Hrútar, de Grímur Hákonarson
Ao julgar pelo recorte da cinematografia islandesa exibida no Brasil, o país nórdico deve mesmo corresponder ao modelo ficcional de um ambiente quase rural marcado pelo solo gélido e as relações interpessoais que flagram o sentimento de pertencimento a uma realidade parada no tempo. Essa avaliação será inevitável ao longo de “A Ovelha Negra”, o segundo longa-metragem assinado por Grímur Hákonarson.
Temos aqui Gummi (Sigurður Sigurjónsson) e Kiddi (Theodór Júlíusson), dois irmãos que não se falam há aproximadamente 40 anos obrigados a conviver em propriedades vizinhas. Não se sabe o que motivou a desavença e nem mesmo a paixão pela criação de um rebanho de ovelhas serve como um pretexto para reataram a relação. Ao contrário, pois um concurso anual que elege a melhor ovelha da comunidade apenas amplia a rivalidade entre os dois.
Na mais recente apuração, a ovelha de Gummi fica em segundo lugar, enquanto o primeiro é conquistado por Kiddi. Nem um pouco satisfeito, Gummi se infiltra no celeiro de Kiddi para avaliar o animal por conta própria, saindo de lá com a constatação de que ele contraiu a scrapie, uma doença infecciosa que ataca fatalmente o sistema nervoso de bovinos, caprinos e ovinos. A consequência desse diagnóstico será o abatimento de todos os rebanhos, bem como um comportamento agressivo de Kiddi contra Gummi.
Se o ponto de partida de “A Ovelha Negra” extrai graça com a rixa quase infantil entre dois ranzinzas nos seus 60 anos, o curso da história vai se tornando tão denso quanto a neve que se avoluma, ainda que ambos prossigam com subterfúgios para não manter um contato direto um com o outro, como quando Gummi usa o cão de Kiddi para lhe submeter mensagens escritas. E assim a narrativa prossegue até o seu ato final, onde vislumbra uma redenção com uma forte carga física e emocional.
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