No radiante A Incrível História de Adaline, uma mulher escapa ao envelhecimento – mas é abandonada pelo tempo
A menina Adaline Marie Bowman estampou as capas do “San Francisco Chronicle” como o primeiro bebê vindo ao mundo em 1908 – somente um minuto após a virada de 1907. Se o tempo voltasse pouco menos de dois anos, o hospital infantil de São Francisco poderia ser registrado apenas por meio de escombros: no mês de abril de 1906, a cidade sofreu um violento sismo, responsável pela morte de mais de três mil pessoas.
Avançadas duas décadas, Adaline e sua mãe contemplam outro marco histórico: a construção da ponte Golden Gate. Nesse momento, ela conhece o engenheiro James.
Três meses depois, Adaline se casa com ele. Três anos depois, dá à luz uma garota chamada Flemming. Em 1937, porém, a mesma ponte que unira o casal causa a viuvez de Adaline, que perde o marido em uma tragédia. E dez meses após o fatídico acidente, algo estranho acontece: o carro de Adaline derrapa sobre a neve do condado de Sonoma, na Califórnia, jogando-a na água gelada de um rio. Adaline, rapidamente, perde a respiração e tem seus batimentos cardíacos desacelerados. Seu coração, dois minutos em seguida, para de bater – até que um raio atinge o carro e a reanima.
Como logo se verificará, A Incrível História de Adaline vai estabelecer uma espécie de filosofia para o uso da técnica cinematográfica, já que a personagem agora não precisará mais lutar contra o tempo: após aquele inusitado acontecimento, Adaline parou de envelhecer.
Nos primeiros dez minutos deste romance dirigido pelo jovem americano Lee Toland Krieger (do simpático Celeste e Jesse Para Sempre), há uma clara diferença entre relatar passagens e provocar embriaguez: uma coisa é narrar essa fantasia romântica; outra, muito diferente, é construir uma sequência soberba, para depois levar o espectador à triste constatação de que viver para sempre é também uma adversidade sem tamanho.
Interpretada por uma sutil e marcante Blake Lively, Adaline é muito mais que uma mulher presa em sua juvenilidade. Entre as vidas abandonadas pela personagem, o milagre da juventude eterna entregue a ela logo vai dar lugar à tristeza de uma existência solitária e sem sentido.
Nesse filme em que as particularidades tão fortes de um jovem diretor contam tanto para torná-lo único, o homem escapa ao tempo – mas não ao sentimento de ser abandonado por ele.
Angelo Capontes Jr.
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