Por Bernardo Mazzei
O tão aguardado dia 21 de outubro de 2015 chegou. O dia da chegada de Marty McFly no futuro. Futuro que a partir de hoje se tornará passado. Meio paradoxal isso, mas paradoxos temporais são mencionados durante todo o tempo pelo Dr. Emmett Brown ao longo de toda a saga. Ainda bem que esse não é um daqueles que são capazes de destruir toda a existência. A galera do Vórtex me passou a missão de falar desse que é um dos clássicos do cinema contemporâneo. Vou ser bem honesto aqui: é impossível fazer uma análise minimamente imparcial desse que deve ser um dos preferidos de muita gente e que deu origem a uma das mais divertidas e importantes sagas de todos os tempos.
Bob Gale idealizou o filme quando estava visitando seus pais e achou uma antiga caixa de recordações deles. Ao voltar dessa visita, encontrou-se com Robert Zemeckis, contou a ele sobre seu novo conceito e os dois passaram a desenvolver um roteiro sobre um garoto de 17 anos que volta no tempo e encontra seus pais na época do colégio. Os dois levaram a ideia para a Columbia Pictures que em 1980 financiou o desenvolvimento de um script para o cinema. Porém, a produtora colocou o filme em espera. Na época, o cinema americano era povoado por comédias adolescentes de temática sexual como Porky’s, e uma comédia mais “família” talvez não obtivesse grande sucesso comercial. Gale e Zemeckis peregrinaram por todos os grandes estúdios de Hollywood e bateram com a porta fechada em todas as oportunidades. Ninguém queria bancar o filme. Por último, eles tentaram a Disney. A galera do Mickey recusou o filme alegando que a sugestão de incesto que ocorre no filme, quando Lorraine se apaixona pelo seu filho Marty após este interferir no encontro dela com seu pai, não seria apropriado para o público do estúdio. É nesse ponto que temos que agradecer muito ao senhor Steven Spielberg. Spielberg, que fez com que a Universal bancasse o projeto após enviar um memorando que convenceu o presidente do estúdio na época.
A produção do filme teve lá seus problemas. Michael J. Fox sempre foi a escolha inicial para viver Marty McFly, mas seus compromissos com a série de TV Family Ties (Caras & Caretas no Brasil) acabaram impedindo que ele fosse escalado. Eric Stoltz entrou em seu lugar. Com duas semanas de filmagens, Stoltz sentiu que não era adequado para o papel e pediu demissão. C. Thomas Howell de A Morte Pede Carona chegou a ser cogitado para o papel, mas Zemeckis chamou Fox de volta. O ator viveu uma verdadeira maratona para gravar o filme e a série simultaneamente. Christopher Lloyd só aceitou o papel de Doc Brown após sua esposa insistir demais para que ele aceitasse. A cidade de Hill Valley, onde a produção é ambientada, foi totalmente erguida nos estúdios Universal para que tivessem liberdade para filmar. O cronograma foi apertadíssimo para que De Volta… fosse lançado na data estipulada. Porém, como todos nós sabemos, o filme deu muito certo. Vamos parar agora com os fatos históricos e partir para a análise.
Apesar dos seus 30 anos de idade, De Volta para o Futuro é um filme que não envelhece. Robert Zemeckis e Bob Gale construíram algo que se mantém atual. A fita tem as doses corretas de ação, aventura, drama e comédia, com sequências eletrizantes que deixam o espectador pregado na poltrona e os olhos vidrados na tela, além de oferecer momentos de pura ternura capazes de mexer com os sentimentos daqueles que se julgam durões. O roteiro é bem amarrado e lida muito bem com a tal questão do incesto que a Disney repudiou. A delicadeza e a leveza com que o filme trata o amor à primeira vista, que Lorraine passa a nutrir por seu filho Marty quando este chega em 1955 e atrapalha o encontro dela com seu futuro marido (e pai de Marty) George, é algo louvável. A chance de cair no ridículo ou no mau gosto era enorme. Interessante também é a maneira que Gale e Zemeckis transformam a cidade de Hill Valley em uma personagem do filme, detalhando sua evolução e expondo os contrastes entre a versão passada de 1955 e a do presente, em 1985. Outro acerto da dupla é na forma de expor o choque de gerações, inicialmente com McFly achando aquele mundo muito estranho, mas encaixando-se a ele conforme pedido pelo jovem Dr. Brown e posteriormente quando Marty apresenta o rock n’ roll aos jovens da cidade em um momento musical genial, já que o personagem emula vários guitarristas famosos – e muito à frente daquele tempo.
A trilha sonora, composta por Alan Silvestri, é primorosa e consegue engrandecer tudo o que acontece em tela, principalmente na sequência final em que Marty precisa acelerar o DeLorean em direção ao raio “canalizado”, que irá acionar o capacitor de fluxo e o mandar de volta para 1955. Ainda sobre a trilha sonora, mas agora sobre as músicas que tocam no ambiente do filme, a escolha é perfeita e auxilia a imersão do espectador naquele mundo. A reprodução de época é primorosa nos figurinos, carros e prédios. Nota-se que a produção se esmerou em tudo, sem deixar passar nenhum detalhe. Os efeitos especiais são em sua grande maioria práticos, o que ajuda a deixar o filme atemporal. Somente em uma cena, em que Marty começa a desaparecer, um efeito de computador um pouco grosseiro é utilizado, mas nada que possa comprometer a excelência da fita.
O elenco não poderia ter sido melhor escalado. Michael J. Fox É Marty McFly. O ator, que na época já tinha lá os seus 24 anos de idade, faz o perfeito adolescente de 17 anos com todos os conflitos e incertezas desse conturbado período da vida: Marty não é apenas o garoto esperto com boas tiradas, típico personagem unidimensional que tanto povoa as telas do cinema. Além disso, o ator é carismático ao extremo e desperta empatia imediata quando aparece em cena. Christopher Lloyd não fica nem um pouco atrás de Fox em sua atuação. Seu Dr. Emmett Brown aparentemente parece ser aquele cientista maluco e histriônico que tanto estamos acostumados a ver, mas logo fica evidente que por trás daquele comportamento existe um homem que enxerga além. Ele não chega a funcionar como uma figura paterna de Marty, mas aquele tio bacanão e meio excêntrico que tem sempre algo bacana a transmitir para os sobrinhos, o que torna muito críveis a grande amizade e o carinho entre os dois personagens. Crispin Glover apresenta um apatetado George McFly, que chega a beirar a caricatura, mas que ao ser apresentado ao seu filho em 1955 vai se transformando e se tornando mais confiante. Glover se sai tão bem que sua atuação vai mudando em pequenos detalhes, como sua postura em cena e até mesmo o tom de voz. Já Lea Thompson tem uma atuação sensacional como uma dúbia Lorraine, já que no futuro ela é uma senhora carola e moralista, mas no passado mantinha um comportamento nada pudico, ainda que se fizesse de moça comportada perante a sua família. Biff Tannen, o valentão que é a pedra no sapato da família McFly, é interpretado de forma ameaçadora por Thomas F. Wilson. Ah, não se pode esquecer do DeLorean. O carro possui personalidade própria com suas portas asas de gaivota, suas luzes piscantes e a parafernália que o Dr. Brown instalou para possibilitar a viagem no tempo. Uma atuação tão sensacional quanto a de Herbie, o Fusca Falante.
De Volta para o Futuro ainda deu origem a duas sequências também de altíssima qualidade (é na segunda parte que Marty aporta no dia 21 de outubro de 2015) e há 30 anos mantém-se no imaginário do espectador que toda vez que assiste, ou, se assiste pela primeira vez, rapidamente passa a se colocar na posição do protagonista e a imaginar como seria se todos os eventos do filme acontecessem com ele. Uma fábula moderna que é capaz de divertir qualquer pessoa, de qualquer idade, e que não envelheceu nada, apesar de hoje ser um trintão, tal e qual esse humilde crítico passará a ser em um futuro bem próximo. Só espero ser um trintão responsa como esse clássico.
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