O 3º disco – e um dos mais criativos – da banda que inventou o metal progressivo completa 20 anos
Por Lucas Scaliza
O que é?
Awake é o terceiro disco do Dream Theater, lançado em outubro de 1994; é o segundo com James LaBrie nos vocais e a última participação de Kevin Moore nos teclados da banda.
História e curiosidades
Em 1992, o Dream Theater entrou de vez no rol de bandas para se acompanhar. Afinal, tinham fundido de maneira magistral elementos do rock progressivo (alternância de compassos, longas composições, diversidade sonora e competência técnica) ao peso do heavy metal com o excelente segundo disco, Images and Words.
Embora a gravadora quisesse um disco mais metal, nos moldes da clássica-desde-o-nascimento “Pull me under”, o grupo acabou fazendo um disco que mantinha as características do rock progressivo (“Erotomania”, “Voices”) e do metal (“The Mirror”), mas que agregava influências do hard rock (como em “6:00”, “Innocence Faded” e “Caught in a Web”). Até uma balada acústica encontrou espaço no álbum (“The silent man”), um rock viajante (“Lifting shadows off a dream”) e uma linda balada ao piano (“Space-dye vest”).
Quando foi lançado, o disco chegou a 32ª posição do ranking da Bilboard, uma marca que só seria batida 13 anos depois, com Systematic Chaos (2007). Apesar de grande parte da crítica ter gostado de Awake, os singles não fizeram o mesmo sucesso que “Pull me under” – e a gravadora deles não gostou disso, é claro.
Mas o disco é um dos que melhor representa não apenas a técnica que tornou a banda tão conhecida, mas também a capacidade de misturar diferentes referências dentro de uma obra coesa e diversa. Embora usem as características da música rock que representam, nada emAwake soa como clichê ou como repetição. É um disco que não cansa de surpreender, alternando momentos mais intrincados a passagens acessíveis a qualquer ouvinte. A instrumental “Erotomania” é o maior exemplo disso.
É bom lembrar o ano (1994) e o país (Estados Unidos). Nesta época e neste lugar, as bandas de rock que estavam em alta eram do movimento grunge: Soundgarden lançava o incrívelSuperunknown, o Pearl Jam colocava Vitalogy no mercado, sem falar no acústico do Nirvana e o material do Alice in Chains. E Dookie, do Green Day, via a luz do dia para o grande público também. O rock progressivo, que sempre foi mais forte na Europa do que nos EUA, estava apenas começando a ganhar alguma atenção novamente. Mas Awake é tão bem feito e mescla tão bem o hard rock e o metal com o prog que as partes mais “progressivas” não soavam afetadas.
Kevin Moore se sentia cada vez mais distante dos outros membros da banda e escreveu a letra de “6:00” para falar sobre isso. A letra de “Innocence Faded”, escrita por Petrucci, é inspirada na situação em que sua amizade com Moore se encontrava: cada vez mais difícil de manter as coisas como eram. Eles se conheciam desde a infância.
As gravações de Awake ocorreram em um estúdio de Los Angeles. Quando o trabalho chegou ao fim, Kevin deixou a banda de vez (sendo substituído para a turnê e para o próximo álbum por Derek Sherninian) e voltou para casa, em Nova York. Ele vendeu muitas de suas coisas e o que restou ele empacotou e colocou tudo em seu carro e disse que ia sair de Long Island. Um dos empresários do Dream Theater quis saber para onde ele iria. Kevin respondeu: “Eu te digo quando chegar lá”. Ele não sabia para onde iria e saiu dirigindo pelo país.
Músicas e destaques
“6:00”: uma entrada de bateria de ritmo quebrado e uma energia hard rock incrível.
“Erotomania”: faixa complexa e instrumental com mudanças harmônicas e de compasso para deixar qualquer estudante aplicado de música e ritmo bem ligado. Ela funciona também como uma amálgama de melodias de todo o álbum, reinterpretando passagens de várias músicas deAwake.
“The Mirror”: principal representante do metal no disco, mostra a banda tocando de forma pesada e arrastada, encaixando passagens de teclado que emulam o rock sinfônico da década de 1970. A letra, do baterista Mike Portnoy, retrata seu problema com as bebidas. Uma faixa que está entre as melhores do disco e até mereceu uma homenagem dos Mamonas Assassinas.
“Scarred”: uma das faixas com crescendo mais épico do álbum. Uma mistura exemplar de progressivo, metal e hard rock. Assim como outras faixas do álbum, como “Voices” e a citada “Erotomania”, é uma canção que atesta a qualidade técnica da banda. A letra, do guitarrista John Petrucci, fala sobre depressão. James LaBrie acredita que essa música é um dos grandes momentos da banda, embora nem sempre seja a faixa mais lembrada do álbum ou do grupo.
“Space-dye Vest”: uma das melhores baladas que o Dream Theater já gravou até hoje. Uma composição de Kevin Moore, tecladista que deixou a banda no fim das gravações de Awake. Por se tratar de uma obra muito pessoal do músico (embora todos tenham contribuído com a letra), “Space-dye Vest” nunca foi executada ao vivo até 2014. Na atual turnê do disco Dream Theater(2013). Provavelmente só foi possível colocar a música no setlist porque Mike Portnoy, membro fundador da banda, deixou o Dream Theater. Em seu site oficial, ele diz em um FAQ que nunca tocariam “Space-dye Vest” ao vivo sem Kevin e que nem teriam colocado a canção no disco se soubessem que ele iria sair.
Passa no teste do tempo?
Sim. O Dream Theater ajudou a reviver o rock progressivo com Images and Words dando uma roupagem puxada para o metal e chegou ao ápice com Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory(1999). Há alguns anos eles vêm se repetindo, principalmente quanto à fórmula de suas músicas, e caindo tanto nos clichês do metal quanto nos da música progressiva. Embora continuem exímios músicos e façam shows excelentes, a composição vem perdendo a espontaneidade ao longo dos anos. Awake é o contrário disso: conseguiram se desvencilhar de amarras e de clichês. O disco soa orgânico e criativo, diferente do rock que se fazia na época e um passo à frente no que poderia ser o futuro do renascimento do prog.
O disco é um dos melhores da carreira de seus cinco músicos e da discografia da banda. Este ano, como comemoração aos 20 anos de Awake, o Dream Theater tem tocado as cinco últimas músicas do álbum na segunda parte do show.
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