The Big Short, de Adam McKay
Curioso notar nesta atual temporada de premiações alguns cineastas mais inclinados à comédia americana de fácil êxito comercial enveredarem por caminhos mais sérios. Responsável pela trilogia “Austin Powers”, Jay Roach merecia ir além da indicação ao Oscar de Melhor Ator para Bryan Cranston com o seu ótimo “Trumbo – Lista Negra”. No entanto, o alvo da vez é Adam McKay, que garantiu ao seu “A Grande Aposta” cinco indicações ao maior prêmio do cinema.
Descoberto no televisivo “Saturday Night Live”, Adam McKay deve a sua carreira a Will Ferrell, que segue como um dos melhores comediantes da atualidade. Com ele, não fez apenas “O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy” e “Tudo Por Um Furo”, como também “Ricky Bobby – A Toda Velocidade”, “Quase Irmãos” e “Os Outros Caras”. São filmes que nem todos se orgulham em dizer que riram à beça e, por isso mesmo, vem a surpresa de sua direção em “A Grande Aposta” ser exaltada como uma das melhores do último ano.
Baseado em um livro assinado por Michael Lewis, “A Grande Aposta” não nega por nenhum momento o risco que está correndo ao lidar com um tema nada cinematográfico, fazendo sentido somente para quem tem o economês como segunda língua fluente. O subterfúgio foi justamente recorrer ao humor afável como a principal ferramenta para desfazer qualquer enrosco provocado quando algum personagem cita algum termo recorrente no vocabulário de quem vive para comprar ações ou atuar na Bolsa de Valores.
Não sabia que as hipotecas de alto risco são denominadas como subprime? Não se preocupe, Margot Robbie (sim, a loiraça de “O Lobo de Wall Street”, uma espécie de primo rico de “A Grande Aposta”) irá aparecer em uma banheira tomando uma taça de champanhe enquanto se dirige a você para explicar isso do modo mais simplificado possível. E CDO, também conhecido como Obrigação de Dívida Colateralizada, sabe o que é? Também não sei, mas juro que a Selena Gomez tenta descrever do modo mais didático possível durante um jogo de azar com o economista Richard Thaler.
Claro, estamos no cenário da crise econômica que levou inúmeros bancos a desabarem nos Estados Unidos como uma carreira de peças de dominó. No entanto, o texto se concentra nos bastidores que colaboraram para a bolha imobiliária inflar até o seu estouro em 2008, trazendo figuras que estavam muito cientes de tal consequência a partir da virada do último século. Entre eles, há Michael Burry (Christian Bale), um sujeito enclausurado em seu escritório, os jovens investidores Charlie Geller (John Magaro) e Jamie Shipley (Finn Wittrock) em busca do veterano Ben Rickert (Brad Pitt), e os corretores Mark Baum (Steve Carell) e Jared Vennett (Ryan Gosling).
Além do humor para refletir sobre uma tragédia bem séria e que segue repercutindo no mundo, Adam Mckay ainda tem como forte aliado o montador Hank Corwin, que confere um ritmo quase engraçadinho na junção de picotes de takes captados com uma estética de mockumentary, similar ao que vemos em seriados como “Parks and Recreation”. São na realidade muletas para tentar dinamizar algo que inevitavelmente sucumbe ao enfado. Melhor resolvido, “Margin Call – O Dia Antes do Fim” dramatiza o contexto de modo muito mais fluido, sendo também uma produção que merecia todos os louros agora recolhidos por “A Grande Aposta”.
fonte: http://cineresenhas.com.br/2016/02/24/resenha-critica-a-grande-aposta-2015/
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