Brooklyn, de John Crowley
Estima-se que 10% da população dos Estados Unidos é composta por irlandeses. A comunidade de imigrantes veio com o período colonial no país no século XVI, sendo ampliada com o período batizado como “a grande fome”, ocorrida de 1845 a 1849, e a vinda do século XX. Mesmo em uma nação com os seus preconceitos imutáveis, os irlandeses ainda assim conseguiram o seu lugar ao sol, com mãos trabalhadoras que colaboraram para o progresso dos americanos e o compromisso de prosperarem com o ingresso em universidades.
Como bem ilustra o diretor John Crowley em “Brooklin”, por meio do roteiro da autoria de Nick Hornby (baseado no romance homônimo de Colm Tóibín), essa fatia de cidadãos ainda foi capaz de driblar o trabalho exaustivo e quase ininterrupto para manter viva algumas tradições, como as missas e os festejos. Ainda assim, é o dilema da protagonista Eilis (Saoirse Ronan) que ganha ressonância: a indecisão em fazer a vida na Irlanda natal ou nos Estados Unidos.
Atendente em uma pequena mercearia, Ellis recebe a oportunidade de um padre também irlandês (interpretado por Jim Broadbent) para morar em uma hospedaria do Brooklin enquanto trabalha em uma loja de departamentos e estuda contabilidade. Ela diz sim a proposta com uma grande dor no coração, pois precisará deixar para trás a irmã mais velha (Fiona Glascott) e a mãe viúva (Jane Brennan), duas pessoas que sempre a tiveram como um pilar para manter as suas estruturas emocionais.
O processo de adaptação se dá de modo esperado. Nas primeiras semanas, Ellis chora e tem o desejo em escrever cartas todas as noites antes de dormir. No entanto, logo enxerga as pequenas maravilhas ao seu redor, retribuindo-as com um sorriso franco. É com ele que conquistará Tony (Emory Cohen, em uma interpretação irresistível lamentavelmente ignorada na atual temporada de prêmios), filho de imigrantes italianos esforçado em liderar um pequeno empreendimento e de construir a sua própria família.
É possível que desde Rachel McAdams e Ryan Gosling em “O Diário de Uma Paixão” que não vemos um casal tão agridoce em um romance de época e “Brooklin” cresce a cada cena em que Saoirse Ronan e Emory Cohen contracenam juntos. Também como nas grandes histórias de amor, surge uma fatalidade que ameaça uma união e Ellis se vê novamente na Irlanda após uma perda que a faz priorizar a atenção para a sua inconsolável mãe.
Vem assim a segunda metade de “Brooklin”, no qual Ellis constata em seu regresso um lugar com novas cores e possibilidades. É a história reprisando o que já havia estabelecido, mas sem o efeito encantador e com movimentos programados demais, como a vinda de Jim (Domhnall Gleeson) como um interesse romântico sem qualquer química com Ellis. De qualquer modo, o filme (e Saoirse Ronan) não deixa de nos mover, especialmente ao compreender o lar como uma conquista que carrega todas as amarguras dos desapegos que precisamos nos sujeitar para progredir.
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