Remember, de Atom Egoyan
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Houve um período em que Atom Egoyan se recolheu para refletir profundamente sobre o genocídio armênio, evento que exterminou milhões de inocentes do Império Otomano e também reconhecido como o holocausto armênio. Foi o primeiro cineasta a debater o trágico evento histórico em larga escala com “Ararat”, embora menções também sejam feitas no curta-metragem “A Portrait of Arshile” e em seus segmentos em “Mundo Invisível” e “Venice 70: Future Reloaded”.
Portanto, desenha-se assim uma outra obsessão na obra do cineasta nascido no Egito e naturalizado no Canadá: o compromisso em rever grandes tragédias mundiais por meio da linguagem cinematográfica. A tradução “Memórias Secretas” esconde a advertência do original. Lembre, recorde, não esqueça.
O grande Christopher Plummer merecia ser lembrado nesta temporada de premiações no papel de Zev, o protagonista de “Memórias Secretas”. Senhor de 80 anos em estado avançado de demência, Zev perdeu a esposa Ruth há uma semana, invocando a sua presença toda vez que desperta. Internado em um asilo, Zev é informado pelo colega Max (Martin Landau) sobre um acordo que estabeleceram quando Ruth partisse, que consiste em um plano de vingança contra os nazistas que mataram as suas famílias e que ainda podem estar vivos.
Ao fugir do asilo para cumprir com a promessa, Zev leva uma carta que descreve as ações que deve tomar como uma bússola ao mesmo tempo em que Max gerencia à distância a sua logística. A viagem o leva a quatro destinos que evidenciam um dos segredos do sucesso para um bom thriller: o acesso que o público tem as respostas na mesma velocidade de seu protagonista.
Mesmo desassociado da produção e do texto de “Memórias Secretas”, Atom Egoyan definitivamente se relaciona ao filme com uma marca autoral. É também um passo adiante após os desapontadores “Sem Evidências” e “À Procura“, ambos lançados comercialmente no Brasil no ano passado. O ponto comprometedor só se manifesta na falta de coragem em cortar ou modificar passagens do roteiro do estreante Benjamin August, como os dois minutos adicionais com Martin Landau para uma cena que concluiria adequadamente o filme.
É por isso que a boa reviravolta final não supera as sequências com a participação de Dean Norris no segundo ato de “Mentiras Secretas”. Nesta etapa da história, Max se vê diante de uma herança perversa do holocausto, de sua continuidade. É uma constatação que vem ao som de demolições que revivem os massacres, as humilhações, a irracionalidade. Um recurso dramático brilhante de Egoyan para denunciar que muitas guerras são superadas, mas que nunca deixarão de ecoar nas gerações seguintes.
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