sábado, 6 de fevereiro de 2016

RIHANNA – ANTI (2016)



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Sem EDM e dance, Rihanna dá dois passos para a frente com Anti (e ainda faz cover de Tame Impala)
Por Lucas Scaliza
Houve um tempo em que as pistas não ficavam sem material da Rihanna. Entre 2009 e 2012 ela lançou quatro álbuns e uma penca de singles que, não bastasse ganhar bastante repercussão, ganharam também remixes famosos que inundaram rádio, televisão e pistas de dança mundo afora. Ela contribuiu com as baladas e com o repertório da black music, nem sempre fazendo músicas realmente boas, mas sempre com um poder comercial bastante avantajado.
O hit “S&M” é de 2010. Não faz tanto tempo assim, mas de lá para cá a cantora mudou um pouco, fazendo a música carro-chefe do álbum Loud (2010) soar datada. E o que dizer de “Diamonds”, um de seus últimos sucessos do disco Unapologetic (2012), que ainda é forte nas pistas? Aliás, ouvimos tanto a versão remixada de “Diamonds” (mais acelerada, com batidas mais fortes) que nos esquecemos da delicadeza da canção original. Rihanna sempre foi sinônimo de “música para dançar”, canções encorpadas e cheias de som. Mas é hora de lembrar a versão original de “Diamonds”, pois Anti, seu novo disco, é uma recusa da pegada das baladas (dance music), dos ritmos bate estaca (EDM) e da ansiedade ultracomercial.
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Trocando em miúdos, Anti é para a discografia de Rihanna o mesmo que Revival para Selena Gomez: um passo na direção da maturidade artística e a exploração de uma musicalidade mais pura que coloca a sua voz em primeiro plano, não a produção de um DJ ou produtor famoso.
A abertura do trabalho fica por conta de “Consideration”, suas batidas saturadas e Rihanna apostando numa linha interpretativa próxima de MIA. Já deixa bem claro que não é um som para pistas e trabalha bem sua voz. “James Joint” começa falando de maconha com um R&B levado por teclas bastante suaves, música que não se define pela batida, mas sim pela harmonia. Momento mais Erykah Badu da carreira de Rihanna. É curtinha, mas reveladora. “Kiss It Better” é mais um R&B de respeito com direito a um solo de guitarra na introdução. Quando foi a última vez que uma guitarra fez a diferença para a Rihanna? Foi na faixa “Fool In Love”, a última da versão deluxede Talk That Talk (2011). Essa é uma das músicas que mais agradam em Anti, mostrando maturidade e competência técnica. Juntas, constituem uma trinca de boas canções que marcam muito bem o que a mulher de Barbados pretende: fazer músicas que não terminem como “S&M”, datadas, mas que sobrevivam ao tempo, às pistas e ao modismo radiofônico. Mesmo “Work” não sendo lá essa Coca-Cola toda, embora seja o single do álbum, com participação de Drake, segue essa recusa de ser fácil para a pista.
Há elegância na condução de “Desperado” e “Needed Me”, seja na voz ou nos efeitos eletrônicos. “Woo” é quando ela resolve enveredar por uma sonoridade mais alternativa. Rihanna já experimentou fora do pop outras vezes, mas em “Woo” ela realmente se expressa usando sons saturados e sintetizados. A base ainda é black music, mas nunca esteve tão longe do dance.
Taylor Swift e Ellie Goulding chegaram ao pop para valer apenas recentemente (a primeira em 2014 e a segunda no ano passado) e precisaram fazer discos encorpados, prontos para as pistas, para os clipes, exalando exuberância na produção e nas batidas, sem economia de recursos. Rihanna, por outro lado, foi criada nesse meio desde seu primeiro sucesso. E como lançou sucesso atrás de sucesso (de 2005 a 2012 só não lançou disco inédito em 2008), sentiu que era hora de se aprofundar mais na música. O lado comercial já estava garantido de qualquer forma (principalmente após fechar um contrato de US$ 25 milhões com a Samsung para divulgar a linha Galaxy da empresa). Portanto, Anti não é um passo para trás. São dois para a frente. É a primeira vez que um trabalho dela, do começo ao fim, exibe marcas de preocupação com a composição e busca soar diferente. Ainda que ela não carregue nas tintas, sentimos que músicas como “Yeah, I Said It” e “Pose” não se encaixariam com facilidade em seus trabalhos mais festivos. As vintages “Love On The Brain” e “Higher” são as músicas que ficariam ótimas com Leon Bridges, mas é Rihanna pagando tributo para o doo-wop dos anos 50 e o soul setentista.
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Para coroar isso tudo, uma linha de baixo muito característica anuncia “Same Ol’ Mistakes” que nada mais é do que um cover de “New Person, Same Old Mistakes”, a música que fecha oCurrents do Tame Impala. A canção de Kevin Parker tem mais de seis minutos, é alternativa demais para tocar em rádios, sendo um lado B total dos australianos. Pois foi essa que Rihanna escolheu para regravar. Senhores, nós vivemos para ver Rihanna fazer um cover do Tame Impala, banda que nem os fãs dela conhecem muito bem. Mas Rihanna conhece, essa é a questão. A versão dela respeita tudo que a original tem: o riff do baixo, os timbres dos teclados e sintetizadores, as batidas, pausas e até a voz Rihanna modula para conseguir o mesmo timbre suave de Parker. Fica a impressão de que ela poderia até ter colocado mais de sua própria personalidade na música, tamanha é a semelhança com a original no final das contas.
Se serve como easter egg, um sample de “Only If For A Night”, da Florence + The Machine, é usado, reusado, distorcido e cortado para criar a base de “Goodnight Gotham”.
Anti estava sendo desenvolvido desde 2014. A data de lançamento chegou a ser marcada para 31 de dezembro de 2015, mas Rihanna não conseguiu fechar o repertório a tempo. Nesse meio tempo, ela lançou três singles e NENHUM entrou no disco, nem mesmo o sucesso “FourFiveSeconds”. Aliás, uma série de composições ficaram fora do pacote final, incluindo contribuições de SiaGrimes, Tinashe e uma participação de Big Sean. Ao que parece, ela sabia o que queria e como queria.
Embora tenha tido ajuda de uma equipe de compositores e produtores, Rihanna está creditada como coautora em cada uma das 15 faixas da versão deluxe de Anti (exceção do cover, claro). Assim como Revival, de Selena Gomez, este é o disco que uma estrela pop comercial produz para mostrar que pode, sim, ser menos banal se assim quiser.
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