sábado, 6 de fevereiro de 2016

AVANTASIA – GHOSTLIGHTS (2016)

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O formato não é novo, mas Tobias Sammet ainda faz discos poderosos, divertidos e otimistas
Por Lucas Scaliza
O que era um projeto paralelo e ambicioso para Tobias Sammet tomou uma proporção correspondente com a qualidade do projeto. A banda, ou projeto de metal opera, Avantasia foi bastante inovadora quando foi criada. Era basicamente um dream team do metal melódico europeu fazendo música boa para fãs de metal com tudo o que eles queriam: vocais altos, guitarras ágeis, uma história ou um tema se desenrolando e requerendo a participação de diversos cantores para interpretarem cada personagem. Esses foram os elementos do sucesso dos ótimos The Metal Opera (2001) e The Metal Opera 2 (2002). E então Sammet continuou reproduzindo o formato, de forma que sempre seria possível ouvir cada álbum como um disco único, embora quase todos tenha alguma história ou conceito que se desenvolve em outros discos. O novo Ghostlights, por exemplo, é a segunda parte do conceito apresentado em The Mistery of Time (2013).
No esteio do sucesso do Avantasia, a banda Edguy, que lançou o vocalista e compositor alemão no cenário do heavy metal, também galgou várias posições na preferência do público e dos críticos europeus. Sammet, assim, está sempre com alguma novidade. Trabalhando como louco e cantando muito.
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Ghostlights é melhor que seu antecessor e se mantém no mesmo patamar que The Scarecrow(2008). É sobretudo divertido de ouvir, reparando em como usam bem os vocalistas convidados para tentar dar a cada faixa uma característica única. É bom lembrar que Sammet e sua banda entregam o puro metal melódico com o Avantasia, por isso não foge de nenhum clichê do metal europeu. Está tudo lá, para alívio de quem espera justamente por isso e para horror de quem espera por algum novo. Mas aos pertencentes deste segundo grupo é importante ressaltar que a variedade de formas musicais tornam o trabalho interessante o suficiente para merecer sua audição. Se não agradar no todo, pelo menos algumas partes serão bastante proveitosas.
“Mystery Of a Blood Red Rose” abre o disco com um clima positivo e alegre, muito diferente do que esperaríamos. Já “Let The Storm Descend Upon You”, que vem logo em seguida, tem toda a pompa de música abertura de um disco do Avantasia. Um belo trabalho de teclados, uma ótima seção rítmica em toda a sua introdução que soam grandiosos e bem trabalhados pela banda. Além de Sammet (que canta em todas as faixas, toca baixo e teclado), a música tem a participação do sempre competente Jørn Lande, de Ronnie Atkins (Pretty Maids) e Robert Mason (Warrant). Com 12 minutos de duração, a música deixa o gosto de enrolação. Embora seja uma das melhores do disco, poderia ter uns quatro minutos a menos, já que não tem tantas partes diferentes assim em sua estrutura que justifique todo esse tempo para seu desenvolvimento.
“The Haunting” tem todos os clichês de uma canção que pretende ser assombrada, ainda mais com americano Dee Snider (Twisted Sister) nos vocais, mas não dá para negar que o resultado é bom. A faixa é mixada com diversos efeitos sonoro escondidos entre suas camadas de instrumentação e propõem um desenvolvimento que não é apressado, conservando o passo mais gótico que a canção pede. A poderosa “Seduction of Decay”, com mais de 7 minutos e Geoff Tate (Queensrÿche) como convidado, é outra que ajuda a diversificar a interpretação musical do Avantasia e a qualidade da composição de Tobias Sammet ao trazer o clássico para o metal e o hard rock.
“Ghostlights” é apressada, um power metal feito sob medida para colocar Sammet e o convidadoMichael Kiske (que dispensa qualquer apresentação) cantando notas altas e cada vez mais nas alturas ao chegar no refrão. Apressada é também “Babylon Vampyres”, mas esta vem com todo o jeitão do hard rock oitentista e acaba se tornando uma das faixas mais divertidas do disco.
“Draconian Love”, com participação muito bem escolhida de Herbie Langhans (da banda cristã Seventh Avenue), é outra música gótica, mas com influências da vertente mais melódica do metal industrial alemão. “Master Of The Pendulum” se apresenta bem e evolui para uma das sessões rítmicas mais pesadas do disco para comportar a agressividade de Marco Hietala (baixista e segunda voz do Nightwish). Com a holandesa Sharon den Adel (Within Temptation) trazendo uma voz mais gentil ao disco, “Isle of Evermore” tem elementos eletrônicos que destoam do resto deGhostlights, mas as interpretações de Tobias e Adel, assim como as orquestrações, fazem o trabalho de colocar essa faixa no contexto do álbum. “Lucifer”, com vocais de Lande, é metade balada e metade pauleira, com um solo incrível de Bruce Kulick, guitarrista do Grand Funk Railroad e ex-Kiss.
Cada uma a seu modo, as três últimas músicas do disco – “Unchain The Light”, “A Restless Heart And Obsidian Skies” e “Wake Up To The Moon” – tratam de resgatar o clima divertido e melódico que são a marca do Avantasia. Mesmo que o estilo extremamente harmônico da banda possa cansar em alguns momentos, é difícil passar incólume pela agitação e pelo clima positivo e cheio de luz que evocam.
As participações continuam bem escolhidas, embora nenhum dos cantores/cantoras não façam nada muito diferente do que já nos acostumamos a vê-los fazer com suas bandas. Os solos de guitarra são muito bons, sempre aparecendo nos momentos certos e nunca soando burocráticos. Além do já citado Kulick (que toca em três faixas), Oliver Hartmann (ex-At Vance) toca em outras quatro, deixando o restante para Sascha Paeth. O baixo ficou dividido entre Sammet e Paeth, enquanto as orquestrações e teclados ficaram a cargo de Michael “Miro” Rodenberg (já trabalhou com Angra, Shaaman, Kamelot, Rhapsody of Fire, entre outros). A bateria é de Felix Bohnke, um velho conhecido dos fãs do Avantasia e Edguy.
Ghostlights não é o disco mais original do Avantasia ou do metal europeu, mas cumpre perfeitamente bem seu papel. O formato já não é nada novo ou inovador, mas ele segue se divertindo gravando com os amigos e com os ídolos, o que também diverte o público com a possibilidade de escutar os mais variados duetos dos nomes do heavy metal.
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