Deep Purple – Made in Japan 1972 (Resenha)
Existem várias perguntas que costumam render muita discussão. Muitas destas questões dizem respeito a quais são os melhores e mais influentes álbuns de determinado artista ou gênero, ou algo do tipo, de forma a render divergências e acalorados pontos de vista diferentes. Mas e quando a pergunta seria qual o melhor disco AO VIVO de rock já lançado? Sim, poderíamos citar vários exemplares, mas na opinião geral existe quase um consenso de que ainda o melhor álbum ao vivo já realizado continua sendo Deep Purple – Made in Japan.
Mesmo depois de mais de 40 anos é impossível não se surpreender com a técnica, energia e a fúria que transbordam em cada uma das sete faixas do disco, o que se torna ainda mais incrível ao constatar-se que quase não foram acrescentados ‘’overdubs’’ – as interferências feitas em estúdio com o objetivo de limar possíveis imperfeições, o que serve para atestar a incomparável competência e excelência dos músicos em cima do palco.
É importante relembrar que nesta época os purple estavam em sua segunda e mais bem sucedida formação conhecida como MK II, que se uniu em meados de 1969 quando a direção musical da banda passou das mãos do tecladista Jon Lord para o tempestuoso guitarrista Richie Blackmore que direcionou a banda para um som mais pesado e agressivo, uma decisão que se consolidou depois que o Led Zeppelin começou a estourar nas paradas. Para isto ele dispensou Rod Evans e Nick Simper, respectivos vocalista e baixista, e recrutou os novatos Ian Gillan para assumir os vocais e Roger Glover no baixo, se juntando aos já citados Blackmore e Lord, e ao estupendo baterista Ian Paice. Com esta formação a banda primeiramente lançou o Concerto for Group and Orchestra, uma ousada mistura de Rock e Música Erudita, na verdade mais um projeto solo de Jon Lord executado pela banda, para só então a banda lançar o trabalho que marcaria esta guinada ‘’In Rock’’ lançado em 1970 que revelou a banda para o mundo através de um som enérgico e furioso que seria um dos pilares para o surgimento do Heavy Metal. Com o sucesso veio em 1971 mais um lançamento ‘’ Fireball’’ e em 72 outro marco considerado por muitos o ápice da banda ‘’Machine Head’’, sim, o disco que contém a clássica ‘’Smoke on the Water’’.
Com isso a banda se tornou uma das mais populares e barulhentas do planeta, excursionando massivamente, até que a fama do grupo chegou ao Japão através do sucesso de vários singles lançados até então, sendo assim a gravadora japonesa sugeriu que eles gravassem um disco ao vivo da sua primeira turnê no Japão, o que a princípio a banda rejeitou, mas que por fim acabaram cedendo, com a condição de a própria banda supervisionar o processo de produção e mixagem final sendo que os mesmos escolheram a dedo a equipe e os equipamentos, inclusive trouxeram Martin Birch, produtor que já havia trabalhado em discos anteriores, para realizar a mixagem. Por fim os shows acabaram sendo realizados na cidade de Osaka no Festival Hall nos dias 15 e 16 de agosto de 1972 e em Budokan no dia 17, e o disco seria o resultado das melhores performances das três noites compiladas em um LP duplo. De início o disco só seria lançado para o mercado japonês, mas o resultado foi tão bom que acabaram lançando mundialmente.
A faixa de abertura do disco é nada mais nada menos que ”Highway Star”, que por sinal já mostra que o ambiente em que o Purple se sente em casa é mesmo o palco, onde a banda transborda técnica e energia, onde Gillian simplesmente entrega tudo o que pode em uma interpretação selvagem e furiosa, com os seus característicos berros e agudos que se tornaram uma marca. Destaque também para os excelentes solos de Ritchie Blackmore e Jon Lord. Logo em sequencia a densa e épica ”Child in Time” com seu início soturno e melancólico que vai crescendo progressivamente no avançar da canção se transformando em uma das canções mais ‘’hard’’ do álbum que conta com a melhor interpretação de Gillian que despeja sem piedade os seus desesperados berros que pontuam a canção e mostrando o porque do título ‘’Silver Voice’’. Em seguida a versão definitiva de ‘’Smoke on the Water’’ e seu clássico riff, o qual dispensa todos os comentários. Temos também ‘’The Mule’’ no qual o batera Ian Paice despeja toda a sua criatividade, exuberância e técnica em um solo que só peca por ser um tanto longo demais, o que não chega a comprometer, ‘’Strange Kind of Woman’’ sem dúvida uma das mais divertidas canções do álbum, com o duelo entre os agudos de Ian Gillan e a guitarra de Blackmore e ”Lazy”, uma faixa com fortes tintas bluseiras/jazzisticas quase totalmente instrumental com poucas frases cantadas por Gillian.
Sem esquecer dela….”Space Truckin”, que vai muito além de uma simples versão ao vivo de uma faixa clássica de Machine Head, para se transformar em uma verdadeira epopeia de mais de 19 minutos de viagem sonora por sons espaciais diversos e sensações mistas, com Jon Lord mostrando o porquê de ser até hoje simplesmente o MELHOR tecladista da história do rock. Existe uma frase que o define bem: ‘’Um tecladista que toca como guitarrista’’, sendo ele um dos grandes diferenciais do som do purple, no qual os seus solos de teclado rivalizavam com os de guitarra, sempre se sobressaindo, e não servindo apenas como apoio. De qualquer forma os segundos de silêncio depois do fim da faixa mostram o quão embasbacados estavam os japoneses em presenciar aquilo.
Por fim, este álbum é a representação exata do que significava o Deep Purple em cima de um palco, coroando uma bem sucedida fase da banda, embora isto não duraria por muito tempo. Em 1973 o MK II lançaria ‘’Who Do We Think We Are’’, que continha a divertida ‘’Woman from Tokio’’, uma homenagem as mulheres japonesas, e em seguida a formação chegaria ao fim após a saída de Roger Glover e Ian Gillian em decorrência dos diversos conflitos entre o vocalista e Blackmore. Assim David Coverdale assumiria os vocais junto com o mais novo baixista Gleen Hughes dando inicio assim a MK III, mas isso já é assunto para outro dia, no mais, não deixe de ouvir Made in Japan, pois sua vida musical não estará completa sem esta experiência.
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