Entre borboletas e mariposas
Se Edith Cushing, a mocinha de A Colina Escarlate, fosse heroína de algum romance de Jane Austen, a escritora teria certo prazer ao observar: que menina tola! Pode não parecer, mas sorte a do espectador que decidir embarcar neste novo filme de Guillermo del Toro.
Edith é mesmo tola – e ingênua e desavisada de tudo. Da mesma forma, é aquela protagonista que teima em ser diferente de toda uma aristocracia fútil, mas acaba por ceder a um tipo cheio de segredos tenebrosos. Não está sozinha: Jane Eyre e Cathy Linton também se deixaram levar pelo mistério da conquista. (E as irmãs Brontë pouco se importaram com as tolices de suas protagonistas em Jane Eyre, de Charlotte, e O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily.)
Nessa heroína concebida aos moldes da literatura vitoriana está uma das forças de A Colina Escarlate. O restante da firmeza pode ser visto nos cenários que, assim como em todos os trabalhos anteriores do diretor (como O Labirinto do Fauno, Hellboy e o subestimadoCírculo de Fogo), não poderiam acenar com mais detalhes. Também as interpretações de Mia Wasikowska, Tom Hiddleston e Jessica Chastain – todos cheios de segurança – são de crucial importância ao resultado.
É verdade que alguns sustos povoam A Colina Escarlate. O que torna, porém, o filme tão especial é o reaparecimento do romance gótico – esquecido até então, e resgatado agora por um cineasta que, por tamanha delicadeza, parecia predestinado a encontrar-se em um universo tão inebriante quanto seu próprio talento.
Angelo Capontes Jr.
Nenhum comentário:
Postar um comentário