Kosac, de Zvonimir Jurić
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Há uma série de razões para um filme ser categorizado como ruim. Estamos habituados com produções que subestimam a inteligência do espectador. Há também aquelas que têm como única ambição o êxito financeiro, mesmo que para isso alimente sequências que nada acrescentam ao original. E o que dizer daquelas que são uma soma de fatores que brigam entre si? No entanto, é a constatação de que absolutamente nada justifica a viabilização de um filme que causa uma das frustrações mais incontornáveis.
Temos em “O Ceifador” três protagonistas masculinos. O primeiro é Ivo (Ivo Gregurevic), um senhor que já cumpriu uma pena por ser acusado de estupro. Ele está enclausurado em uma vida banal e antissocial, passando os seus dias em um casarão totalmente desgastado afiando uma foice. Após mais um dia de trabalho em uma colheita, ele oferece ajuda à Mirjana (Mirjana Karanovic), uma cabeleireira que ficou sem gasolina e que misteriosamente perdeu as chaves de seu veículo. Ela aceita o convite de Ivo em aguardar em sua casa até um guincho atendê-la.
Na mesma noite, conhecemos Josip (Igor Kovac), um rapaz que trabalha em um posto de gasolina no qual atendeu Mirjana. Ele a viu se aproximar de Ivo e vai a uma festa com o pressentimento de que alguma coisa poderá dar errada. A terceira ponta do triângulo é Kreso (Nikola Ristanovski), um policial incumbido por Josip a resgatar Mirjana antes que Ivo tome alguma ação criminosa. Na tentativa de conferir maior densidade a Kreso, há também as pressões no lar, com a sua esposa Ana (Lana Baric) a todo o instante sinalizando a sua insatisfação como mãe e esposa.
Se há algum mérito no trabalho do cineasta croata Zvonimir Jurić, ele se concentra unicamente em uma cena verdadeiramente incômoda de Ivo e Mirjana interagindo sobre a mesa. Perguntas banais são feitas, algumas xícaras de chá são tomadas, tentativas de cordialidade são efetivadas e ainda assim há suspeitas de que algo muito cruel pode acontecer no encontro entre esses dois estranhos, especialmente pelo passado conhecido de Ivo.
Jurić traz para as suas insinuações apenas uma observação mundana, sem produzir nela qualquer consequência ou impacto. Faz de “O Ceifador” um filme despido de qualquer virtude cinematográfica. Se há alguma intenção de alegorias ou reflexos da sociedade de seu país ou como ela se organiza – é o que vende a sua sinopse-, ela está dissociada de tudo o que captou. Não se trata do velho caso de perdido na tradução. Simplesmente não existe e não há qualquer interjeição.
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