ISBN: 9788539005277
Tradutor: Beatriz Medina
Ano: 2013
Páginas: 736
Editora: Suma de Letras
Pontuação: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
(★) Favoritado!
(★) Favoritado!
A vida pode mudar num instante, e dar uma guinada extraordinária. É o que acontece com Jake Epping, um professor de inglês de uma cidade do Maine. Enquanto corrigia as redações dos seus alunos do supletivo, Jake se depara com um texto brutal e fascinante, escrito pelo faxineiro Harry Dunning. Cinquenta anos atrás, Harry sobreviveu à noite em que seu pai massacrou toda a família com uma marreta. Jake fica em choque... mas um segredo ainda mais bizarro surge quando Al, dono da lanchonete da cidade, recruta Jake para assumir a missão que se tornou sua obsessão: deter o assassinato de John Kennedy. Al mostra a Jake como isso pode ser possível: entrando por um portal na despensa da lanchonete, assim chegando ao ano de 1958, o tempo de Eisenhower e Elvis, carrões vermelhos, meias soquete e fumaça de cigarro. Após interferir no massacre da família Dunning, Jake inicia uma nova vida na calorosa cidadezinha de Jodie, no Texas. Mas todas as curvas dessa estrada levam ao solitário e problemático Lee Harvey Oswald. O curso da história está prestes a ser desviado... com consequências imprevisíveis. Em Novembro de 63, livro inédito de Stephen King, a viagem no tempo nunca foi tão plausível... e aterrorizante.
Stephen King é o maior escritor de todos os tempos. Quem diz isso são os seus livros. Alguns, escritos na década de 70, como Carrie, O Iluminado, Zona Morta; outros na década de 80, como Cão Raivoso, A Hora do Lobisomem, A Coisa, O Talismã, A Metade Negra e assim por diante. Mas cada década é marcada por um livro verdadeiramente inspirador. Nos anos 70: O Iluminado; na década 80: A Hora do Lobisomem; na de 90: À Espera de Um Milagre; nos anos 2000: Sob a Redoma; agora, na década atual... Novembro de 63.
Confesso que me apaixonei pelo livro. Apaixonei-me pela história, pela narrativa, pelos personagens George Amberson e Sadie Dunhill, pelo desfecho da trama e pela possibilidade do que aconteceria se JFK não fosse assassinado, e por outras tantas coisas que não sei nem mesmo por onde começar. George Amberson (ou Jake Epping) é o tipo de pessoa que você ama pelo que ele tem por dentro. Ele é tudo de bom, e, de certo, fará a coisa certa. Fará?
Eu poderia resumir essa resenha numa única frase: O livro é ótimo, leiam!
Mas eu gostei tanto do livro que preciso dizer mais do que isso. A começar pela ideia de poder voltar no tempo e alterar acontecimentos históricos que mudaram o curso das nossas existências. Voltar no tempo e salvar JFK de serassassinado em Dalas. Isso, por si só, já valeria a leitura, ainda mais sendo a trama arquitetada por King. Mas,Stephen King não se contenta com pouco. A linha central é essa, tendo o assassinato de JFK como pano de fundo. No entanto, King vai além. Ele explora outros aspectos da trama que torna a obra um verdadeiro caleidoscópio de sensações e emoções multicoloridas.
Voltar no tempo não é a parte difícil. O portal está lá, basta atravessá-lo, encontrar-se com o assassino de JFK e eliminá-lo. Simples assim. Mas King pensa diferente. Voltar no tempo pode significar a possibilidade de corrigir erros do passado; injustiças, para ser mais exata. Uma garota que fica paralítica porque levou um tiro acidental de um caçador; uma família inteira que é morta por um demente armado com um martelo; a bibliotecária que é perseguida por seu ex-marido desajustado; amigos que você não deveria ter conhecido, pois não nasceu naquela época, e que você acaba influenciando direta ou indiretamente com suas atitudes, seu companheirismo, sua amizade...
Mexer com o passado trás consequências. É o que dizem os teóricos da viagem no tempo, e que King tenta nos provar. É o chamado Efeito Borboleta. Se você arranca a asa de uma borboleta no Japão, causa um terremoto na Califórnia, por exemplo. Claro, ninguém conseguiu viajar no tempo para comprovar se isso é possível. Pelo menos não ainda. Mas em Novembro de 63 você vai acreditar que viajar no tempo é possível e alterar o passado mais crível ainda.
Stephen King vai esmiuçar essas possibilidades ao longo de sua narrativa. Jake Epping, o professor de inglês na nossa época atual, volta ao passado através de uma porta da dispensa de uma lanchonete, e adota o nome deGeorge Amberson. Ao longo de toda a sua permanência na década de 60 ele fará muitas alterações na linha do tempo, e essas pequenas ou grandes alterações no passado causarão uma mudança no futuro — o nosso presente. E, então, descobrimos que viajar no tempo não é tão difícil assim, de fato, como querem os teóricos. Corrigir os erros é que são elas. E, às vezes, o futuro é que precisa ser corrigido.
Novembro de 63 não é nada original. Essa temática de viagem temporal para alterar acontecimentos e corrigir injustiças já foi descrita em outros livros e filmes do gênero. Porém, King imprime nela a sua marca pessoal e torna o tema tão novo quanto original pela forma bastante criativa em que ele constrói a trama. Porque não é somente sobre viagem temporal que trata o livro. King aborda outros temas, como política, espionagem, conspiração, amizade, lealdade, romance, música, o glamour dos anos 1950 e 1960, o modo de vida da época, entre outras coisas.
Por conta disso, há momentos em que ele exagera um pouco na narrativa, esmiuçando a fundo um acontecimento em particular, mas nada que nos faça perder o pique da leitura. Porque, para gostar do livro, basta começar a ler. Logo você viajará com Jake Epping para o passado e caminhando ao lado de George Amberson. Isso por conta da riqueza de detalhes da construção de época. Ficou simplesmente perfeita. Os costumes, o modo de falar, as propagandas, carros, cidades, as roupas e o tabagismo da época (quando fumar em excesso parecia ser tão importante quanto o ato de respirar), e tudo isso mesclado com uma boa dose de suspense e dramaticidade. Juro que houve momentos que de tanto ler que fulano sacou um cigarro e o acedeu, tantas e tantas vezes, fiquei com vontade de acender um também enquanto lia, tamanha é empatia com que King nos enreda.
Além de George (ou Jake) e Sadie, há outros personagens igualmente ricos em sentimentos e empatia que nenhum deles nos passa despercebido. E o que é mais interessante, todos, até mesmo o dono da loja de refrigerantes, parecem ter uma importância fundamental para a obra em si, sem os quais toda a trama se desfaria numa flash de luz atemporal. Poético isso, não? Ah, e tem vilões também. Os mais sórdidos e mesquinhos que a mente de Kingsabe criar com perfeição. Acredite, você irá odiá-los.
Outra coisa legal no livro é o paralelo que King traça entre o modo de vida dos anos 1950/1960 e o atual. Há momentos muito engraçados, quando notamos que a vida naquela época era tão simples e boba, que até nos faz sentir vontade de tê-la vivido, mesmo sem os computadores, celulares e TV 3D do momento. Ah, King me encantou com os anos dourados de uma época glamourosa e perdida no tempo, para nunca mais voltar? Como seria bom se esses anos dourados pudessem regressar hoje, e acabar com essa loucura que está dominando o mundo. Não? Que bom seria!
Por conta dessas viagens temporais, Novembro de 63 me lembrou três filmes, não por referência direta, mas porque situei três momentos da história do livro que me fizeram recordá-los. Em algum lugar no passado – de 1980 (pelo romantismo); A Máquina do Tempo – a versão de 2002 (pela tentativa de alterar a história e corrigir os erros cometidos); Um século em 43 minutos, de 1979 (o passado viajando para o futuro repetindo nesse os mesmos erros daquele).
Ainda bem que a viagem no tempo continua sendo uma teoria, e tão somente isso. Felizmente. Pois, se o homem já constrói desgraças vivendo o momento presente, imaginem se ele pudesse voltar no tempo? Dominar o passado, demolir o futuro... Não, até você ler Novembro de 63. Por falar nisso, esse já está entre os favoritos, sem sombra de dúvida.
Pró: Ficção científica de primeira; suspense, muito suspense; um toque de paranormalidade aqui e ali, mas nada sobrenatural como em O Iluminado; espionagem; assassinatos (e você pensou que só o JFK estava previsto para morrer?); drama; romantismo; glamour e nostalgia; o melhor do baile dos anos 1960 e o sonho americano ainda em alta; narrativa impecável; personagens apaixonantes (amei George Amberson e Sadie, de novo); história bem alinhavada; um final decente, triste e dramático, mas justo para o contexto.
Contra: tabagismo (do começo ao fim); um exagero aqui e ali na narrativa minuciosa de King, explicando tudo nos mínimos detalhes, mas nada que torne a leitura monótona, pois logo ele sai com uma surpresa extra; apesar do final coerente e justo, do meu ponto de vista, eu queria um final mais... sei lá, romântico... quem sabe, duradouro, paraJake-George e Sadie.
Uma nota dez vai para a Editora Suma de Letras que nos trouxe essa pérola da bibliografia de King, numa encadernação luxuosa, com boa diagramação e uma tradução competente de Beatriz Medina. Ótimo trabalho! Vale a pena conferir!
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