Talento belga
Fazia tempo que não assistia a um filme tão arrebatador quanto A Entrega, este suspense policial dirigido por um talento nato, o belga Michael R. Roskam. Depois do perturbador Bullhead, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012, o diretor reafirma um dom ímpar: o de fazer com que seu espectador revire diversas reações dentro de si; ansiedade, tensão, receio, angústia.
A história traz o atendente de bar Bob (Tom Hardy, em fenomenal desempenho) em uma frustrada tentativa de deixar o universo do crime. Junto com seu primo Marv (o saudoso James Gandolfini), ele toca a rotina do bar não apenas servindo bebidas, mas lavando dinheiro sujo de mafiosos e gângsters.
Bob não se faz valer da corrupção do comércio ilegal local. Ou pelo menos tenta seguir alguns passos que julga corretos: adota um pit bull encontrado na lata de lixo da garçonete Nadia (Noomi Rapace), não tem coragem de expulsar uma velha cliente devedora do bar, e vai à igreja – mesmo que não comungue.
Em filmes como este, todo “bom moço” é testado. Aqui, uma dupla de assaltantes rouba o caixa do comércio. O dinheiro não é do bar, é do crime; e um movimento como esse desnivela toda uma rotina de roubos e assassinatos. Além disso, um sujeito mal-encarado (Matthias Schoenaerts, ótimo) quer o tal pit bull que jogara no lixo de volta.
O que A Entrega renova, de fato, é a capacidade de prender o público pelos motivos certos: um roteiro que desenha seus personagens de modo apurado e os insere em um cenário também delineado com rigor, interpretações impressionáveis de um elenco escolhido com precisão, e – principalmente – um trabalho de direção singular. Singular porque orquestra todo bom material que tem nas mãos e entrega, cena após cena, uma obra tão viciante quanto perfeita.
Angelo Capontes Jr.
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