinho que simplesmente deixa pra trás o lar de idosos e parte atrás de mais uma aventura.
10 – A Loura de Olhos Negros – Benjamim Black
Quem gosta de romances policiais certamente conhece o detetive Philip Marlowe, o mais durão da literatura (mais que Dirty Harry!). Marlowe é uma criação de Raymond Chandler, e no cinema foi vivido por Humphrey Bogart. Fato é que Chandler morreu em 1959, mas seu detetive continua vivíssimo. Benjamin Black é o nome, ou melhor, o pseudônimo do responsável pela volta de Marlowe. Em A Loura dos Olhos Negros (Rocco, 2014), o escritor irlandês recria a Los Angeles dos anos 1950, narrando a investigação de um misterioso desaparecimento. Tem clima noir, hipocrisia e femme fatale, combinação ao estilo de Marlowe & Chandler. Em tempo: Benjamin Black é, na verdade, John Banville, vencedor do prêmio Príncipe das Astúrias em 2014. Tem gabarito ou não para fazer um revival de Marlowe?