Mr. Turner, de Mike Leigh
Nascido no século XVIII em Londres, Joseph Mallord William Turner encontrou na pintura um refúgio para uma adolescência solitária. De origem modesta, o talento lhe permitiu ingressar a Academia de Londres, saindo dela com a bagagem cultural que o faria retratar belas paisagens que o consolidariam como um dos expoentes do Romantismo, tendo como principal diferencial o estudo sobre a luz na pintura.
Embora Mike Leigh caracterize “Sr. Turner” como uma cinebiografia, o seu foco não está precisamente no método de trabalho de Will Turner, mesmo que Timothy Spall tenha se preparado durante dois anos para fazer jus ao papel. O seu interesse recaí não sobre o artista, mas sobre o homem por trás da obra.
Na composição de Spall, Will Turner parece uma alma presa a uma grande carcaça, movendo-se a passos lentos e que praticamente rosna diante de negativas e frustrações. É visto como um sujeito mimado terrivelmente abalado com o falecimento de seu pai (Paul Jesson), além de usar a sua serviçal (a excelente Dorothy Atkinson) como mero objeto para satisfazer o seu apetite sexual e de negligenciar a paternidade das filhas que sequer reconhece.
A abordagem pouco lisonjeira de Will Turner permite a audiência conhecer a intimidade de um artista eternizado por seus assuntos principalmente marinhos do que por sua conduta questionável. Por essa razão, Mike Leigh nem sempre reconhece essas duas faces como sendo a de um único indivíduo, inclusive pela ausência de Turner em um contato direto com aquilo que irá inspirar o seu próximo quadro. As exceções surgem somente quando o diretor de fotografia Dick Pope compreende o entorno da encenação para concatenar pequenos elementos com as pinceladas de Turner sobre a tela.
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