Joy, de David O. Russell
O sucesso exacerbado de alguns artistas da indústria americana carrega um grau tão alto de exposição que muitos chegam ao ponto de terem as suas imagens desgastadas diante do público e da crítica. Esse momento chegou para o diretor David O. Russell e a atriz Jennifer Lawrence, que estabelecem em “Joy: O Nome do Sucesso” a terceira parceria em suas carreiras.
Se “O Lado Bom da Vida” os moveram do território independente para as massas, “Trapaça” foi inicialmente tomado por um êxtase extremamente breve, algo confirmado com a derrota em todas as 10 categorias para o qual foi indicado ao Oscar. Uma pena que a dissociação do que é feito por quem o fez tenha impedido que “Joy: O Nome do Sucesso” fosse abraçado com mais entusiasmo, pois O. Russell e Lawrence entregam o melhor diante do desafio de uma premissa nada cinematográfica.
Em termos de ficção, não há nada de atrativo na trajetória de Joy Mangano para ser convertido em uma obra de entretenimento. Dona de dezenas de patentes, Joy foi quem inventou o esfregão para limpeza, feito de fibra de algodão e com cabo de plástico ajustável. Agora, como se debruçar sobre a invenção do objeto para criar um filme consistente em suas duas horas de duração?
Indicada ao Oscar pelo roteiro de “Missão Madrinha de Casamento”, a melhor comédia americana dos últimos tempos, Annie Mumolo foi quem descobriu na história de Joy o potencial para dramatizá-la no cinema. É a persistência da protagonista que dita o tom do texto, emoldurado por elementos presentes em fábulas com uma conotação adulta. Para David O. Russell, restou o acréscimo de personagens que descaracterizassem a produção como uma cinebiografia de Joy Mangano.
Severamente criticada por ser jovem demais para viver a esposa de Christian Bale em “Trapaça”, Jennifer Lawrence deixa qualquer traço de imaturidade para trás como Joy, retratada como uma jovem mãe de duas crianças que lidera um lar ainda habitado pelo seu ex-marido Tony (Edgar Ramirez), a mãe deprimida Terry (Virginia Madsen), o pai desmotivador Rudy (Robert De Niro) e a avó Mimi (Diane Ladd), esta também uma narradora dos percalços atravessados por Joy. Meia-irmã de Joy, a desagradável Peggy (Elisabeth Röhm) fecha o círculo dessa família disfuncional.
Com o desenho de cada personagem estabelecido, manifesta-se um sentimento de perseverança. Em uma situação-limite, Joy decide que só irá sair do fundo do poço se investir em seu potencial como inventora. Já tendo criado uma coleira antipulgas com a qual não prosperou por não tê-la patenteado, Joy visualiza em um pequeno acidente doméstico a inspiração para desenvolver um esfregão que promete facilitar a vida de donas de casa como ela, uma ideia comprada com muita resistência por sua nova madrasta, a milionária Trudy (Isabella Rossellini), e Neil Walker (Bradley Cooper), diretor de um canal televisivo local destinado ao lançamento de novos produtos.
Ocasionalmente cômico, “Joy: O Nome do Sucesso” acerta principalmente com o cuidado em que narra a luta de sua personagem-título. As burocracias e as pressões familiares estagnam Joy sempre que uma oportunidade promete resultar em êxito, com Jennifer Lawrence trazendo em cena as frustrações a os sinais de esperança com uma empatia que somente as grandes atrizes podem corresponder.
“Joy” é também um ponto de equilíbrio para David O. Russell. Geralmente afeito a excessos, a sua condução aqui não apenas convida a nos conectarmos com os sucessos e fracassos de Joy, como também obtém alguma serenidade que se comporta quase como uma poesia em meio à tormenta. É como se traduzisse no sopro de flocos de isopor aquela chuva de neve que todos buscam para o final feliz de suas próprias fábulas.
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