Bridge of Spies, de Steven Spielberg
Se nos deixássemos influenciar somente pelo reconhecimento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, poderíamos afirmar com os olhos vendados que Steven Spielberg está em uma fase gloriosa em sua carreira. Porém, nos últimos dez anos, as obras com a sua assinatura podem ser divididas em duas categorias.
Na primeira categoria, temos grandes produções como “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” e “As Aventuras de Tintim” tremendamente desapontadoras em comparação com os seus clássicos que redefiniram o blockbuster. Na segunda categoria, há os dramas sérios como “Munique”, “Cavalo de Guerra” e “Lincoln” que são o pior do que se espera de um excesso de formalismo que tem como único objetivo a consagração artística em temporada de premiações.
“Ponte dos Espiões” é mais um Spielberg a figurar em mais uma edição do Oscar, totalizando menções em seis categorias, incluindo Melhor Filme. Ao menos desta vez, o vemos em um momento contido, um possível resultado da constatação de que os seus passos não foram os mais acertados ultimamente. Pode-se dizer que o principal mérito é o texto assinado por Matt Charman e os irmãos Coen, totalmente desprovido de brechas para o sentimentalismo barato.
Em outro grande momento após “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” e “Capitão Phillips”, Tom Hanks interpreta o advogado James B. Donovan, figura real que se envolveu em riscos durante a guerra fria ao agir em defesa de Rudolf Abel (Mark Rylance), desmascarado como espião da União Soviética. Porém, o seu principal desafio virá quando os russos anunciarem a captura do piloto Francis Gary Powers (Austin Stowell) ao mesmo tempo em que os alemães mantêm preso o estudante Frederic Pryor (Will Rogers).
Ainda que algumas pieguices de Spielberg sejam inevitáveis, como converter o filho de James, Roger (Noah Schnapp), em uma espécie de alter ego para representar a paranoia da época que reconstrói, existe um interesse genuíno em como o impasse será negociado pelo protagonista, migrando das ameaças dos americanos pelo seu zelo em manter a integridade de Rudolf para a sua presença em solo inimigo em busca de resoluções favoráveis para todas as partes. Outra saída de uma certa zona de conforto também é testemunhada com a primeira parceria de diretor com o compositor Thomas Newman, que entrega um trabalho musical tão encantador que o desejo é de John Williams se ausentar por mais algum tempo dos projetos spilbergianos.
FONTE: http://cineresenhas.com.br/2016/02/23/resenha-critica-ponte-dos-espioes-2015/
Foi uma estreia muito completa e agradável. Ponte dos Espiões marca o retorno de Steven Spielberg à boa forma e ao modo mais gostoso de se fazer cinema: com criatividade e amor pela arte. Como sempre, Hanks traz sutilezas em sua atuação. O personagem nos cativa, provoca empatia imediata graças a naturalidade do talento do ator para trazer Donovan à vida. Mark Rylance (do óptimo Filme Dunkirk ) faz um Rudolf Abel que não se permite em momento algum sair da personagem ambígua que lhe é proposta, ocasionando uma performance magistral, à prova de qualquer aforismo sentimental que pudesse atrapalhá- lo em seu trabalho, sem deixar de lado um comportamento espirituoso e muito carismático. O trabalho de cores, em que predominam o cinza e o grafite, salienta a dubiedade do caráter geral do mundo. Ponte dos Espiões levanta uma questão muito importante: a necessidade de se fazer a coisa certa, mesmo sabendo que isso vai contra interesses políticos ou de algum grupo dominante. A história aqui contada é baseada em fatos reais, mas remete também ao caso recente do ex-administrador de sistemas da CIA que denunciou o esquema de espionagem do governo americano em 2013 e foi tratado como um traidor, mesmo que tenha tido a atitude correta. É uma crítica clara à hipocrisia norte-americana, que trabalha sempre com dois pesos e duas medidas em se tratando de assuntos como esse.
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