Começando por um comentário metalinguístico, focado em uma figura poderosa da indústria cinematográfica, mas com uma básica distância de estereótipo entre intérprete e personagem, Coração de Caçador conta a história do diretor de cinema John Wilson, que, com estilo excêntrico e esbanjador, se diferencia pelo tédio excessivo que o faz viajar para a África a fim de realizar o seu filme. Ou algo que o valha, já que tudo se torna pretexto para experiências “diferentes”.
Wilson tem um estilo bon vivant, fazendo com que o estúdio tenha uma preocupação excessiva com seus métodos, aspecto que dificilmente se veria no cinema de Clint Eastwood, dada a sua maneira econômica de trabalhar atrás das câmeras. O processo de convencimento para realizar a produção aos chefões do estúdio, para liberar a verba necessária para as viagens ao continente, revela não só a resistência do cineasta em mudar de ideia, bem como referencia a obsessão que ocorreria ao finalmente adentrar o cenário de suas novas aventuras.
O diretor é sempre acompanhado de seu amigo e roteirista Pete Verrill (Jeff Fahey), que se aproxima vagarosamente, perguntando sobre o projeto do filme, para logo se tornar o seu escudeiro em meio à jornada da realização cinematográfica. Quase todos os personagens no entorno do protagonista têm alguma ligação com a produção de filmes, fazendo lembrar os detalhes do ideário presente nas personagens da série televisiva Entourage, ainda que o caráter de ambas as propostas seja bem diferente.
As atitudes da personagem mudam com o tempo, deixando-se de lado a curiosa pecha de playboy carismático, para tornar-se uma brutalização pessoal que se dá de modo gradual, retardando em alguns momentos, agindo como um adolescente em fúria, que busca qualquer motivo para encrencar-se. A prática da caça de animais selvagens torna-se cada vez mais frequente, servindo de alegoria à necessidade do homem de estabelecer contato com seu lado predatório.
Seus desejos encontram eco nas atitudes de inúmeros diretores premiados e de outros artistas que superestimam seus talentos e seus produtos, inclusive em relação ao final, o qual menciona uma epifania – ou pseudo epifania – cujo significado ou é muito pessoal ou zerado de significado, alertando para os “mistérios” inventados na mente do artista entediado. O roteiro de Burt Kennedy, James Bridges e Peter Vierte é repleto de subtextos, mas já na sua camada superficial nota-se um paralelo com a urgência do homem em arrumar subterfúgios para dar vazão a sentimentos e sensações das mais básicas, usando a vaidade como ponto de partida de uma discussão sobre arte, vaidade e soberba.
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